postado em 23/09/2008 08:21
O brasiliense responsabiliza a carência de um transporte público eficiente pelo caos que mais de um milhão de carros provoca diariamente nas ruas do Distrito Federal. Circulando por locais onde trabalha muita gente, mas não há vagas suficientes, o Correio não encontrou nenhum motorista que tenha escolhido um meio de transporte alternativo no Dia Mundial Sem Carro, mas conversou com pessoas dispostas a abrir mão do conforto na busca por um trânsito mais civilizado.
É o caso de quatro amigos que trabalham na Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), no Setor Bancário Norte, e, há mais de dois anos, só saem em grupo para almoçar. ;Sempre vamos a quadras próximas e, andando juntos, mantemos as vagas que conseguimos pela manhã e colaboramos com o trânsito;, valoriza Tiago Dias, 28 anos, motorista da vez ontem. ;Cada dia vamos em um carro diferente. Normalmente no de quem não conseguiu uma vaga de verdade. Na volta, a pessoa estaciona direito;, explica Paula Pita, 23. ;Planejamos, inclusive, voltar cedo do almoço para achar a vaga, que depois de 13h30 é muito difícil;, comenta Victor Lima, 26. O problema crônico de estacionamento do local foi o principal motivo para o início da carona. ;Nos conhecemos aqui e combinamos de fazer isso assim que ficamos mais próximos. Antes era um desespero;, conclui Vanessa Borges 22.
Do grupo, apenas Victor sabia que ontem era celebrado o dia em que o cidadão é chamado a pensar na dependência do automóvel e em alternativas como a carona, o transporte público e a bicicleta. A iniciativa que começou em 1988 na França já alcança aproximadamente 3 mil cidades mundo afora. A adesão no Brasil, no entanto, não chega a empolgar. A data é lembrada em várias cidades, mas uma pesquisa realizada pelo Ibope no ano passado mostrou que apenas 1,6% dos motoristas paulistanos deixaram o carro em casa de propósito. Não há números referentes a Brasília.
Em julho o Correio mostrou que 60% dos carros que circulam pelo DF levam apenas o motorista, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito. Essa realidade é apontada pela bancária Gerti Egler, 48, como um dos principais problemas do trânsito local. ;O motorista brasiliense não é solidário, não tem essa filosofia. Se fosse diferente, seria fácil notar a diferença nas ruas: os carros estariam mais cheios;, afirma ela, que vai trabalhar no Setor Bancário Sul junto com uma colega que mora perto de seu prédio, na Asa Sul. ;Eu morava em um condomínio do Lago Sul, mas aluguei um apartamento no Plano Piloto para facilitar minha vida porque não estava mais agüentando. Combinamos no trabalho e vamos juntas todo dia, cada vez no carro de uma;, explica.
Para a bancária, a melhora no transporte público é fundamental para a construção de um trânsito que seja bom para todos. ;Nos ônibus não acredito mais, é uma máfia. Mas se o metrô chegar a mais lugares, a situação pode melhorar. É a melhor opção, acho que devia ter linhas para o lado do Cruzeiro, para a Asa Norte, para o Gama%u2026 O que já existe serve à população, mas uma pequena parte;, conclui.
O metrô foi a opção escolhida pelo servidor público Paulo Saraiva, 57, que mora em Águas Claras e trabalha no centro de Brasília. Ele usa o meio de transporte para ir e voltar e vai almoçar a pé, em restaurantes perto do trabalho. A não ser quando consegue uma carona solidária, como ontem. ;Como tenho uma colega fazendo um curso na UnB à tarde, aproveito para almoçar com ela;, afirma ele ao entrar no carro da também servidora Elisia Muller, 28. ;Sempre dou carona, por uma questão de filosofia mesmo;, destaca ela antes de dar a partida.