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Reformas na Catedral Metropolitana de Brasília devem começar em novembro

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postado em 20/08/2008 14:43
Quatro sinos de ferro gigantes e imponentes estão mudos há mais de quatro meses. A última vez que o toque metálico foi escutado pelos fiéis ocorreu na semana santa. Cerca de 200 vitrais coloridos que formam desenhos com linhas que separam as imagens estão destruídos. As pedras brancas de mármore do interior do templo estão rasgadas por traços disformes e pretos. O tempo e o esquecimento desgastaram as obras de arte e a própria Catedral Metropolitana de Brasília. O que no cartão-postal é um dos pontos turísticos de Brasília, se apresenta hoje como um esboço do abandono. Mas a maior e mais bela obra instalada no coração da capital federal do país, em breve, voltará a exibir a inspirada arte de Oscar Niemeyer e outros artistas. Quando a cidade completar 50 anos, em 2010, a promessa oficial é que a Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida estará completamente revitalizada. E bem cuidada ; como deve ser o local eleito em julho deste ano como a primeira Maravilha do Patrimônio Cultural e Material de Brasília. Espaço por onde fiéis e turistas passeiam por entre obras artísticas de expressivos artistas brasileiros, a Catedral é um dos mais importantes feitos do arquiteto Oscar Niemeyer. E estava esquecida. Com infiltrações no teto que hoje provocam bolhas no revestimento das paredes e partes da cúpula, rachaduras no piso. O verde espelho d;água, está tomado por lodo. Os vitrais internos de Marianne Peretti, trincados pelo calor do sol e pelo frio da noite brasiliense. Os quatro sinos do campanário estão quebrados. Mas se aproxima o calendário de reconstrução do templo, anunciado ontem como uma obra que custará cerca de R$ 25 milhões e que estará concluída antes do aniversário de 50 anos da capital, em abril de 2009. O monsenhor Marcony Ferreira, pároco da igreja, lembrou que o projeto original de Niemeyer ainda não está pronto. ;Falta construir a Capela Santíssimo Sacramento;, lembrou ele. Improviso A capela será erguida ao lado do local para batizados. Ali serão guardadas as hóstias consagradas e também receberá os fiéis. As missas de hoje reúnem os brasilienses de forma improvisada na cripta ; onde estão enterrados os bispos. O espaço superior é reservado para os grandes eventos religiosos como casamentos e formaturas. ;Estamos muito confiantes de que a Catedral estará pronta para os 50 anos da cidade. Essa atitude é uma resposta à população de Brasília. Os brasilienses reclamam e pedem por melhorias porque muitos acham que nossa igreja está abandonada. E nós sobrevivemos da contribuição dos fiéis para a manutenção;, completou o monsenhor. O calendário tão aguardado das obras ficará assim: em setembro sai o edital de licitação da obra. E em novembro pelo menos 300 trabalhadores começarão a trabalhar na igreja para fazer dela, novamente, um orgulho da capital. ;A obra será realizada por etapas para que a Catedral não precise fechar um dia sequer;;, disse o vice-governador, Paulo Octávio. A Fundação Ricardo Franco, do Rio de Janeiro, responsável pela recuperação do Palácio da Alvorada, também coordenará a obra da Catedral, custeada pelo governo local e a Petrobras. Todo o projeto será acompanhado de perto pelo Ministério da Cultura e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Na lista de prioridades está tudo o que ficou velho e estragado. A parte administrativa e a secretaria serão criadasm, já que hoje funcionam em local improvisado. O monsenhor ganhará uma sala para atender os fiéis da Catedral. Hoje, as conversas ocorrem na sacristia, que será ampliada. ;Ela foi construída pensando-se em Brasília com 500 mil habitantes no ano 2000. Hoje passamos de 2 milhões;, justifica o monsenhor. Artistas Os três banheiros femininos e três masculinos, originalmente criados para atender os funcionários, são os únicos públicos no perímetro da Esplanada dos Ministérios. Os vitrais externos receberão vidros especiais para diminuir em até 50% o calor que chega a 70ºC durante os dias de sol e 8ºC à noite. Os vitrais da artista plástica Marianne Peretti vãoser retirados das molduras metálicas e em seguida recuperados sem modificar em nada os originais. O espelho d;água vai passar por impermeabilização para conter as infiltrações. Os sinos voltarão a tocar com a instalação de um sistema eletrônico moderno. Os cabos de aço que sustentam os anjos erguidos no interior do templo serão trocados. As reformas eram esperadas desde 1999, quando foram realizada pequenos reparos emergenciais. Mas, desde 2006 a Petrobras havia sinalizado que ajudaria a ;reerguer; a igreja. O acordo firmado ontem com o governo local selou a obra de revitalização que irá perpetuar a história do monumento, inaugurada em 31 de maio de 1970. História Assim como a reforma demorou para chegar, a construção da igreja levou tempo. Foram mais de 10 anos desde que sua pedra fundamental foi lançada em 12 de setembro de 1958. No mais, o espaço tornou-se uma das obras mais admiradas de Niemeyer e um marco da arquitetura e engenharia brasileiras. Na praça de acesso ao templo, estão as quatro esculturas em bronze de 3m de altura representando os evangelistas, produzidas em 1968 com o auxílio do escultor Dante Croce. No interior, os três anjos ; do artista mineiro radicado em Brasília Alfredo Ceschiatti, conhecido por criar obras para decoração de prédios projetados por Niemeyer ; feitos em 1970, são suspensos por cabos de aço. O batistério ; local onde são realizados os batizados ; em forma ovóide teve em suas paredes o painel pintado em 1977 por Athos Bulcão. O Campanário possui aqueles quatro grandes sinos e que foram doados pela Espanha. Marianne Peretti é a responsável pelos vitrais coloridos que serão protegidos contra o sol. Nascida em Paris, filha de pai pernambucano, Marianne mudou-se para o Brasil em 1956. E seus vitrais da Catedral são considerados um de seus mais expressivos trabalhos ao lado de Niemeyer. São dois mil metros quadrados de obra. O altar foi doado pelo papa Paulo VI e os painéis representado a via-sacra foram pintados por Di Cavalcante ; um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo. Na entrada, há um pilar com passagens da vida de Nossa Senhora pintadas por Athos Bulcão. Tudo desenhado, esculpido, pintado e erguido para celebrar o nascimento da nova capital. E que tudo seja refeito tal qual antes para que assim seja comemorado o meio século de vida da cidade que lhe serve de palco.

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