postado em 15/09/2008 07:43
No Distrito Federal de 2.557.158 habitantes, as regiões administrativas mais pobres são também as de população mais jovem. De acordo com estudos da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), as cinco RAs com menor renda (Itapoã, Estrutural, Planaltina, Brazlândia e Varjão) têm população com idade média inferior aos 27 anos. Nelas, cerca de 40% dos moradores têm menos de 14 anos. Já entre as cinco mais ricas, três apresentam os maiores índices de idade média do DF ; Lago Sul, Lago Norte e Brasília (veja arte ao lado) ; e a população de crianças e adolescentes não passa de 15% do total.
A informação sobre a idade média da população é importante para a formulação de políticas públicas. ;Quanto mais jovem a população, maior o número de crianças e de pessoas em idade reprodutiva;, explica Sérgio Paz, da diretoria de Gestão de Informação da Codeplan. ;Nas regiões de população jovem, serão verificadas as maiores taxas de crescimento dos próximos anos;, avalia.
As RAs com menor idade média são também as menos consolidadas em termos de serviços públicos e de infra-estrutura urbana. Itapoã e Estrutural, com idade média da população na casa dos 21 anos, não têm ruas asfaltadas nem escolas ou postos de saúde suficientes para atender todos os moradores. ;As políticas públicas para estas regiões precisam acompanhar a tendência de crescimento populacional;, aponta Sérgio Paz. Também demógrafa da Codeplan, Mirna Augusta de Oliveira reforça a preocupação: ;Estas populações são as mais carentes, e são carentes de tudo;.
Renda média
No Itapoã e na Estrutural, a renda é de menos de meio salário mínimo per capita. Em Planaltina, Brazlândia e Varjão, a renda per capita não ultrapassa um salário mínimo, é de 0,8. Nas regiões com maior média de idade ; acima de 34 anos;, a renda per capita varia entre 6,8 salários mínimos (Brasília) e 10,8 (Lago Sul).
O descompasso entre os serviços públicos prestados, a infra-estrutura urbana e as necessidades da população faz com que o governo adote soluções improvisadas para cumprir com suas principais obrigações. O transporte escolar diário é uma dessas soluções. Tanto no Itapoã quanto na Estrutural só existem escolas para a faixa etária de 6 a 9 anos. Os outros estudantes precisam ser levados diariamente para colégios do Guará, Asa Norte, Cruzeiro e Paranoá.
Na Estrutural, o início da manhã e a hora do almoço coincidem com o embarque dos alunos. Cerca de 85% das crianças e adolescentes (7.119 alunos) da RA que freqüentam escolas são levados para outras áreas. A entrada da cidade se transforma em um arremedo de rodoviária com as mães e os filhos à espera de ônibus. Não há um pedaço de sombra para elas se abrigarem e nesta época do anos os redemoinhos de poeira varrem o local.
Dificuldades
Mãe de cinco crianças, Natália Jerônimo da Silva, de 22 anos, embarcava o pequeno Isaque, de 5 anos, para o colégio na 711 Norte no início da tarde da última sexta-feira. Os dois mais velhos, Isabela, de 8 anos, e Ismael, 7 anos, seguiriam para atividades extraclasse no Guará. ;Aqui, temos todas as dificuldades. Não tem creche e para consultar no posto de saúde é preciso esperar pelo menos dois meses;, relata Natália. Os cincos filhos da paraibana são ;filhos da Estrutural;, como ela mesma declara. ;Aqui já foi pior. Mas ainda falta muito para ficar bom.;
Nas RAs mais pobres, o atendimento às crianças, adolescentes e jovens adultos deve ser encarado como prioridade. Nas RAs mais ricas, a situação se inverte. Apesar de terem invejável infra-estrutura urbana, Lago Sul, Lago Norte e Brasília precisam se adaptar ao envelhecimento de seus habitantes. A acessibilidade, os serviços médicos especializados e o transporte público são demandas da população mais velha que ainda não foram contempladas pelas políticas públicas. ;O DF está envelhecendo. Isso é uma novidade porque esta era uma cidade de jovens. O governo ainda não se preparou para atender os mais velhos;, aponta Ana Maria Nogales, diretora do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (UnB).