Cidades

Imagens do prédio de servidor do Senado revelam encontros com adolescentes

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postado em 19/09/2008 07:56
A polícia já tem provas materiais do envolvimento de um alto funcionário do Senado Federal na exploração sexual de adolescentes. Imagens do circuito interno de segurança do prédio onde o servidor, um advogado de 46 anos, possui um apartamento mostram uma das adolescentes envolvidas subindo pelo elevador de serviço com o acusado e indicam que ele mentiu no depoimento. Foram dois encontros com a garota de 16 anos documentados em junho. O delegado do caso espera a quebra do sigilo telefônico dos envolvidos para enviar o inquérito à Justiça. O servidor, afastado do cargo comissionado em um dos gabinetes da Casa desde 5 de setembro, quando o Correio tornou pública a história, nega em seu depoimento que a adolescente mostrada nas imagens tenha estado em seu apartamento, na 102 Sul. ;Que eu me lembre, ela nunca foi ao meu apartamento;, afirmou no dia 28 de agosto. As imagens do circuito interno de vídeo do condomínio dele mostram outra realidade. No dia 9 de junho ele chega em casa às 13h30, vestido de calça e camiseta, acompanhado pela adolescente. Os dois deixam o local às 14h05. ;Mais ou menos meia hora depois, o tempo de programa que todas relatam;, comenta o titular da 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), André Victor do Espírito Santo. No dia 24 do mesmo mês, os dois entram no elevador de serviço às 10h39. O servidor está de chinelos, bermuda e camiseta. A garota vestia blusa branca, calça tipo corsário e a mesma bolsa do outro encontro. Na saída, às 11h23, o acusado está de terno e gravata. R$ 400 por encontro As investigações revelam que o histórico de abusos teve início nos corredores do Senado. A primeira vítima identificada teve contato com o acusado há oito anos, quando tinha 10 de idade e ajudava os pais vendendo chocolates e jóias no parlamento. ;Os programas teriam começado quando ela já tinha 15;, conta o delegado. O servidor teria então pedido à menina que colocasse outras amigas no esquema. A segunda vítima teria sido a adolescente de 16 anos, moradora do Guará, que aparece nas imagens desta reportagem. Ela, por sua vez, teria recrutado uma amiga da mesma idade. A terceira vítima confirmou ter chamado uma amiga de 14 anos, que mora em São Sebastião. Cada uma recebia R$ 400 por encontro. E foi por meio do dinheiro que a polícia descobriu o esquema. A adolescente de 14 anos afirma ter mantido relações sexuais com o servidor, na companhia da amiga de 16, no dia 21 de agosto deste ano. Ao sair do apartamento, as duas teriam ido ao shopping Pátio Brasil gastar o dinheiro. Quando chegou em casa, a menina de 14 não conseguiu explicar à mãe a origem das coisas que havia comprado e fugiu após uma briga. Uma ocorrência foi registrada pelo desaparecimento e a equipe da 30ª DP recuperou a história quando a adolescente voltou para casa, quatro dias depois. Todas as adolescentes foram ouvidas e confirmaram a versão. Acusado nega O acusado, no entanto, sustenta que as duas meninas, a de 16 e a de 14 anos, seriam amigas mal-intencionadas da jovem de 18, com a qual ele teria namorado no início do ano. Ele afirma que a moradora de São Sebastião e a amiga de 16 que a teria recrutado se encontraram com ele fortuitamente no dia 21 de agosto, perto da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, na 308 Sul, e pediram carona até o Pátio Brasil. Perto do prédio dele, a mais velha teria simulado que passava mal e pedido para usar o banheiro. Uma vez no apartamento, as duas teriam roubado R$ 400 que estavam na cozinha para o pagamento da diarista. A mais nova teria então inventado a história para não contar à mãe que as compras eram fruto de um roubo. O advogado sustentou essa história na delegacia e ao Correio, mas a jovem de 18 anos, moradora de Taguatinga, procurou a 30ª DP na semana passada para prestar novo depoimento. ;Ela disse que recebeu uma ligação do acusado que pedia que ela confirmasse a história de que tinha namorado ele;, relata o delegado. ;Disse ainda que se ela não o fizesse teria que responder pelo agenciamento para o abuso, coisa que não irá acontecer;, completa Espírito Santo. Para o delegado, o caso está resolvido, pois os testemunhos são detalhados e as imagens não deixam dúvidas sobre a presença de uma das vítimas. Os vídeos a que o Correio teve acesso revelam ainda que é enorme a freqüência de mulheres (que não parecem menores de idade) no apartamento, confirmando o apelido de ;matadouro; dado por vizinhos. ;Mas isso não é da nossa conta. Ele é solteiro e pode se relacionar com a mulher que quiser, menos com as meninas;, conclui André Victor do Espírito Santo. O inquérito vai indiciá-lo por exploração sexual de adolescentes, crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê pena de até 10 anos de prisão em regime fechado.

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