postado em 06/09/2008 19:15
Técnicos da Secretaria de Justiça e Cidadania farão uma vistoria esta semana no Centro de Integração de Adolescentes Granja das Oliveiras (Ciago). Quatro galpões destinados ao Sistema de Semi-Liberdade estão sem uso ; um deles serve como depósito. O governo quer saber se o local pode ser usado para abrigar internos do Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) e quais adequações precisam ser feitas.
Medidas educativas podem ser solução do Caje
Na tarde deste sábado (06/09) o secretário de Justiça e Cidadania do DF, Peniel Pacheco, esteve no Ciago. Ele informou que pretende convidar representantes da Vara da Infância e Juventude para participar da vistoria. "Queremos fazer isso na segunda ou terça-feira", afirmou. Durante a manhã, Peniel Pacheco visitou a sede do Centro de Integração de Adolescentes de Planaltina (Ciap), em Planaltina, para acompanhar os trabalhos finais de adequação do prédio. "Em 10 ou 15 dias concluiremos a instalação elétrica, iluminação pública, asfaltamento da via de acesso e colocação do alambrado em volta do prédio", garantiu.
Enquanto o governo tenta corrigir falhas que se arrastam há mais de 10 anos, os pais que deixaram o Caje no sábado, após a visita, saíram preocupados com a permanência dos filhos na unidade. Nem mesmo o fato de não ter sido registrada nenhuma confusão na madrugada de sexta-feira, nem ontem, tranqüilizou os parentes do internos.
Alguns deles contaram que tem adolescente machucado na ala 7. Um deles estaria com o dedo quebrado e outros apresentavam hematomas no rosto. O secretário de Justiça e Cidadania, Peniel Pacheco, confirmou o relato. Ele disse que alguns dos jovens já chegaram à instituição machucados. "Temos inclusive o laudo do IML. Outros, se feriram durante o motim e em brigas entre eles no decorrer desta semana", afirmou.
Auto-flagelo
Ainda segundo Pacheco, alguns internos praticam o auto-flagelo. "Eles querem chamar a atenção. São jovens que, desde a infância, não tiveram atenção em casa. Isso repercute também na internação", disse. O Correio apurou que na tarde de ontem um adolescente do "seguro", uma cela de castigo para quem comete alguma indisciplina, teria machucado a própria perna com uma colher de plástico. Ao chegar na enfermaria, alegou ter provocado o ferimento porque precisava conversar com alguém e, como estava no castigo, só receberia a visita na próxima quarta-feira. Sobre o caso, Peniel Pacheco informou que situações como esta são relatadas em um livro de ocorrências e que o jovem será atendido pela equipe de psicólogos.
Entenda o caso
O clima de tensão começou após a morte de um dos 270 jovens internados no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), na noite da terça-feira (02/09). Ele estava em uma cela com outros três meninos havia quase 30 dias.
Na quarta-feira (03/09), os servidores da instituição decidiram paralisar as atividades como forma de protesto para exigir melhor infraestrutura de trabalho no Centro. A escola, as oficinas, as atividades físicas e o atendimento técnico ficam parados, de acordo com os funcionários, até que eles consigam uma audiência pública para tratar das dificuldades enfrentadas no trabalho.
Na quinta (05/09), foi a vez dos internos se rebelarem. Primeiro, dois jovens da ala sete, que abriga 32 menores infratores, queriam matar um colega de quarto. Pouco antes das 13h, houve um princípio de confusão na ala feminina provisória, que acomoda 21 meninas. A situação foi controlada por volta das 16h.
Desde 9 de fevereiro de 2006 os internos estão sob proteção internacional, após o governo brasileiro ser denunciado por violação dos direitos humanos à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos.
Memória
Tensão permanente
1995
1; de setembro
O interno L.S.S, 17 anos é assassinado pouco antes da cerimônia de abertura de um projeto educacional na instituição.
1996
19 de agosto
seis internos - quatro deles,menores - rendem um agente e fogem do pavilhão M1,de segurança máxima.
26 de setembro
Princípio de rebelião. Cinco adolescentes armados com estoques tentam fugir.
