Cidades

Gangues entram em confronto em escolas da Asa Sul

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postado em 02/09/2008 08:27
Por pouco, o parquinho da Quadra 106 Sul não virou palco de selvageria na última sexta-feira (29/8). Cerca de 30 meninos, com pedaços de ferro e paus, estavam prontos para agredir um adolescente em frente ao Centro de Ensino Fundamental 1. A Polícia Militar chegou a tempo e conseguiu dispersar o grupo. O alvo seria um aluno do CEF 1 que, dois dias antes, havia tirado satisfação com um estudante do CEF 3 (103 Sul). O motivo: um teria esbarrado na namorada do outro. O desentendimento acabou em briga próximo à Escola Parque 307/308 Sul, onde as turmas dos CEFs 1 e 3 se encontram para aulas de artes e de educação física. Na saída da aula, o namorado da garota foi espancado com socos e pontapés por três alunos. O garoto que apanhou quis dar o troco, acompanhado de amigos. A revanche não se concretizou, mas reacendeu a rixa entre escolas da Asa Sul. Um grupo do CEF 2 (107 Sul) resolveu entrar na história, do lado dos alunos do CEF 3. Os dois principais envolvidos na discussão faltaram às aulas nesta segunda-feira (1/9) e, mesmo ausentes, foram o assunto na hora do recreio. ;Essa história não vai morrer, não. É mais fácil morrer gente;, afirmou um dos alunos. ;Essa briga vai acontecer quando todo mundo estiver desprevenido;, emendou outro. Quem não tem nada a ver com a história teme ser vítima de agressões sem motivo nenhum. ;Quando é assim, sobra para todo mundo;, justificou uma das estudantes. Ela mora em Santa Maria e sai de casa sempre de casaco, faça chuva ou faça sol. Tem medo de ser identificada na rua por grupos de escolas rivais. Por isso, prefere exibir o uniforme apenas no pátio do colégio. Os alunos encaram a situação com naturalidade. Dizem que sempre foi assim. Mas confessam ter medo. ;Ninguém pode andar sozinho até a parada de ônibus;, afirmou outra aluna. A rivalidade entre os centros de ensino da Asa Sul não é recente. Começou na década de 80, quando as gangues tomaram conta dos ambientes escolares. A força desses grupos diminuiu de lá para cá, mas o clima ruim se mantém. As brigas começam por motivos fúteis. Envolvem disputas amorosas, esportivas ou mesmo inveja pelo jeito de ser e de se vestir do outro. Muitas vezes um único olhar atravessado basta para iniciar a confusão. ;E se você bate em alguém de outra escola, amanhã ele vem com a galera dele atrás de você;, explicou um estudante da 8; série. Regras As meninas também protagonizam brigas. Elas trocam socos e pontapés. ;Por quê? Porque as garotas daquela escola são feiosas e nós somos lindas. Pura inveja;, comentou uma aluna que diz nunca ter participado, mas que já viu muitas na hora da saída. As confusões costumam ocorrer fora do espaço físico dos colégios. Segundo relato dos estudantes, não é raro alguém parar no hospital sangrando e com hematomas provocados pelas pancadarias. Às vezes, contam os alunos, as brigas têm hora marcada e regras estabelecidas. O Parque da Cidade é o local escolhido. Dois grupos se reúnem e começam a beber refrigerante com cachaça ou vodca. Quem fica para trás na bebedeira acaba virando motivo de chacota do grupo oposto. É aí que geralmente a briga começa. Em casos mais graves, as rixas também envolvem roubos de objetos entre os próprios alunos. ;Se a pessoa achar que você tem cara de playboy, ela rouba mesmo;, relatou um aluno que teve o celular roubado na semana passada por, segundo ele, um estudante de escola rival. O servidor público carioca Maurício Teixeira, 40 anos, tem dois filhos que estudam no CEF 2 e sabe da fama de gangues na escola desde que chegou a Brasília, em 1986. ;Mas a coisa está piorando cada vez mais. Vou mudá-los de escola ano que vem;, disse Teixeira, que deixa e busca os adolescentes de 11 e 13 anos na porta da escola. Juliana Buzinaro, 29, é mãe de um garoto de 13 anos que estuda no CEF 3. Ela desconhecia a rixa entre escolas da Asa Sul. ;Não tem como não se preocupar com isso. Meu filho tem apenas 13 anos;, comentou.

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