Cidades

Unesco recebe denúncia de alterações no plano urbanístico de Lucio Costa

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postado em 22/08/2008 08:35
Brasília ainda não corre o risco de perder o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido em 1987 pela Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (Unesco). nessa quinta-feira (21/08) o representante do órgão no Brasil, o belga Vicent Defourny, esteve reunido com o Conselho de Preservação da sede brasiliense do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil e discutiu as agressões ao plano urbanístico original de Lucio Costa. Modificações arquitetônicas pontuais na área tombada não são grandes ameaças, mas a alteração de pontos que levaram ao reconhecimento da capital como patrimônio mundial pode ser motivo de preocupação. A capital brasileira é uma das cidades listadas pela Unesco em melhor estado de conservação segundo a coordenadora cultural do escritório da Unesco em Brasília, Jussara Machado, que acompanhou Defourny no encontro. ;Arquitetos e outros estudiosos da Unesco que vêm à cidade pesquisar ficam maravilhados em encontrar o Plano Piloto nos moldes em que foi projetado;, afirma ela. ;Mas isso não quer dizer que não se deve proteger o patrimônio agora. A degradação pode ser muito rápida se fecharmos os olhos;, completa. Críticas Os conselheiros, liderados pelo médico Ernesto Silva, pioneiro em Brasília e ex-diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), demonstraram preocupação com a possibilidade de a cidade perder o título. ;A chamada Lei dos Puxadinhos, por exemplo, desvirtua a cidade, permite a legalização da ilegalidade;, reclamou, referindo-se ao esforço governamental para controlar a expansão dos comércios. ;Temos uma porção de leis que desrespeitam a cidade e seu plano original. Às vezes parece que estamos sozinhos lutando contra isso;, complementa. O representante da Unesco disse que só há um risco para Brasília entrar na lista negra da Unesco: se a cidade destruir seus ideais modernistas. ;Os sítios são inseridos nela (na lista) quando os elementos que justificaram sua inscrição estão em perigo;, explica Defourny. O Parque Nacional Everglades, na Flórida, Estados Unidos, foi dado como exemplo de patrimônio que esteve em perigo. ;A especulação financeira, sobretudo imobiliária, estava prejudicando a natureza. Depois que o colocamos na lista de risco os problemas foram resolvidos pelo governo;, conta o representante da Unesco, sinalizando que o mesmo pode acontecer com Brasília. ;Por isso peço aos brasilienses que continuem se esforçando para proteger a cidade, porque isso não é apenas papel do GDF;, conclui. Motivos de preocupação Uma missão oficial da Unesco esteve em Brasília durante 10 dias, em novembro de 2001, para analisar as denúncias de um relatório produzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e enviado à sede da instituição, em Paris, em abril daquele ano. O título de patrimônio mundial estava em perigo por causa das agressões sofridas no decorrer dos anos nas quatro escalas de Lucio Costa ; bucólica, gregária, residencial e monumental. Os maiores desvios citados se encontravam na área residencial. Brasília, com 41 anos, estava a caminho de se tornar uma cidade grande. A quantidade de veículos em circulação havia aumentado, as quadras comerciais haviam ganhado puxadinhos, outdoors foram espalhados pelas ruas, coberturas de prédios foram ocupadas e pilotis, fechados. A situação preocupava os conservadores. Mas os especialistas da Unesco concluíram que as alterações eram apenas motivos de alerta e resolveram não incluir a cidade na lista de risco. Uma visita oficial pode acontecer novamente a pedido de instituições brasileiras ou se o escritório da Unesco perceber o perigo. Até hoje nenhum dos sítios ; antigos ou modernos ; agraciados com o título de patrimônio da humanidade perdeu a honraria.

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