Cidades

Polícia Civil investiga a morte do bombeiro

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postado em 26/09/2008 08:38
A Polícia Civil do Distrito Federal abriu inquérito para apurar as causas da morte do sargento Washington Nunes, 34 anos, na tarde de terça-feira. Com isso, as investigações deixam de ser feitas exclusivamente pelo Corpo de Bombeiros (CBM-DF), que também abriu Inquérito Policial Militar para chegar aos motivos que levaram à tragédia com o oficial da corporação. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também vai apurar se houve exageros no curso de mergulho, mas aguarda relatório do Corpo dos Bombeiros para abrir a denúncia a ser apresentada na Justiça. Até o fim das investigações, o treinamento no Lago Paranoá está suspenso. Mulher da vítima exige que as investigações apontem se houve ;excessos;(leia depoimento). O sargento Washington Nunes teve uma parada cardiorrespiratória durante um curso de mergulho autônomo denominado Travessia Equipada, de formação de oficias para salvamento na água. Segundo ocorrência registrada na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), o militar foi deixado a 500m da margem do Lago Paranoá para fazer a travessia. Mas o homem teria chegado ao outro lado com um estado de ;aparente inconsciência;. Na ambulância destacada para atender os alunos do curso, a vítima recebeu os primeiros socorros, mesmo sem sinais de vida. Às pressas, foi levado para o Hospital de Base, onde médicos tentaram reanimá-lo sem sucesso. Em momento algum, no boletim policial, é citado se havia outras pessoas na água com ele ou se o homem recebeu ;caldos; durante a travessia, prática comum nesses tipos de cursos, segundo militares ouvidos pelo Correio. A delegada-chefe da 1ª DP, Martha Vargas, afirma que ainda é prematuro falar das circunstâncias da morte. ;Vamos esperar o laudo IML (Instituto de Medicina Legal) com as causas do óbito para confrontar com os depoimentos das testemunhas;. Segundo ela, os depoimentos dos sete oficias que estavam no local da tragédia começam hoje. Entre os exames que o IML faz para elaborar o laudo cadavérico, um deles apontará se havia água nos pulmões do sargento, o que caracterizaria o afogamento. O resultado deve sair em 15 dias. A delegada chefe da 1ª DP explicou que pelas condições da tragédia há duas hipóteses: morte natural ; por esforço exagerado ou histórico na família, por exemplo ; ou morte provocada. De acordo com ela, o segundo caso caracterizaria um homicídio, culposo (sem intenção de matar) ou doloso (quando há a intenção de tirar a vida). Informações da comunicação do CBM-DF confirmam que haviam pessoas na água com o sargento durante a travessia. Ação interna Os bombeiros já destacaram um tenente-coronel e um escrivão ; que não tiveram os nomes revelados ; para coordenar o inquérito que vai apurar as causas do falecimento do sargento. Eles devem ouvir os envolvidos até o fim da próxima semana. ;Contamos com o apoio do MPDFT e temos 40 dias para entregar o relatório;, observou o tenente-coronel Maciel Nogueira. Ele contou que casos de denúncias de maus-tratos na corporação são raros e disse que todo os militares conhecem o direito de fazer reclamações junto à ouvidoria dos Bombeiros ou ao oficial superior. ;Estou aqui desde janeiro e não chegou nenhuma reclamação nesse período. Foi um fato isolado;, destacou o chefe da comunicação do CBM. Nenhum oficial será afastado durante as investigações. Oficiais ouvidos pelo Correio desmentem a afirmação do tenente-coronel Maciel. Sem se identificar eles revelaram os bastidores dos treinos físicos para a preparação dos oficiais da corporação. ;Precisamos estar bem preparados, mas chega a ser desumano. Somos submetidos sempre ao limite, mas cada um tem uma tolerância;, disse um sargento, que conviveu com Washington na corporação. Um motorista do CBM revela que os erros durante os treinos são punidos fisicamente. ;Eu, que dirijo, tenho que pagar flexões quando erro, imagina os militares que passam pelos treinos como o de salvamento;, criticou. Segundo ele, muitos oficias não registram reclamação por temer retaliação dos superiores. depoimento - adriana nunes, viúva Uma dor muito grande O Washington sempre fez os cursos para preparação física e especialização que os Bombeiros ofereciam. Era apaixonado pela profissão e queria ter toda a formação que pudesse. Quando conversávamos sobre os treinamentos, ele sempre ressaltava que a rigidez no preparo era necessária para aproximar o curso da realidade que eles enfrentavam nos salvamentos. Acreditava que era importante e nunca reclamou. Nunca comentou comigo essas histórias de ;caldos;, só dizia que eram treinos puxados. Eu não sei o que aconteceu naquela tarde e quero que as investigações apontem se houve exageros por parte dos outros militares. Não quero acreditar que houve maldade dos colegas dele, que fizeram com intenção de matar. Tinha amigos dele lá. Também não quero apontar culpados, isso não e minha função e não vai trazer ele de volta. Mas, se houve excessos, esses cursos precisam ser revistos e repensados para que a morte do meu marido não seja em vão. Tento me manter tranqüila e acalmar as crianças ; de 9 e 4 anos. Às vezes desabo em choro, mas tento lembrar do jeito dele, sempre para cima e alegre, para seguir em frente. Ele era um exemplo para todos da família e dos bombeiros. Era um super-herói, um supermarido e um superpai. Vou deixar as coisas seguirem para ver o que ocorre. Tento imaginar que Deus levou ele porque precisa de mais estrelas do seu lado. Mas é uma dor muita grande.

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