Jornal Correio Braziliense

Cidades

Tradição de Cosme e Damião movimenta o DF neste sábado

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Esta manhã, quando acordarem, Cacilda Sena e Sueli Picanço serão algumas das moradoras mais cumprimentadas do Guará II. Em frente às suas casas, na Quadra 34, dezenas de crianças estarão ansiosas à espera dos doces que elas embalaram com muito carinho, nesta sexta-feira (26/09), para distribuir em comemoração ao Dia de Cosme e Damião. Seus filhos são adultos. Cacilda já é avó. Mas quando chega setembro, as amigas parecem crianças, como milhares de outras que aguardam impacientes pelo dia 27. Elas mantêm viva a tradição há mais de 10 anos. No início do mês as duas se preparam para as compras. Como boas donas de casa especulam preços, controlam as datas de validade - ;quem vai comer é criança, têm que ter cuidado;, avisa Sueli - e junta daqui, soma dali, quando se dão conta, já têm de tudo. E tome caixa de doce de abóbora, com uma cor tão vistosa que só de olhar dá água na boca! E as marias moles, tão molinhas que parecem derreter só de a gente tocar? E vão colocando tudo em cima da mesa da cozinha para montar os saquinhos que serão entregues às crianças. Paçoca, suspiro, pé-de-moleque, doce de batata, doce de banana no copinho de sorvete, jujuba, pipoca doce, mini gelatina, pirulitos, balas, balas e mais balas e muitos chicletes. No total, elas embalaram mais de 2000 doces, sem contar as miudezas. ;Comecei há 13 anos, por causa do meu neto, o Bruno César;, conta Cacilda. Um dia, a mãe de Cacilda, dona Alminta veio visitá-la na época da festa, viu o movimento, gostou, ajudou e resolveu continuar. Mas faleceu pouco depois. A filha prometeu aos santos não deixar mais de doar docinhos às crianças. Sueli está nessa há mais de 10 anos. ;Gosto da bagunça e gosto de criança, mas se vier um adulto e me pedir, não tem problema, leva doce também;, diz sorrindo. Grandes histórias Nesses tantos anos de festa de Cosme e Damião, as amigas já colecionaram grandes histórias da criançada que chega antes das 7h na frente das suas casas - moram quase ao lado uma da outra - e passa o dia se lambuzando com as delícias que elas distribuem até o fim da tarde. Ano passado, por exemplo, um menino com ;carinha de anjo;, como descreveu Sueli, ganhou a sua sacolinha e saiu todo feliz. Daí a pouco voltou, com jeito de apavorado. ;Tia, tia, eu tava (sic) passando lá no beco e um homem me assaltou e levou todos os meus doces. A senhora pode me dar mais?;, conta Sueli, às gargalhadas. Ou as gêmeas que ganharam os doces e pediram para a outra irmã. ;Nós somos três;, elas disseram. Sueli não acreditou. As meninas foram buscar a outra. Eram trigêmeas. E quando eles trocam as camisetas uns com os outros para fazer de conta que estão chegando pela primeira vez? ;A gente se diverte!”, garante Cacilda, que faz parte da Paróquia do Divino Espírito Santo, no Guará II, única no Distrito Federal que tem uma capela dedicada a São Cosme e São Damião. É ali que Elísia Junqueira Bispo trabalha como zeladora. Também é ali que ela exercita sua devoção aos santos gêmeos. Quando cuida das imagens, ou quando está em oração, Elísia reconhece a força dos santos que curavam sem pedir nada em troca e espalhavam a fé em Jesus numa época em que ser cristão era uma temeridade. ;Gosto muito deles e de estar aqui;, diz a zeladora. Boas vendas Olavo Ramos de Araújo tem uma loja de doces em Taguatinga há mais de 15 anos. E tem clientes que compram com ele desde que abriu a loja. ;Eles trazem a mesma relação por mais de um ano;, afirma. A maioria são senhoras de idade que levam os doces para distribuir em creches. Esse ano as vendas estão melhores do que ano passado, ele garante. Mas quem está mesmo feliz é Adaílda Miranda, do Guará I. Em 2007, dois dias antes de Cosme e Damião, as mil caixas de doces que havia comprado, acabaram. Correu para comprar mais. Este ano, ela resolveu se prevenir e comprou o dobro, mas pelo movimento de ontem ao meio-dia, estava acreditando que ia faltar. ;Quem comprou 100 docinhos ano passado, agora está comprando 200;, explica Adaílda, e completa: ;quem não deu doces em 2007, resolveu dar este ano;. Explicação? A empresária não tem, mas garante que entre suas clientes têm as que gastam até R$ 1mil com as guloseimas. ;É para pagar promessa. Elas levam em vários lugares;, afirma.