1997
Fevereiro
Um incêndio provocado pelos internos na cela n; 8 da ala dos provisórios resulta na morte de Edinaldo Silva Bezerra, 17 anos, e Anderson Costa, 16 anos.
6 de março
Cristiano Ferreira Rocha, 17 anos, é eletrocutado dentro da cela que dividia com outros dois menores.
28 de setembro
Giovane de Souza Costa, 17 anos, é enforcado por dois colegas de cela.
1998
7 de março
C., de 16 anos, e E., de 17 anos - ambos sentenciados - tentam matar E.T., 15 anos,Galileu, 16 anos e J.C., 15 anos, que cumprem pena por homicídio.
15 de março
Estoura uma rebelião. Os internos destruíram telefones, computadores, canos da rede hidráulica, telhas e cadeados das alas.
5 de abril
Mais uma rebelião. Os internos quebraram uma parede e tentaram invadir a ala feminina.
11 de junho
Explode uma guerra de pedradas entre grupos rivais. Três deles são levados para o Hospital de Base.
12 de junho
100 internos fazem mais uma rebelião e destroem celas na ala dos provisórios.
19 de setembro
Marcelo Tomé, 16 anos, é encontrado morto, enforcado com o seu lençol, em um quarto do pavilhão disciplinar.
5 de outubro
Robson Gonçalves da Silva,17 anos,é sufocado. Seu corpo não apresentava ferimentos ou marcas.
1999
23 de abril
Douglas Cordeiro Pimenta, 17 anos, é enforcado com o seu lençol. Ele teve uma briga com A.F.P., 16 anos, que confessou a autoria do crime.
1; de junho
Wanderson Azevedo de Souza,18 anos,é espancado até a morte por colegas de cela, na ala dos sentenciados.
2003
18 de Julho
Uma rebelião de sete horas no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), em Julho de 2003, fez 20 feridos e envolveu 113 detentos. Durante a confusão, 11 internos e 8 assistentes sociais foram espancados e queimados. Um detento foi esfaqueado.
2 de novembro
Leandro Ribeiro de Oliveira, 17, sofre uma grave lesão no cérebro como conseqüência de espancamento e asfixia.Ele morreu na noite seguinte no hospital Prontonorte.
28 de novembro
Wesley Alves da Silva, 15 anos, é espancado e enforcado até a morte pelos três colegas de alojamento.
2004
21 de maio
Revoltados por não terem autorização judicial para passar o Dia das Mães em casa, 64 internos promoveram uma rebelião. Por mais de três horas, eles queimaram colchões, rádios de comunicação, computadores e equipamentos da administração. Três monitores foram mantidos como reféns. Um deles foi esfaqueado.
2005
28 de março
Durante três horas a instituição ficou sem energia elétrica nas alas onde estão os quartos. O internos começaram um gritar e fazer muito barulho. Quatro colchões na Ala 10 foram incendiados. Dez viaturas da PM cercaram o Caje, além de agentes da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros. Um helicóptero foi acionado para sobrevoar a área.
2006
27 de junho
Um tumulto começou logo após o jogo da Seleção Brasileira e aconteceu simultaneamente nos módulos M-2, onde ficam os jovens com idades entre 16 e 18 anos, e no M-6, conhecido como pernoite e que abriga os recémchegados na instituição.
2 de julho
Jovens das alas feminina e masculina iniciaram um protesto. Os rapazes atearam fogo em cinco cobertores e quatro colchões. Houve uma pequena concentração de fumaça, que logo foi dissipada pelos bombeiros. Os adolescentes estavam na ala destinada aos mais perigosos, onde os internos ocupam quartos individuais.
2007
4 de maio
Três adolescentes infratores serraram as grades do quarto e do módulo onde estavam alojados, escalaram uma cerca de aproximadamente seis metros de altura e se embrenharam pelo matagal do inacabado Parque Burle Marx.
18 de setembro
Três internos tentaram atear fogo a um colchão. A Polícia Civil e o Corpo de Bombeiros foram acionados para conter as chamas e a tentativa de rebelião