Cidades

Miss Brasília terceira idade exibe simpatia

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postado em 26/09/2008 11:00
Maria José, 72 anos, vibrou de alegria ao ouvir seu nome como vencedora
Não, elas não levaram suas mães. E olha que miss adora levar a mãe a tiracolo. Principalmente no dia do concurso. Aliás, nesse dia, minha gente, difícil é saber quem fica mais nervosa, se a deusa ou a mãe da deusa. Bom, o fato é que elas não levaram suas mamães e muito provavelmente ainda leram O pequeno príncipe. E daí? Não vai mudar em nada o rumo dessa história. Em compensação, no lugar as mamães, estavam os filhos, os netos, os bisnetos. As amiguinhas, a vizinha, a comadre, o compadre. E até os namorados. Sim, engana-se redondamente quem pensa que elas se esqueceram disso. E eles marcaram presença. Como adolescentes, vigiaram a beldade do começo ao fim. Carregaram faixas, seguraram os vestidos de festa, para que não arrastassem no chão, e ficaram com os nervos à flor da pele à espera do resultado. Suaram em bicas. O sortudo, o ;ficante; da vencedora (a expressão é dela própria), parecia menino, ao ouvir o nome da amada sendo chamado pelo apresentador do concurso. ;Ela é bonitona mesmo, um colosso;, extasiou-se o namorado, de 80 anos, vestido num impecável terno creme de linho 120. O homem estava chique demais! Abram alas, então, para a festa que vai eleger a Miss Brasília Terceira Idade 2008. Aquela que representará o DF no concurso nacional, em Florianópolis (SC), em 2009. O Clube da Saúde, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), local da festança, ficou lotado. Eram 15h. Havia pelo menos 2,5 mil pessoas. Gente demais, torcida organizada. Faixas, cartazes. Dezoito beldades representariam 18 cidades do DF. Na hora agá, ficaram apenas 17. Todas fazem parte de grupos da terceira idade nas regiões onde moram. A miss Núcleo Bandeirante, Maria Sabino de Souza, 82, passou mal, tamanha emoção. Hipertensa, esqueceu-se de tomar o remédio na hora do almoço. Dormiu mal a noite toda, pensando na festa. Comeu mal. Não deu outra: a pressão da candidata foi às alturas. Chegou a 22 x 12. Meu Deus! Os bombeiros levaram Maria ao Hospital do Guará. Chiquérrima chegou ali penteada, maquiada, salto alto, vestido longo e faixa de miss. Estava um arraso, minha gente! Fez enorme sucesso com as crianças internadas na pediatria. Medicada e mais relaxada, voltou para casa. Mas já decidiu: ano que vem tentará novamente. O locutor da festança, Clóvis Nunes, experiente organizador de concursos onde misses levam suas mamães a tiracolo, fez as honras da casa. E bradou, ao microfone: ;Sob os olhares desse público maravilhoso, apresentamos a Miss Brasília, versão 2008. Depois de três anos no anonimato, as mais belas e simpáticas representantes da terceira idade estão hoje aqui...; Aplausos, gritaria, tititi, empurra-empurra para ver do melhor lugar, máquinas fotográficas, câmeras, imprensa, gente se acotovelando. A disputa vai começar. E promete. Princesa O concurso, promovido pela Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do DF, parou o Clube da Saúde, na tarde de ontem. Numa área atrás do palco, improvisou-se o camarim. Maquiadores, cabeleireiros, essa gente toda. O lugar ficou intransitável. De vestidos longos, com miçangas, paetês e tafetá, lá estavam as 17 candidatas. Pareciam meninas, adolescentes no momento mais importante de suas vidas. Entre elas, de vestido cor de goiaba, Geralda Ferreira de Araújo, de 71 anos. Quem? Não, você não se lembra de dona Geralda, a Mulher Maravilha de cabelos brancos como neve de São Sebastião que atravessa a nado o Lago Paranoá, pula da ponte, faz pára-quedismo e rapel? Miss Candangolândia, Rosa Pereira de Araújo, maranhense de 83 anos, dava os últimos retoques no espelho. ;Se eu vou ganhar? Deus é quem sabe, mas eu só vim só participar. É a primeira vez que desfilo na vida;, ela dizia, como menina diante do baile de debutante. Elza Maria Tereza Lopes, 87, representante de Águas Claras, estava ansiosíssima. Mas disfarçou bem: ;Tô sempre alegre, meu filho, apesar do sofrimento da vida;. Eleci Barbosa de Oliveira, 