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Versão candanga do Círio de Nazaré acontece neste domingo

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postado em 13/09/2008 08:29
Portuguesa, criada em Belém (PA), a pioneira Maria Beatriz Leonardo do Carmo, de 85 anos, chegou a Brasília quando a cidade tinha mais poeira do que prédios. O marido dela, Abílio Rodrigues do Carmo, era um diretor da Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) naqueles tempos. Os dois moravam no acampamento da empresa, que ficava onde hoje se encontram o Clube da Imprensa e o Clube da Aeronáutica. Devota de Nossa Senhora, Beatriz trouxe consigo os costumes da terra que tinha deixado para trás. Foi ela a responsável pela realização do primeiro Círio de Nazaré de Brasília, em 1961. A imagem da santa que fez o percurso da Vila Planalto até o acampamento da EBE também era dela e hoje se encontra na Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, no Lago Sul. A igreja deu continuidade à tradição e realiza neste fim de semana mais uma edição do Círio de Nazaré. A famosa procissão que atrai milhões de pessoas a Belém do Pará será repetida em uma escala mais modesta amanhã. Os fiéis partirão da igreja, na QI 1 do Lago Sul, e caminharão com a imagem da santa até o Conjunto 5 da QL 2 antes de retornarem ao ponto de partida. Como em Belém, os fiéis carregarão velas e uma corda com 100m de comprimento. A corda faz parte da tradição do círio desde que precisou ser usada para vencer uma barreira de lama no Pará. Desde então, participantes do evento passaram a exigir a presença do cordão, que passou a ser um elo de fé e de inúmeras promessas para Nossa Senhora. A BR-025 deverá ficar interditada das 18h às 19h para a passagem dos fiéis. Os organizadores estimam que 2 mil pessoas devam participar do evento amanhã. Maria Beatriz já garantiu presença na festa. ;Vou de bengala mesmo. O círio é como o Natal dos paraenses. Um momento para reencontrar a família e os amigos. Só não vai no círio quem já morreu;, contou a pioneira. O Círio de Nazaré teve início na última quinta-feira e conta com outras atividades além da procissão. Missas especiais para Nossa Senhora e shows com bandas evangelizadoras fazem também parte da programação, assim como barracas de comidas típicas de diversas regiões do Brasil. Em especial do Pará. Pedido à santa Uma paraense muito bem-humorada está cuidando para que os pratos da terra de origem do Círio de Nazaré não tenham concorrentes no evento. A cozinheira Siloca Carvalho dos Santos, 63 anos, quase desistiu de participar da festa esse ano. Ela, que sofre de glaucoma no olho esquerdo, tinha medo de não dar conta do recado sozinha devido à idade avançada. ;Não consigo ficar carregando essas panelas pesadas mais;, explicou. Mas rezou para Nossa Senhora, pediu por ajuda e decidiu encarar o desafio. Seu pedido foi atendido e Siloca conseguiu ajudantes para cuidar da cozinha. ;Tenho Nossa Senhora junto de mim. Rezo para ela desde pequena e já foram vários os milagres que ela proporcionou em minha vida;, contou. Um desses milagres ocorreu em um período conturbado da vida de Siloca, logo após o fim do seu casamento e da perda da filha, de 5 anos. A cozinheira andava deprimida e com problemas financeiros. Chegou a acreditar que nunca mais veria a família, no Pará. ;Mas aí uma das pessoas para quem trabalhei perguntou se eu não tinha vontade de visitar minha terra natal. Eu disse que sim, é claro. E ela me deu passagens de ida e volta para lá;, afirmou Siloca, que agradeceu à santa logo depois de chegar à Belém. Esse ano, ela ganhou a passagem do filho e pretende acompanhar o Círio de Nazaré, no segundo domingo de outubro, mais de perto. ;Só quero ver a santa passar. Sempre me emociono. Parece que ela passa flutuando no meio daquele monte de gente. Costumo chorar, não sei se de felicidade, de dor ou de fé. Mas choro muito;, detalhou Siloca. Lendas do Norte A festa do Círio de Nazaré tem sua origem em uma lenda sobre a aparição de uma imagem da santa para um caboclo na beira de um igarapé em Belém (PA). Filho de um português com uma índia, Plácido José de Souza era agricultor e caçador. Em um de seus dias de caça, em outubro de 1700, ele parou para se refrescar nas águas de um igarapé depois de caminhar longas horas pela mata. Ao levantar a cabeça, viu a estátua de Nossa Senhora de Nazaré, com o menino Jesus a segurar um globo azul no colo, entre pedras cheia de lodo. Acredita-se que missionários tinham trazido a estátua que, de alguma maneira, tinha ido parar naquele local. Plácido, que era católico, levou a santa para o barraco onde morava e montou um altar para venerá-la. Contudo, o cabloco teve uma surpresa ao acordar no dia seguinte e perceber que a estátua tinha sumido do local onde a deixara. Ele procurou a santa por todos os cantos da casa, mas só a encontrou quando retornou ao igarapé onde a viu pela primeira vez. A história ganhou fama e não demorou para a casa de Plácido se tornar um local de culto à Nossa Senhora. Em 1790 o governador Francisco Coutinho pensou em fazer uma procissão pela cidade. Assim começou a festa do círio de Nazaré. Em Belém, o círio é historicamente comemorado no segundo domingo de outubro.

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