postado em 15/08/2008 08:03
A Universidade de Brasília (UnB) entrega nesta sexta-feira (15/08) as chaves de 15 imóveis de luxo da instituição à Caixa Econômica Federal (CEF). Todos poderão ser leiloados, inclusive o apartamento duplex da 310 Norte ocupado pelo ex-reitor Timothy Mulholland até o começo deste ano. A decoração da cobertura custou R$ 470 mil e foi paga pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), com dinheiro que deveria ser destinado a pesquisas acadêmicas, segundo o Ministério Público.
A CEF ficará responsável pela avaliação e pelo leilão de todos os imóveis de luxo da UnB que serão colocados à venda. A equipe do banco vai checar quais apartamentos se encaixam nesse padrão. A princípio são 15, mas a reitoria quer saber se há imóveis danificados e sem conservação, que não podem mais ser classificados como de luxo.
A direção da UnB pretende aplicar melhor o dinheiro proveniente de seu patrimônio. Uma cobertura, por exemplo, pode ser alugada por R$ 6 mil, mas a Secretaria de Gestão de Patrimônio tem dificuldade de alugar imóveis caros, cujas taxas de condomínio podem chegar a R$ 2 mil. A CEF também fará um estudo para sugerir que imóveis a UnB deve manter e quais deverão ser vendidos.
A UnB é a maior proprietária de imóveis do DF. São 1,5 mil apartamentos funcionais ou alugados, além de 200 salas comerciais e 26 terrenos na Asa Norte. Esse patrimônio pode chegar a R$ 1 bilhão. O aluguel de imóveis a funcionários, com desconto de até 50% ou a preço de mercado, rende à universidade cerca de R$ 15 milhões por ano.
O convênio entre a UnB e a CEF será assinado às 11h, no Salão de Atos do prédio da reitoria, pelo reitor temporário Roberto Aguiar e pela presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho. O protocolo de intenções prevê nove itens de cooperação entre as duas instituições. Entre eles, além da avaliação e alienação de apartamentos, há o desenvolvimento de estudos para manutenção e preservação de seus imóveis e oferta de cursos de graduação e de pós-graduações para profissionais da CEF.
Escândalos
A idéia de pedir ajuda à CEF na gestão do patrimônio imobiliário da UnB surgiu após a série de escândalos que culminaram na saída de Mulholland da reitoria da universidade. A crise na instituição de ensino superior começou com a repercussão negativa da decoração do imóvel funcional ocupado pela ex-reitor. Pouco depois da denúncia do MP, ele deixou o apartamento, em 12 de fevereiro.
Mulholland e o decano de Administração, Érico Paulo Weidle, foram denunciados à Justiça Federal por improbidade administrativa em março. No mesmo mês, o então reitor renunciou ao cargo, um dia após o vice-reitor, Edgar Mamiya, tomar a mesma decisão. Roberto Aguiar foi nomeado reitor temporário. Em 5 de abril, anunciou que a Controladoria-Geral da União (CGU) faria auditoria nas contas da UnB e das fundações de apoio da universidade, como a Finatec.
A Caixa vai indicar se o imóvel ocupado pelo antigo reitor será vendido com ou sem a mobília milionária, mas a tendência é leiloar o apartamento com todos os móveis e utensílios incluídos. Os luxos do apartamento 603 do Imperial Quartz, na 310 Norte, foram revelados pelo Correio em reportagem publicada em 21 de maio. Até então, nenhuma equipe de jornalismo havia visitado a cobertura.
A equipe do jornal entrou nos 16 cômodos dos 400 metros quadrados de construção. E registrou que o apartamento guarda eletrodomésticos e utensílios para as mais refinadas recepções. Dispõe de ambientes para o lazer e conforto das mais exigentes famílias. Conta, entre outras coisas, com área completa para churrasco e um spa, que tem piscina de água quente e sauna para 12 pessoas.
Lixeiras do reitor
As lixeiras que somam R$ 3 mil, o saca-rolhas de R$ 859, os dois faqueiros de R$ 4 mil, entre outros itens, estavam em caixas, dentro de armários, também novos e modernos. Após subir uma escada de madeira nobre no interior do apartamento, havia uma sala mobiliada para servir como um minicinema. Sofás e cadeiras confortáveis para até 10 pessoas.
Na parede, uma TV de 42 polegadas. Os filmes, Mulholland assistia em uma tela de cinema moderna, que aparecia sobre a TV após ser acionada por controle remoto. Equipada com sofisticado sistema de áudio, toda a aparelhagem custou R$ 36,6 mil. Após a sala de cinema, fica a área de churrasqueira e o spa. No terraço, os toldos de R$ 10,4 mil evitavam maiores danos ao conjunto de R$ 19 mil, formado por mesas, espreguiçadeiras, cadeiras e namoradeiras, que compõem o espaço destinado a churrascos.