Cidades

Entrevista: Miriam Abramovay, estudiosa sobre a violência nas escolas do DF

;

postado em 03/09/2008 08:54
Pais, educadores, governo, ninguém pode mais se preocupar apenas com a qualidade de ensino das escolas. Por bem ou por mal, todo mundo teve de aprender a abrir os olhos para as relações sociais estabelecidas no ambiente escolar. Além de se concentrar nas letras e nos números, os professores foram forçados a lidar com a auto-estima e a personalidade dos alunos. Vive-se uma nova era na educação. A escola de hoje tem o desafio de conter a rebeldia natural dos jovens estudantes, muitas vezes camuflada em formas de violência. Essas teses são defendidas pela socióloga Miriam Abramovay, pesquisadora da Rede de Informação Tecnológica Latino-americana (Ritla). Ela coordena um estudo em andamento para mapear a violência nas escolas públicas do Distrito Federal. Miriam defende que, antes de tudo, é preciso conhecer e aceitar o aluno como ele é. A seguir, os principais trechos da entrevista: O jovem busca uma identidade O que está por trás dessa rixa entre escolas da Asa Sul? A busca de identidade da juventude. É um problema externo. E não é somente entre alunos e somente nessas escolas. Brasília é um lugar onde os espaços são muito bem definidos. A organização da cidade em quadras faz com que geralmente os jovens definam sua identidade pelo local onde moram. E se existem brigas entre grupos nas quadras ou nas cidades onde eles moram, isso é transferido para o ambiente escolar. Se é um problema externo, como a escola pode lidar com isso? A escola tem sua própria segregação. Ela não fala a linguagem do jovem nem aceita a forma de ser dele. Não conhece seus alunos e, por isso, tem dificuldade de relacionar-se com eles. O que está em jogo é uma discussão de valores. E a escola ainda não está preparada para isso. Então, a escola de hoje não atende ao anseio dos alunos? Nem dos alunos nem de ninguém. Temos um modelo de escola velho e ultrapassado em conflito com alunos jovens. Se professores e diretores são agredidos, os alunos também o são. Tanto é que tudo o que representa símbolo da juventude é proibido nos colégios: não pode boné, não pode piercing, não pode tatuagem, minissaia. Policial na porta da escola e câmera em sala de aula resolvem o problema da violência? Nos Estados Unidos, as câmeras fizeram foi aumentar a violência. O jovem é rebelde por natureza. Se ele se sente vigiado o tempo todo, fica ainda mais revoltado. O policial nem sempre pode resolver os conflitos e essa nem é obrigação dele. A polícia é, sim, uma importante parceira. Mas queremos ter uma escola repressiva e punitiva ou uma escola como lugar de aprendizado e formação? E por que as meninas também estão brigando? Nossa sociedade é violenta e alimenta um modelo masculino, machista, de força e brutalidade. Para serem reconhecidas, as meninas estão imitando esse modelo. Elas querem reconhecimento. E acham que, para tanto, precisam ser violentas. Não querem mais apenas puxar cabelos. Querem se impor e aprender a brigar, ou seja: fazer tudo o que os meninos já fazem. Mas claro que não são todas as meninas que pensam dessa forma. Ouça a socióloga Miriam Abramovay sobre a rixa entre escolas da Asa Sul e a violência no ambiente escolar de modo geral:

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação