Cidades

UnB volta às aulas nesta segunda em clima de eleição

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postado em 10/08/2008 08:20
Os alunos da Universidade de Brasília voltam às aulas nesta segunda-feira (11/08) e vão encontrar uma UnB diferente: o clima eleitoral já tomou conta da instituição. Depois da grave crise que derrubou Timothy Mulholland, nas salas e nos corredores dos departamentos, a escolha do novo reitor é o principal assunto entre estudantes, professores e funcionários. A mobilização em torno das eleições que vão escolher o sucessor do reitor pro tempore será grande. Depois de 15 anos de supremacia do voto dos docentes, a eleição volta a ser paritária. Assim, os três segmentos da universidade terão forças iguais para escolher quem ficará à frente de uma das mais importantes universidades do país pelos próximos quatro anos.

Essa nova distribuição de forças vai transformar o processo eleitoral. Em 2005, durante o último pleito, a participação de funcionários e principalmente dos alunos foi baixíssima. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) organizou um boicote às eleições, com manifestações pelo câmpus. Agora, essas categorias vão organizar campanhas para convocar a comunidade acadêmica a participar da votação.

O prazo para inscrição de chapas termina em 18 de agosto. O primeiro turno será em 17 e 18 de setembro e a segunda votação, em 24 e 25 do mesmo mês. Alguns pré-candidatos já despontam no cenário acadêmico. Os nomes mais fortes para a disputa são o professor de direito José Geraldo de Sousa, que deve ter o apoio da maioria dos funcionários, o professor de geologia Márcio Pimentel, que foi decano durante a gestão de Timothy Mulholland, o professor de engenharia Ivan Carmargo, que atuou na reitoria durante a gestão de Lauro Morhy, o professor de bioética Volnei Garrafa, que já participou da disputa em 2001.

Quem também já foi candidato e deve concorrer novamente é o professor de sociologia Michelangelo Trigueiro, além do professor de música Jorge Antunes. A professora de sociologia Lourdes Bandeira e o professor de antropologia Gustavo Ribeiro também devem participar das chapas. A confirmação de quem realmente vai concorrer, assim como os candidatos a vice, sairá na semana que vem.

Reivindicações
Na última sexta-feira (08/08), enquanto faziam ajustes nas matrículas, os alunos já antecipavam os debates sobre a escolha do novo reitor. A maioria demonstrou interesse pelo assunto. A estudante do 2; semestre de engenharia florestal Alessandra Gomes Batista, 18 anos, demonstrava uma consciência política forte, apesar da pouca idade. ;A UnB é dos alunos, o futuro da universidade está nas nossas mãos. Na última avaliação, apenas o curso de educação física recebeu a nota máxima. Precisamos cobrar do futuro reitor mais investimentos para melhorar a qualidade do ensino;, disse Alessandra.

O estudante de geologia Daniel Lopes Pego, 24 anos, acredita que a paridade fará com que os candidatos tenham maior interesse pelos alunos durante a campanha. ;Precisamos cobrar melhorias na Casa do Estudante, que está completamente abandonada. Moro lá e sei das dificuldades. Além disso, a UnB também precisa de obras nas instalações, principalmente no Minhocão;, destacou Daniel.

No Centro Acadêmico de Física, os alunos que circulavam no local após a matrícula já comentavam sobre as eleições. O presidente do CA, Rodrigo Maia Ledo, 21 anos, espera que a votação este ano seja mais organizada. ;Em 2005, as urnas estavam escondidas, ninguém sabia direito como fazer para votar. Mas acredito que este ano, com a paridade, os candidatos vão dar atenção especial aos estudantes.;

Entre os funcionários da UnB, a preocupação com o sucessor de Roberto Aguiar é grande. O sindicato que representa a categoria fez reuniões e decidiu não apoiar nenhum candidato. Apesar da neutralidade oficial, a maioria dos diretores do Sintfub vai apoiar a candidatura do professor de direito José Geraldo de Sousa Júnior. ;Quando nosso voto valia apenas 15%, ninguém se interessava pelas nossas reivindicações. Mas agora, todos os pré-candidatos já têm funcionários participando da campanha e tenho certeza de que todos vão buscar o nosso voto;, explica o diretor do Sintfub Luís Carlos de Sousa. ;A paridade vai ser muito importante para que tenhamos mais voz dentro da UnB e durante as eleições.;

As outras duas instituições que representam os segmentos universitários também prometem neutralidade. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Associação dos Docentes da UnB (AdUnB) vão entregar cartas de compromisso para serem assinadas pelos candidatos, mas não vão fazer campanha oficialmente para nenhum dos concorrentes.

O presidente da AdUnB, Flávio Botelho, explica que a entidade quer organizar debates com grande representatividade. Ele acredita que o futuro da universidade será o centro das discussões e que as críticas às gestões anteriores têm que ficar em segundo plano. ;Precisamos discutir a universidade que nós queremos, debater formas de melhorar o ensino e obter excelência em pesquisas. Nossa preocupação maior é identificar os problemas para construir um futuro melhor para a UnB;, destacou Flávio Botelho.

Justiça ainda estuda pedido de denúncia
O escândalo da cobertura de luxo de Timothy Mulholland acabou com a renúncia do ex-reitor, mas ainda não teve resultados concretos na Justiça. As duas ações propostas pelo Ministério Público estão em análise na 12; e na 21; Vara Federal do Distrito Federal, para que os juízes responsáveis decidam se acolhem ou não as denúncias. Para o MP, a demora faz parte do trâmite judicial. ;Estamos bastante seguros da condenação, já que a ação está muito bem amparada em provas;, afirma o promotor de Tutela de Fundações e Entidades de Interesse Social, Ricardo Antônio de Souza.

Em 8 de abril deste ano, o Ministério Público Federal, em parceria com o MPDF, denunciou Timothy Mulholland e o ex-decano de administração de sua gestão, Érico Weidle, por improbidade administrativa. Eles foram acusados de usar recursos destinados ao financiamento de projetos de pesquisa para mobiliar a cobertura funcional da 310 Norte. Foram gastos R$ 470 mil repassados pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) com a compra de mobiliário de luxo e equipamentos eletrônicos de ponta. O item que causou maior polêmica foi uma lixeira de quase R$ 1 mil ; que se tornou o símbolo da crise em que a universidade mergulhou após o episódio.

Na ação, o MPF e o MPDF pediram o ressarcimento de todos os gastos aos cofres públicos, a perda de direitos políticos por cinco anos, a proibição de fazer contratos com o poder público, além do pagamento de indenização por danos morais.

A outra ação contra Timothy é penal. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Federal em 3 de julho. Também foram denunciados o ex-diretor da Editora UnB Alexandre Lima e dois ex-funcionários da editora: a ex-coordenadora de projetos da editora Elenilde Duarte, e Cláudio Machado. Eles são acusados dos crimes de peculato e formação de quadrilha. Se condenados, poderão receber pena de até 27 anos de reclusão, além de multa.

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