postado em 15/08/2008 07:01
Vilma Martins Costa pode ganhar a liberdade condicional a partir desta sexta (15/08). Se isso ocorrer, ela terá cumprido apenas cinco dos 15 anos e 9 meses de cadeia aos quais foi condenada por falsificação de documentos públicos e pelos seqüestros dos bebês Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva e Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho.
A ex-comerciante passou dois anos e sete meses atrás das grades, no complexo penitenciário de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital de Goiás. O restante ela permaneceu na Casa do Albergado, no Centro de Goiânia, graças a benefícios concedidos pela Justiça. Com a condicional, Vilma poderá morar onde quiser.
Em caso de mudança de endereço, a seqüestradora terá apenas que comunicar o destino à Justiça goiana. Na condicional, ela também precisará assinar uma lista de presença, a cada dois meses, no fórum da cidade onde fixar residência. Mas não será obrigada a trabalhar. Só perderá o benefício caso quebre uma dessas regras ou cometa outro crime.
Os advogados da Vilma entraram com o pedido da condicional ontem, na 4ª Vara de Execuções Penais de Goiânia. O juiz Wilson Dias espera o posicionamento do Ministério Público e um relatório da Casa do Albergado, onde ela cumpria pena em regime aberto, para tomar a decisão. ;Se ela não descumpriu nenhuma norma, tem tudo para conseguir o benefício;, adiantou Dias.
Caso não receba os documentos do MP e da Casa do Albergado hoje, o magistrado dará seu parecer no começo da próxima semana. ;Assim que tiver todas as informações, vou marcar uma audiência com a dona Vilma para explicar tudo a ela. Isso ocorrerá, no máximo, até terça-feira;, comentou o juiz. Os advogados dela não foram encontrados para entrevista.
Vilma ganhou o direito ao regime aberto em 20 de junho último. Pelas normas judiciais, ela deveria manter endereço fixo e, em caso de mudança, avisar antecipadamente a Vara de Execuções Penais. Também teria que dormir na Casa do Albergado, onde chegaria todos os dias até as 21h e poderia sair às 6h. Embora não fosse obrigada a trabalhar, caso tivesse um trabalho, a atividade deveria ser lícita.
Era exigido ainda que a ex-comerciante tivesse bom comportamento social e familiar, não bebesse, não portasse armas, não viajasse sem autorização judicial, atendesse com rapidez eventuais requisições judiciais e não cometesse crimes. Qualquer incidente não justificado poderia ocasionar a regressão do regime.
Confusões
Vilma conquistou o regime aberto por ter cumprido um sexto da pena no semi-aberto. Além disso, não cometeu falta grave por 12 meses. Mas, há pouco mais de um ano, ela se envolveu em uma série de infrações, como os atrasos em se apresentar após várias saídas temporárias e nos períodos em que deixou o albergue para tratamento médico.
Uma das mais recentes confusões protagonizadas por Vilma ocorreu em 9 janeiro de 2007. Na época, ela deixou a Casa do Albergado para ser internada no Hospital São Bernardo, em Aparecida de Goiânia. Em uma blitz no quarto da seqüestradora, funcionários da Secretaria de Segurança Pública de Goiás encontraram alimentos não recomendáveis a hipertensos ou diabéticos, como ela. Na lista das guloseimas havia geléia, bolo de coco, biscoito de chocolate, refrigerante, maionese, açúcar e churrasco.
Durante a internação, Vilma também foi acusada de jogar no lixo parte dos remédios receitados pelos médicos. Em represália às irregularidades e como punição disciplinar, Vilma acabou transferida para um leito na enfermaria da Casa de Prisão Provisória (CPP) ; no maior complexo prisional de Goiás ;, onde continuou recebendo tratamento médico.
Na última fase da pena, de volta à Casa do Albergado, Vilma passou a dividir a cela com 10 detentas ; o espaço é para seis pessoas. Desde então, ela dorme em beliche. Devido ao estado de saúde, usa cadeira de rodas para se locomover. São as colegas de quarto que a colocam e a tiram da cadeira quando a seqüestradora levanta e vai dormir. Vilma tem freqüentes alterações da pressão arterial. Por causa disso, às vezes é levada a um posto de saúde do bairro onde fica a Casa do Albergado.
Geralmente, a ex-comerciante só é visitada por uma irmã e por Roberta Jamilly, 29 anos. A jovem ganhou esse nome de Vilma, que a criou como se fosse filha legítima. Até ser levada de uma maternidade de Goiânia, horas após nascer, Roberta se chamava Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva.
MEMÓRIA
Crimes em série
Pedrinho foi levado da maternidade do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, em janeiro de 1986. Mas o paradeiro do jovem e a história da mulher que o seqüestrou só foram descobertos em novembro de 2002. Vilma Martins registrou o bebê como seu filho em Goiânia e o batizou de Oswaldo Martins Borges Júnior, mesmo nome do homem que o criou como filho legítimo e morreu em decorrência de um câncer um mês antes de a polícia do DF encontrar o garoto.
Em 1979, Vilma participou do seqüestro de outro recém-nascido. Ela registrou como filha legítima Aparecida Fernanda Ribeiro, dando-lhe o nome de Roberta Jamilly. A menina foi roubada em uma maternidade de Goiânia e levada para o interior do estado, onde Vilma simulou um parto para enganar o industrial goiano Jamal Rassi, que ela dizia ser o pai da menina.
Após a descoberta das duas farsas ; a de Roberta veio à tona em janeiro de 2003, por meio de um exame de DNA ;, Vilma foi presa. Acabou condenada pelo envolvimento nos dois seqüestros e na falsificação de procurações que lhe davam amplos poderes sobre os filhos de criação. Ela ficou detida na Casa de Prisão Provisória, em Aparecida de Goiânia, por dois anos e sete meses. Desde dezembro de 2005, cumpre pena na Casa
do Albergado, na capital
de Goiás.