Cidades

Número de carteiras de motorista cassadas em 2008 é o menor em sete anos

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postado em 12/08/2008 07:54
A quantidade de carteiras nacionais de habilitação (CNHs) cassadas no Distrito Federal despencou. Nos sete primeiros meses de 2008, apenas 12 motoristas perderam o direito de dirigir. É o menor número de cassações dos últimos sete anos. Representa uma queda de 75,5% em relação aos casos registrados no mesmo período de 2007, quando 49 condutores ficaram inabilitados por um período de dois anos. Para o diretor-geral do Departamento de Trânsito do DF, Jair Tedeschi, a explicação é que o brasiliense cometeu menos infrações que levam ao cancelamento da CNH, como, por exemplo, ser pego ao volante com o documento suspenso (veja arte). ;Isso é reflexo de três coisas: maior rigor na fiscalização, campanhas educativas e a ampla divulgação feita pela mídia. O motorista está mais consciente. Não tenho outra explicação;, comentou. Ouça a entrevista com o diretor-geral do Detran, Jair Tedeschi: Tedeschi detalha que não houve alteração significativa no número de processos analisados pelo órgão. De janeiro a abril deste ano foram 2.057 (5,5% a mais do que em 2007, com 1.949 casos julgados). ;Se fosse muito menor (o número de processos), poderíamos pensar que ainda tinha muitos casos pendentes para serem avaliados. Mas, como a média se manteve, a explicação que eu consigo encontrar é que o condutor está mais cauteloso, felizmente;, reforçou. Envergonhado, o administrador de empresas Juliano*, 42, conta que teve o documento cancelado porque foi pego em uma blitz quando dirigia com a CNH suspensa. Ele acumulou mais de 20 pontos no período de um ano e desrespeitou a punição de ficar quatro meses sem pegar o volante. ;Olha, eu errei. Vou ter que pagar por isso. O jeito será ajustar os horários da família para que a minha esposa me leve e pegue no trabalho ou pagar táxi;, resignou-se. Juliano só voltará a dirigir daqui a dois anos. Para reconquistar o direito de assumir o volante, terá de refazer todo o processo de obtenção da CNH, como se fosse tirar o documento pela primeira vez. Ou seja, primeiro fará os exames médicos; depois, aula teórica em um centro de formação de condutores; prova teórica; as 15 aulas de prática de direção; prova prática e, se aprovado, receberá uma permissão para dirigir com validade de um ano. Nesse período, não poderá cometer nenhuma infração gravíssima. Só depois receberá o documento definitivo. ;Não gosto nem de pensar nisso. Mas o governo está fazendo o papel dele. Eu errei e estou sendo duramente punido;, concluiu. Especialista em educação no trânsito, o sociólogo Eduardo Biavati não tem dúvida de que a punição rigorosa e rápida é o caminho para reduzir as tragédias nas vias. Para ele, agilizar a aplicação das punições previstas no Código de Trânsito Brasileiro é o grande desafio dos detrans do país. ;Dirigir é ter passe livre. Se a suspensão da CHN fosse mais rápida, haveria uma correria e uma chiadeira sem fim. Mas seria altamente pedagógico;, defendeu. ;É claro que nem todas as infrações levam a acidentes. Mas é muito difícil você ter um acidente grave de trânsito que não foi precedido de várias infrações;, destacou. Suspensões Ao comparar os dados das suspensões de CNHs, percebe-se o aumento de 9,7% dos casos nos sete primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2007. Em 2008, o Detran suspendeu 1.055 carteiras. Foram 961 no mesmo período de 2007. Além de apontar o maior rigor e a intensificação das blitzes, Jair Tedeschi atribuiu o acrescimento das suspensões ao mutirão dos servidores para tirar das ruas os motoristas com o maior número de pontuação na carteira. ;Além disso, a lei seca é um fator relevante;, pontuou. O empresário Jurandir da Costa e Silva, 29 anos, está no primeiro caso: acumulou 231 pontos na carteira. É 11 vezes e meia mais do que o tolerado pelo Código de Trânsito Brasileiro antes de punir o motorista com a suspensão do direito de dirigir. ;É bastante;, reconhece o morador do Lago Sul. ;Tenho vários carros em meu nome: o meu, o do meu pai, o da minha mãe e os dos irmãos. Eles cometeram infrações e não transferi a pontuação;, justificou. A explicação para tantas infrações não convenceu a junta de análise de processo do Detran. Ele teve de voltar para a sala de aula e reaprender as regras de trânsito, os direitos e deveres dos motoristas. Mas, para Jurandir, a pior de todas as punições é ficar sem dirigir por 30 dias. ;Tirar o meu direito de dirigir é arrancar as minhas duas pernas;, comparou. O funcionário público Ricardo Maciel, 30 anos, é habilitado há 10 e, pela primeira vez, teve a carteira suspensa por acumular 20 pontos em infrações. ;É muito difícil ficar sem carro. Especialmente em Brasília, onde o transporte público é ruim;, reclamou ele, que mora em Sobradinho e trabalha na Esplanada dos Ministérios. Educação Apesar do balanço positivo do diretor do Detran, no Distrito Federal existem pelo menos 29 mil condutores na fila para terem as habilitações suspensas ou cassadas. O órgão tem feito mutirões para acelerar a análise dos processos. Em entrevista ao Correio, o governador José Roberto Arruda afirmou que esse é um problema que ele quer ver resolvido rapidamente. Assim como quer mais agentes nas ruas. Para o professor aposentado da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Gildo Scalco, tão importante quanto a punição são a formação e a educação do motorista. A educação para o trânsito tem de fazer parte da vida do cidadão e deve ser contínua. Scalco defende mudanças na forma de ensino dos centros de formação de condutores e a inclusão da disciplina no currículo de escolas públicas e privadas. ;Os educadores, sejam de auto-escolas ou nas instituições de ensino, devem trabalhar com a concepção da educação e não com foco na proibição prevista em lei;, sugeriu. * Nome fictício a pedido do entrevistado

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