postado em 27/08/2008 08:43
Uma carreta de 2,5m de largura com grades e temperatura elevada foi a moradia de 17 animais do Le Cirque ; dois camelos, duas lhamas, duas girafas e 10 pôneis e uma zebra ; por 10 dias, desde que saíram de Brasília. A última jornada, de Campo Grande (MS) para a capital, após decisão judicial que determinou a volta dos animais do circo para o Jardim Zoológico, durou 35 horas. O pouco espaço ; que fez com que muitos animais não tivessem sequer condições de se mexer durante a exaustiva viagem de mais de mil quilômetros ; provocou a primeira perda. Na madrugada de segunda para terça-feira um dos pôneis morreu. A causa ainda não foi divulgada.Desembarcaram também dois elefantes e um hipopótamo, em três carretas.
Mesmo sem saber a razão da morte do animal, a demora em sua retirada do caminhão após a longa jornada e a forma como ele foi transportado podem ter contribuído para o triste fim. Segundo informações do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o pônei fez a viagem em um espaço de 2,86m de comprimento por 2,5m de largura com outros cinco pôneis e uma zebra. Apesar de os bichos terem chegado a Brasília no domingo, os agentes do Ibama e funcionários do zoológico só conseguiram retirá-los na segunda-feira à tarde.
Doenças
;Os donos do circo não cooperaram, eles enrolaram muito dizendo que tinham perdido a chave da carreta e dando outras desculpas. Além disso, os outros animais estavam na frente e precisaram ser retirados primeiro. Os espaço era tão pequeno que eles não podiam nem se mexer;, relatou o coordenador de operações do Ibama, Roberto Cabral.
Veterinários do zoológico e Ibama realizaram uma avaliação clínica detalhada do animais. A saúde da camela Xuxa preocupa. De acordo com Roberto Cabral, exames comprovam que ela sofre de desidratação, anemia, insuficiência renal e acidose lática. Na tarde de ontem, homens do Corpo de Bombeiros estiveram no zoológico para levantá-la com um guindaste de modo que ela possa receber o tratamento. Xuxa também está recebendo soro para ajudar no quadro de desidratação.
Além do pouco espaço, a estrutura das carretas utilizadas para o transporte, em aço, faz com que os animais fiquem sujeitos à insolação durante os deslocamentos de uma cidade para outra. O Ibama também investiga o que aconteceu com um babuíno que se apresentou na cidade com o circo em 2006. ;Fomos informados da morte desse animal e solicitamos o laudo da necropsia para saber o que a provocou;, disse Cabral.
Segundo informações do Ibama, os animais também eram submetidos a maus-tratos durante o treinamento para as apresentações. ;Há relatos dos próprios treinadores do circo onde eles contam que uma das formas de conter o elefante era dar pancadas na pata, na inserção da unha. Esse é o espetáculo que a população não vê;, contou.
O zoológico ainda aguarda a chegada de dois animais de propriedade do Le Cirque. O elefante Chocolate deve chegar hoje à noite na cidade. Ele vem acompanhado do rinoceronte, com quem divide uma carreta. O animal foi impedido de vir para Brasília em razão de um machucado na pata. Em Campo Grande (MS) recebeu tratamento com antiinflamatórios.
O advogado do circo, Luiz Saboia, acredita que a morte do pônei é apenas a primeira e culpa os agentes do instituto. ;O que aconteceu foi assassinato. Esses animais sempre foram bem tratados e vamos provar. Temos laudos de 17 regionais do Ibama dizendo que não existem maus-tratos no circo. Vou responsabilizar esses agentes pela morte do animal. Os elefantes também estão sofrendo porque eles estão acostumados a ficar embaixo de uma lona e não a céu aberto nesse clima quente e seco de Brasília;, relatou.
Comportamento
A alegria com o novo lar é perceptível. Os elefantes , instalados confortavelmente em uma área ampla não escondem a felicidade. Não se cansam de brincar com a água e com a terra do espaço antes ocupado pelo tamanduá bandeira. Não é para menos: na antiga casa eles tinham que viver e conviver em um espaço de 57m² para cada um.
Em outro canto, próximo ao borboletário, duas girafas começam a se acostumar com a nova realidade ; ostentar com orgulho os quase 5m de altura. O espaço preparado especialmente para elas oferece alimentação balanceada farta e muita água. Antes, os animais conhecidos pelos longos pescoços tinham que ser transportados em um espaço com cerca de quatro metros. ;Eles não conseguiam levantar, ficavam curvados, olhando para baixo. Quando questionávamos o transporte eles informavam que havia uma alavanca hidráulica para abrir o espaço, mas que ela estava quebrada;, contou Cabral. As lhamas e a zebra também aproveitam ao máximo a moradia. A brincadeira é rolar na areia no espaço onde estão instaladas. Aquilo que nunca puderam fazer.
MEDIDAS DO ABSURDO
Como os animais eram transportados pela empresa de espetáculos circenses
1,91m de comprimento x 2,5m de largura ; 2 lhamas e 4 pôneis
4,10m de comprimento x 2,5m de largura ; 2 camelos
3,28m de comprimento x 2,5m de largura ; 2 girafas
2,84m de comprimento x 2,5m de largura ; 6 pôneis e uma zebra
Como eles viviam
Chimpanzés ; entre 2, 25m² e 3,75m²
O recomendado ; 60m²
Elefantes ; 47m²
O recomendado ; 1,5 mil m²