postado em 12/09/2008 18:26
Um lobo-guará ferido foi encontrado na manhã desta sexta-feira (12/09), à beira da DF-290, próximo ao povoado Engenhos das Lajes, na divisa do Distrito Federal com Goiás. O animal foi levado ao Jardim Zoológico de Brasília e, segundo os veterinários, apresentava fratura em uma vértebra lombar.
Ele ficará em observação até a próxima segunda-feira. Só então os especialistas decidirão se será realizada uma cirurgia, mas o animal não corre risco de morte. Policiais da Companhia de Polícia Ambiental (CPMA) do DF acreditam que o animal tenha sido atropelado.
O regaste do lobo-guará começou por volta das 6h desta sexta, quando o feirante Deusimar de Souza Lima, 42, seguia do Gama em direção a Alexânia (GO). "Eu o vi na beira da rodovia e liguei para a polícia", contou. Em seguida, Deusimar seguiu seu destino. Quando retornava, duas horas mais tarde, o feirante parou para checar se o animal continuava no local. "Eu tentei me aproximar e ele conseguiu entrar na mata, mas não teve forças de sair porque as patas traseiras estavam machucadas. Liguei novamente para a polícia e eles chegaram às 9h", disse. O animal não mexia as patas traseiras justamente em função da fratura na vértebra.
O sargento Francisco das Chagas da CPMA, explicou que quando recebeu a comunicação seguiu para o local com uma equipe. "Mas não tínhamos a localização precisa nem o contato do cidadão que ligou. Por isso não encontramos." Em função disso, a equipe da CPMA foi atender a outro chamado na região de Vicente Pires. Um morador ligou anonimamente e informou que havia um gavião em frente ao Jóquei Clube de Brasília. "Ele estava solto no gramado com as asas machucadas. Trata-se de um gavião quiri-quiri, muito comum no cerrado. Eles costumam bater em algum lugar e acabam se machucando", explicou o sargento. O gavião que teve uma fratura na asa esquerda também vai se recuperar no Zôo.
A apreensão do gavião coincidiu com a segunda ligação que Deusimar fez para a polícia. Dessa vez, por volta das 10h, o sargento da CPMA conseguiu chegar ao local onde estava o lobo-guará. O animal estava deitado a 10 metros da rodovia, dentro do mato. "Ele provavelmente foi atropelado por volta das 5h", acredita o sargento. Os policiais o levaram ao Zoológico e lá o animal passou por exames e foi medicado.
Segundo o sargento da CPMA, este é o terceiro lobo-guará capturado no DF nos últimos três meses. "E todos feridos em função de atropelamentos", acrescentou. A superintendente de conservação e pesquisa do Zôo, Tânia Ribeiro Borges, acrescentou que, anualmente, em média seis lobos-guará chegam ao Zoológico.
"É muito comum que eles sejam trazidos para nós após terem sido atropelados. E 90% deles são machos", disse. Tânia explicou que quando atingem a idade adulta os machos se desgarram do grupo para procurar novo território. "Por isso eles correm mais riscos", completou Tânia. Após a recuperação, o lobo deverá voltar ao seu habitat, provavelmente, o Parque Nacional de Brasília.
Extinção
Segundo o professor do departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB), Jader Marinho Filho, poucas áreas no DF são capazes de abrigar animais silvestres e característicos ; porém não restritos ; do cerrado como o lobo-guará. "Apenas o Parque Nacional, o Parque Ecológico de Águas e Emendadas e a Área de Proteção Ambiental das Bacias do Gama e Cabeça de Veado são as áreas preservadas e protegidas. Não há estimativa de quantos lobos-guará existam no DF, mas eu diria que essas áreas pode comportar no máximo 100 animais desses", disse o professor.
Jader explicou que o crescimento urbano e a expansão da atividade agropecuária contribuíram para modificar essas áreas protegidas. "Há 15 anos, havia ligação de cerrado entre elas. Agora, as áreas preservadas estão ilhadas. Isso diminui e modifica drasticamente o habitat desses animais e eles acabam saindo desses locais e correndo risco de serem atropelados e mortos", acrescentou.
O lobo-guará está na lista das espécies ameaçadas de extinção. "O risco é que nós percamos uma espécie que participa da dispersão de sementes e frutos do cerrado e controla populações como os roedores, por exemplo. E qual o nosso direito de sobreviver à custa da eliminação de todo o resto das espécies?", alerta o professor.
O período de seca que favorece os focos de incêndio são fatores que contribuem para que os animais saiam de seu habitat e se exponham a acidentes e à própria ação do homem. Exemplo disso é o caso de um tamanduá-mirim do cerrado também atropelado, em outubro do ano passado, na via que dá acesso ao Condomínio Jardim Botânico. O animal foi levado ao Instituo Brasileiro do meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).