postado em 27/09/2008 08:44
História de amor que se preze merece um final feliz, e Tereso Ivan Lobato, 35 anos, sabia que com ele não seria diferente. Por 33 anos, o rapaz guardou consigo um sentimento maior que todos os outros: o amor pela mãe. Mesmo sem conhecer o rosto ou a voz da mulher que o gerou, ele contava os dias para encontrá-la. Os dois se separaram em 1975, quando a mãe de Ivan o deixou com apenas 1 ano e oito meses em Bequimão, no interior do Maranhão, para tentar a vida em Brasília. Nunca mais se viram.
Na madrugada de sexta-feira (26/09), Ivan pegou um avião em São Luís (MA) em direção à capital do país. Não pregou os olhos durante noite. O auxiliar de tráfego sabia que estava a poucas horas de ver a família pela primeira vez. No Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, logo viu a irmã mais nova, Alexandra Moisés dos Santos, 27 anos. Ela armou a vinda de Ivan para fazer uma surpresa à mãe, Firmina Lobato Costa, 54 anos.
O coração de Firmina não se engana. Desde terça-feira, ele bate mais forte avisando que era chegada a hora de preencher aquele espaço vazio há mais de três décadas. ;Tive uma intuição, sabia que meu filho viria. Só me lembro dele bebê, não sei explicar como soube;, disse. A mãe de Ivan fez aniversário na última quinta-feira e pressentiu que ganharia de presente uma visita do filho.
O desejo da mulher se realizou com a ajuda dos outros dois filhos, que descobriram o paradeiro do irmão desconhecido e o trouxeram para Brasília. No início da tarde de ontem, Firmina marcou de encontrar a família na praça de alimentação de um shopping para um almoço. Quando se aproximou, a filha Alexandra abraçava um rapaz de camisa azul e calça jeans. Sem nunca ter visto uma fotografia do filho, o reconheceu. ;Eu tinha muita saudade. Não recebi uma notícia, uma foto, nada;, revelou.
Tímido, Ivan abraçou Firmina com delicadeza. ;Fiquei sem palavras, só consegui dizer ;mãe;;, comentou. Os dois seguraram o choro até a hora de parar para conversar. Sentados lado a lado, mãe e filho eram só beijos e abraços. Com os olhos marejados, ela relembrou os fatos que os separaram na década de 70.
Imposição
A história de amor da família de Firmina começou com a chegada do bebê Ivan, em 1973. A mulher se casou com o pai biológico do garoto no Maranhão, mas queria melhores condições de vida para o filho. Ela decidiu se mudar, mas o pai a impediu de levar o neném, que tinha apenas 1 ano e 8 meses. Firmina veio para Brasília trabalhar em casas de família, e em seis meses foi indicada para uma vaga no Rio de Janeiro. Em território fluminense, nasceram Alexandra e Alexandre. Nenhum deles recebeu o nome da mãe na certidão de nascimento porque, na época, mulheres casadas não podiam registrar filhos fora do casamento.
Em Niterói, Firmina montou uma casa no Morro do Estado, centro da cidade, para criar os filhos. Ela trabalhou para um casal que adorava crianças. Alexandra e Alexandre passaram a viver na casa dessa família, mas viam a mãe diariamente. Anos depois, o casal adotou os meninos ; para a Justiça, eles não são filhos de Firmina, mas é a ela quem eles chamam de mãe. Quando os pais adotivos das crianças foram transferidos para Brasília, em 1992, todos se mudaram juntos. A mulher construiu uma vida nova e se desligou do Maranhão. Nos primeiros anos, mandou notícias por uma prima, mas com o tempo parou de se comunicar com os parentes que deixou para trás. Ivan queria localizá-la, mas não tinha pistas. Ele foi criado em Bequimão pelo tio Teodoro Edson Lobato, 54 anos. Na infância, teve acesso a algumas fotos da mãe, mas sempre que o assunto surgia em rodas de conversa da família, ouvia a mesma história: ela se mudou e ninguém tinha notícias.
Ivan viajou a trabalho para Brasília em 2002 e, por três dias, manteve a expectativa de esbarrar com algum familiar nas ruas da capital. Há três semanas, ele soube por um amigo delegado que estava sendo procurado pela irmã. ;Fiquei muito emocionado quando recebi a notícia, estava esperando por isso há anos;, disse. Ele pegou número de telefone de Alexandra, mas só teve coragem de ligar dois dias depois. ;A voz dele é muito parecida com a de um tio nosso, reconheci na hora. Como a gente nunca tinha conversado, perguntei o nome da mãe dele, a idade e outros dados para ver se batia;, lembrou Alexandra. O rapaz pediu autorização do chefe para viajar, colocou polpa de cupuaçu na mala para dar de presente e embarcou. Firmina e Ivan passarão o fim de semana juntos. Os dois garantiram que pretendem se falar toda semana para não perder o contato novamente. ;Quero conversar, passar afeto, poder abraçar toda hora, ficar perto o tempo todo;, concluiu Ivan.