postado em 29/09/2008 08:21
Quem chega ao Centro de Ensino Especial (CEE) nº 2, na 612 Sul, às terças e quintas-feiras, é recebido com uma música contagiante saída de um piano que descansa em uma das paredes da sala de entrada da escola. O responsável pela recepção calorosa é o pianista Genes Auvray, 33 anos, que dedica, duas vezes por semana, uma parte de seu dia aos 250 estudantes da escola que apresentam algum tipo de necessidade especial. Enquanto Genes toca, as crianças e adolescentes se posicionam ao redor dele dançando e cantando. O músico, deficiente visual, é um dos 1.880 Parceiros da Escola, programa da Secretaria de Educação do Distrito Federal.
A idéia de tocar música no início das aulas partiu do próprio pianista para contribuir de alguma forma com a escola que recebeu a filha Thamires, de 1 ano e dois meses, que tem paralisia cerebral. As apresentações, iniciadas em fevereiro, já começam a mostrar os primeiros resultados. ;Tenho notado uma melhoria das crianças. Elas vêm tendo uma participação efetiva e essa é uma sensação que não tem preço. Faço com carinho para deixar as pessoas mais alegres e continuarei fazendo enquanto puder;, afirma.
O projeto, lançado em julho de 2007, já conseguiu selar parcerias que se transformaram em 1.150 ações em 380 das 620 instituições da rede pública do DF. O objetivo da iniciativa é inserir a comunidade no ambiente escolar, de forma a que ela também se sinta responsável pela melhoria da educação, com a recuperação da estrutura física ou participação no programa pedagógico. Os exemplos de parcerias são variados e mostram que a contribuição pode vir de qualquer lugar, independentemente do poder aquisitivo de quem ajuda.
Segundo o diretor do programa, Ricardo Noronha, o empenho da secretaria, agora, é capacitar os diretores das escolas na busca de novos parceiros para as instituição, por meio de reuniões realizadas com as administrações regionais. ;Acreditamos que o pontapé inicial deve ser dos diretores e, por isso, vamos até eles para dar dicas de como estabelecer essas parcerias, mostrando como chamar a sociedade organizada para participar da iniciativa;, avalia.
Auto-estima
Ricardo Noronha informa que enquanto algumas escolas contam com 10 ou 20 parceiros, outras ainda estão à espera de voluntários que aceitem contribuir com a melhoria da educação. ;A Constituição brasileira diz que a educação deve ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Nas escolas apadrinhadas, as crianças se sentem seguras e há uma melhora significativa da auto-estima não só dos alunos, mas principalmente do corpo docente. Não deve ser um programa de governo, mas de Estado. O programa já é um sucesso. Ele caminha pelas próprias pernas e nos sentimos muito felizes;, diz Noronha.
Na mesma escola onde Genes é parceiro, a União Química Farmacêutica Nacional resolveu contribuir com a construção de um novo parque aquático, a construção de um bloco de atividades e a pintura geral do prédio. O jardim também recebe um tratamento especial. O responsável pela manutenção e cultivo de plantas que colorem o ambiente é o comerciante Carlito de Moreira Menezes, 43. A decisão de se tornar responsável pelas plantas da escola foi a forma encontrada por Carlito de tentar retribuir o apoio que recebeu durante o tempo em que o filho Charles Moreira de Souza, 19, estudou no local.
Atualmente, Charles é aluno do Centro Integrado de Ensino Especial (CIEE), que também conta com a parceria do comerciante. ;Vi o jardim mal -cuidado e me deu pena. Das 8h às 9h30, cuido do jardim do CIEE e depois desço para a segunda parte do trabalho no CEE, onde permaneço até a hora da saída do meu filho;, relata. Para poder comparecer diariamente ao trabalho voluntário, o proprietário de um pequeno comércio em Santa Maria teve que contratar um funcionário para cuidar do negócio. ;Não contribuo com dinheiro, mas acredito que meu trabalho tem a mesma importância da doação de um grande empresário. Faço com as minhas mãos;, garante.
A rede Gasol, proprietária de postos de combustível, é uma das grandes colaboradoras do projeto. Já financiou 30 bibliotecas públicas em escolas e outros locais, além de contribuir para a reconstrução da Escola Classe do Varjão. ;Esse é um trabalho espetacular e tem sido uma satisfação muito grande porque vemos o resultado não só na escola, mas também na comunidade da qual ela faz parte. Já distribuímos mais de 640 mil livros que são arrecadados nos nossos postos;, diz Antônio Matias, 45, diretor da rede.
Metas e ações do programa
1. Combater os baixos níveis de aprendizagem, repetência e atraso escolar até 2010
Ação: Apoio aos programas Acelera DF (aceleração de aprendizagem) e Se Liga DF
2. Melhorar as condições físicas e pedagógicas das escolas para
o atendimento de estudantes com necessidades especiais
Ação: Ajuda à restruturação (infra-estrutura, equipamento e ações pedagógicas) dos centros de ensino especial e aos projetos socioeducativos para alunos maiores de 21 anos que terminaram o ensino fundamental e/ou médio
3. Ampliação da oferta de ensino de línguas para
escolas públicas de todas as regiões administrativas do DF
Ação: Restruturação dos centros de língua da rede
pública de ensino (infra-estrutura física)
4. Melhoria das condições físicas das escolas da rede
pública mediante construção, reformas e reparos até 2010
Ação: Ajudar na restruturação física de escolas da rede pública de ensino
5. Promover a melhoria da gestão da escola pública
Ação: Assessoria administrativa, contábil e jurídica
para diretores e funcionários das escolas
6. Desenvolver atividades extracurriculares de apoio e aprendizagem
Ação: Oferta de cursos, oficinas e outras atividades relacionadas a lazer,
esporte e cultura, além da ampliação de vagas de estágio para
alunos egressos do ensino médio das escolas públicas
Como ajudar
O interessado em participar do programa pode ligar no telefone 3355-8080 ou mandar um e-mail para parceirosdaescola@gmail.com . No site www.parceirosdaescola.df.gov.br é possível encontrar informações sobre o projeto, a ficha de adesão e saber sobre os parceiros de cada escola