Jornal Correio Braziliense

Cidades

Desde o início deste ano 82 carteiros foram assaltados em Taguatinga

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Faz sete anos que Ana*, 37 anos, trabalha como carteira e entrega correspondências na região de Taguatinga. Serviço que exercia com prazer há até bem pouco tempo. Atualmente, ela anda desconfiada pelos endereços onde antes passava sem preocupações. Ontem, chegou a entrar na casa de uma moradora em busca de proteção depois que viu dois homens suspeitos próximos a um beco que teria que usar para terminar as entregas. De lá, ligou para o chefe e pediu que chamasse a polícia. Ana tinha motivos para ficar alarmada. Sofreu dois assaltos durante o trabalho nos últimos três meses. E ela não está sozinha. Dezenas de carteiros passaram por situação semelhante no DF desde o início do ano. Os números impressionam. Até quarta-feira, a empresa de Correios e Telegráfos (ECT) registrou 222 assaltos a carteiros em diversos pontos do DF. Durante todo o ano de 2007, houve somente quatro registros de funcionários roubados. Em todos os casos, os ladrões levam dos profissionais a bolsa com as correspondências. O interesse maior é em talões de cheques e em cartões de crédito enviados para clientes. O resto eles jogam fora ou dão sumiço. O problema chegou a tal ponto que prejudicou o sistema de entrega da empresa em pontos mais críticos, como Taguatinga e Guará. Na primeira cidade ocorreram 82 assaltos este ano. Na segunda, 34. Licença médica Como conseqüência, as correspondências têm atrasado, muitos carteiros encontram-se de licença médica e quem segue no batente fica sobrecarregado. Além disso, os funcionários andam receosos de sair para trabalhar. Ao menos três usaram os assaltos como argumento para pedir transferência para outras regiões do DF. E um carteiro pediu demissão alegando estar assustado. ;Tudo isso tem refletido negativamente para a empresa. Aumentaram as reclamações de atrasos e de bens roubados. A qualidade da entrega também foi prejudicada;, detalhou Edson Batista Moraes, gerente de operações da diretoria regional dos Correios em Brasília. Medidas para tentar contornar a situação vêm sendo tomadas desde abril, quando representantes da ECT levaram o problema para a secretaria de Segurança do DF. ;Tivemos três reuniões com eles desde então. Eles nos ajudaram muito a orientar nossos funcionários sobre como agir para evitar assaltos. A Polícia Federal está investigando o caso e chegou a chamar dez carteiros para fazer reconhecimento de suspeitos na semana passada;, contou Moraes. O Correio procurou a secretaria de Segurança e a Polícia Federal para saber mais detalhes da situação, mas não teve retorno. Para não prejudicar o serviço, a empresa tomou providências com a intenção de garantir a entrega nas áreas mais visadas pelos bandidos. A distribuição de correspondência simples nesses locais tem ocorrido de forma alternada (dia sim, dia não). Os carteiros também têm sido orientados a realizar as entregas com a tomada de circuitos diferentes a cada jornada, para que não passem pelos mesmos lugares em horários pré-determinados. A ação mais importante, contudo, está relacionada com a mudança no tipo de entrega de talões de cheque e cartões de crédito. Desde o início desta semana, não são mais os carteiros convencionais os responsáveis pelo serviço. Alegando razões de segurança, a ECT prefere não revelar o modo como essas entregas estão sendo realizadas. Além disso, a empresa pretende efetivar 80 carteiros no prazo de um mês para suprir a demanda das regiões mais afetadas pelos assaltos. Para Ana, que trabalha em uma agência que está com desfalque de quatro funcionários, afastados há mais de 30 dias, as soluções não trazem alívio. ;Tenho ido para a rua assustada. Qualquer carro que pára ou pessoa que me aborda em busca de informações já faz meu coração acelerar. Penso que pode se tratar de um assalto e fico estressada. Também não tem lugar seguro. Até nas áreas que a gente considerava tranqüilas nós corremos perigo hoje em dia;, desabafou a carteira. *Nomes fictícios a pedido dos entrevistados Mapeamento # De janeiro até a última quarta-feira, 222 carteiros foram assaltados no DF # As regiões mais problemáticas são Taguatinga, com 82 ocorrências, e Guará, com 34. # Dos 35 registros feitos em agosto, 14 foram em Taguatinga e 13 no Guará. # Dos 32 registrados na primeira quinzena de setembro, 16 ocorreram em Taguatinga e nove no Guará. # Abril lidera o ranking dos meses com maior número de assaltos, com 44 casos. # A empresa de Correios e Telegráfos calcula que aconteçam de três a quatro assaltos a carteiros diariamente. Leia mais na edição impressa