postado em 15/09/2008 08:00
Na casa de jogos do Bloco L da 714 Sul, descoberta pela Polícia Civil na última sexta-feira, uma única mesa com oito jogadores rendia R$ 2,4 mil a cada duas horas. No local, de acordo com freqüentadores entrevistados pelo Correio, funcionavam três mesas que costumavam ficar lotadas entre as 16h e as 6h do dia seguinte. Entre um fim de tarde e uma madrugada de casa lotada, os donos da banca podiam ganhar até R$ 50 mil por administrar a jogatina.
Para fazer parte das mesas, o jogador precisava ser indicado por outro. A recomendação era feita por telefonema ou apresentação pessoal. Na 714 Sul, os administradores expulsavam os ;ladrões de jogo;, aqueles que tentavam trapacear com as cartas. Já na casa que funcionava em uma sobreloja da 514 Sul, não havia discriminações, bastava que o jogador tivesse dinheiro para fazer as apostas.
Outra diferença entre o funcionamento das casas era na forma de pagamento. No cassino da 714, os cheques eram bem-vindos. Os empresários do jogo tinham uma espécie de cadastro informal dos bons e maus pagadores. Na 514, só a dinheiro. A presença de agiotas no local era comum. Havia oferta de empréstimos de 24 horas com juros de até 10%. ;Quem já estava com o limite do cheque estourado, procurava a banca da 514;, conta um ex-jogador que conhece o submundo das apostas no Distrito Federal.
Seguranças ou jogadores armados freqüentavam os dois endereços. O ex-jogador, contudo, jamais presenciou ameaças nos recintos. ;É um ambiente tenso, mas não é perigoso. A tensão é proveniente do próprio jogo;, relata. Nas mesas, fortunas eram construídas ou destruídas em um curto espaço de tempo. ;Os únicos que ficam ricos neste tipo de jogo são os donos da casa. Para cada dia de vitória, o jogador tem 15 de derrotas;, estima o ex-apostador.
Investigação
A partir de hoje, a Polícia Civil começa a intimar cerca de 40 pessoas, donas de mais de 100 cheques encontrados nas duas casas de jogos fechadas na última sexta-feira, depois de denúncias de familiares de apostadores. O objetivo é confirmar se elas estavam sofrendo ameaças pelo não pagamento dos cheques, como muitas informaram ao serem levadas para a 1ª DP (Asa Sul), na noite da última sexta-feira. A delegada Martha Vargas, titular da 1ª DP, que chefiou a operação, disse que as investigações devem durar , no mínimo, um mês.
Nos dois locais ; 514 Sul e 714 Sul ; foram encontradas agendas com nomes e valores. Esses documentos passarão por exame grafotécnico para que a polícia identifique os donos. A partir do depoimento dos apostadores, os investigadores identificaram os três proprietários da casas de jogos, entre eles, um cabo da Polícia Militar. A corporação abriu sindicância para investigar a conduta do policial.
A perícia no cassino foi feita pelo Instituto de Criminalística e a delegada Martha Vargas aguarda o resultado, bem como das drogas encontradas em uma maleta na casa da 714, onde também havia uma arma, grande volume de cheques e dinheiro. ;Na mesma peça, onde funcionava um escritório, encontramos documentos de uma pessoa identificada pelos apostadores como sendo um dos sócios do cassino;, afirma a delegada.
Os policiais também encontraram armas na 514. No momento da chegada da polícia, seguranças, jogadores e donos do cassino tentaram fugir pelo telhado, entrando em prédios vizinhos. Alguns deles portavam revólveres. Além de investigar de quem são as armas, a polícia também quer saber de quem partiam as ameaças de extorsão e a exploração da prostituição.