Cidades

Violência praticada por garotas é cada vez maior no DF

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postado em 29/09/2008 08:06
;As meninas, na ligeireza mesma de sua idade, já são bem mais
ponderadas. São também mais meigas. Quase não as vereis
maltratar um cachorrinho,
sufocar ou depenar um pássaro. Elas têm encantadores impulsos de bondade e de piedade.;

;Não encontro formas para definir as atitudes de meninas capazes de utilizar as mais chulas palavras a fim de defender seus espaços, mas que também escolhem os mais
lindos versos para escreverem mensagens para seus amigos, para seus amores ou, ainda, para suas professoras.;

Alunas que tiram boas notas e as meninas bem arrumadas são alvos das adolescentes
A menina de ontem e a menina de hoje. A primeira, descrita em 1860, no livro A mulher, do francês Jules Michelet. A segunda, sob o olhar contemporâneo da pesquisadora Juliana Ribeiro Vargas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nos tempos modernos, as duas coexistem. Mas, nos últimos 10 anos, alertam os especialistas, atos de violência praticados por meninas estão mais freqüentes. Parte dos casos deságua na Sessão de Medidas Socioeducativas da Vara da Infância e Juventude (VIJ) do DF. Dos 608 processos deste ano, as garotas aparecem como autoras em 73. Número 37,7% maior do que todos os casos de 2007, quando elas estiveram envolvidas em 53 dos 685 processos.

O que leva uma garota de 13 anos a empunhar um revólver, apontar para a cabeça de uma professora e puxar o gatilho três vezes? Aconteceu no DF no último dia 19, na Escola Classe 8 de Ceilândia. A arma estava descarregada, dirão alguns. ;Eu não queria matar. Só assustar a professora;, justificou a jovem, dizendo-se traída pela coordenadora que relatou atos de indisciplina a uma suposta prima da garota.

Entender a complexidade do comportamento da adolescência feminina na atualidade é o objetivo da pesquisadora Juliana Ribeiro, do Núcleo de Estudos, Cultura, Currículo e Sociedade da UFRGS. Ela acaba de defender a dissertação de mestrado Meninas (mal) comportadas: posturas e estranhamentos em uma escola pública de periferia. Para a pesquisadora, o modo de ser menina mudou. ;Elas não são só violentas, só sensuais, só infantis, só meigas. São tudo isso ao mesmo tempo;, avaliou. E as garotas agem de formas diferentes a depender do meio em que vivem. ;A menina da periferia que briga e namora o traficante ganha status. Na classe mais abastada, o comportamento agressivo é malvisto;, diferencia.

Na última quinta-feira, o Correio percorreu três escolas públicas de Ceilândia, em busca das chamadas ;meninas-problema;. Na aparência não se diferem muito das outras alunas. Mas no olhar, sim. No começo é desconfiado. Com o tempo, ganha um ar desafiador. O orgulho de ser reconhecida como ;brigona; fica estampado no sorriso de cada uma das adolescentes com quem a reportagem conversou. Os nomes serão mantidos em sigilo em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

;O que te deixa irritada a ponto de partir para a agressão física?;, pergunto a uma garota de 14 anos, corpo franzino. ;Ah%u2026 ficar encarando, zombando da minha cara, essas coisas%u2026; Há uma espécie de código de conduta para evitar (ou provocar) confusão. Um ;esbarrão; pode acabar em briga. E esqueça os tapas e unhadas. Estamos falando em socos, pontapés. Ficar ;encarando; a outra ou xingar a mãe alheia também é pedir para ;levar porrada;.

As nerds ; meninas que se destacam pelas notas altas ; e as patricinhas ; as bonitas e bem arrumadas ; também são alvos. ;Ah, eu odeio nerds! Mas se elas passam cola são gente boa;, afirmou a jovem de 14 anos, cabelos claros. ;As patricinhas se acham%u2026 Dá muita raiva dessas meninas;, conclui uma adolescente de 15 anos, dona de um olhar desafiador.


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