70, do Cruzeiro, arrebentou. Bem-humorada, a cearense andava de um lado para o outro, contava piada e diz ter um conceito bem próprio sobre longevidade: ;Se a morte é descanso, prefiro viver eternamente cansada;. Dá-lhe, Eleci! Maria José Leles, 72, do Guará, parecia uma princesa. Seus olhos verdes ficaram mais verdes ainda com a maquiagem. Na platéia, o namorado dela, Adergísio Firmimo, 80, mineirinho de tudo, elegante num terno de linho, contava os segundos para o desfile começar. ;Isso não começa nunca? Tá demorando, uai!” Namorado de miss sofre, minha gente! A miss Samambaia Valdelina Severina, de 83 anos, estava toda prosa. Criou-se em Pernambuco, na roça. Andou pelo sertão de Lampião e há 30 anos chegou ao DF. Viúva há um tanto de tempo que nem ela mesma sabe ao certo (;enviuvei ainda na época de Getúlio Vargas;, ela conta), Valdelina agora só quer saber de ser bela. ;É bom demais, moço, a gente se olhar no espelho e se sentir bonita;, suspira. Maria do Carmo Silva, 78, miss Ceilândia, trouxe o irmão, José Maria, 81, e a cunhada, Eunice, 80, para torcer por ela. Envaidecido, com máquina fotográfica e tudo, o maninho era só alegria: ;Maria leva jeito pra miss;, ele palpita. José Dias Belfort, maranhense de 84 anos (;põe aí que sou conhecido como Kojac;, ele pede), foi à festa apenas para ver ;as meninas e dançar;. ;Faço parte do grupo da Terceira Idade da 913 Sul. A minha candidata, que era do Lúcio Costa, morreu em julho. Era bonitona. Fazer o quê? É a vida;, desconsola-se. Disputa acirrada O apresentador inicia o desfile. Chama uma a uma das 17 candidatas à passarela. Os jurados, atentos, analisam tudo. Ao som de John Travolta, nos Embalos de Sábado à Noite, as misses em seus longos vestidos de festa levam o público ao delírio. Das 17, seis foram selecionadas. O coração disparou. Eleci, do Cruzeiro, aquela que ;prefere viver eternamente cansada; levou o título de Miss Simpatia e um fim de semana em Caldas Novas. Depois, no palco, foi à galera: ;Vou agora é beijar na boca...; No terceiro lugar, miss São Sebastião, Geralda, a mulher que adora esportes radicais. Com os pés doídos pelo salto, ela tascou: ;Eu gosto mesmo é de usar tênis, gente! Gosto é de aventura;. O prêmio da beldade? Um aparelho de DVD. No segundo lugar, miss Sobradinho, Dejanira Sardinha, 72. ;Tive nove filhos. Esse título é meu décimo tesouro;. E se prepara agora para passar um fim de semana na terra das piscinas com água quente. É chique no último! Suspense para a revelação da primeira colocada, a bela da tarde, a miss Brasília, aquela que vai representar o DF no Sul do país. Ao som de ;Ô jardineira por que estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu...;, Clóvis Nunes anunciou: ;A grande vencedora é a representante do Guará...; Houve gente de cabeça branca falando em marmelada. Pode? Maria José, a miss eleita, três filhos, quatro netos, um bisneto, fez cara de susto. Recebeu a faixa e a coroa de sua antecessora, Maria Teresa Costa, também do Guará. Depois, andou como miss, chorou como miss e deu adeusinho como miss. Miss é tudo igual, até sem a mamãe por perto. ;Estou muito feliz. É a sensação de sonho realizado. Acreditei nisso a vida toda;, ela desabafa, comovidíssima. O namorado, Ardegísio, tremendo, reagiu como adolescente. Suou como menino assustado. Refeito, tratou de vigiar a amada. Manteve-a longe do assédio dos marmanjos ; aquela rapaziada esperta com mais de 70 anos. Cabra bom, esse! Em tempo: Maria José e o seu amor, como prêmio do concurso, vão passar um fim de semana em Caldas Novas. Lua-de-mel? Os dois apenas riem. Para terminar a festança, a banda Squema Seis botou fogo no Clube da Saúde. Era um mar de cabelos brancos dançando, cantando e se divertindo. Para quem consegue chegar tão longe, a vida tem obrigação de ser bonita assim mesmo. Que venham mais concursos de beleza, mais bailes, mais encontros, mais sonhos. Mais um tanto de coisa boa. É bom não esquecer o conselho da impagável Eleci, a Miss Simpatia: ;Se é pra viver, que se viva com intensidade;. Ela sabe das coisas. Sabe até da vida.

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