Cidades

Parque da Cidade completa três décadas sem ter muito o que comemorar

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postado em 05/10/2008 08:39
O nariz inspira e expira enquanto as pernas se alternam no asfalto quente da pista de cooper. O grito fino da criança sai do foguete e ecoa longe. O sol atiça a melanina da pele exposta às margens do lago do pedalinho. A água-de-coco gelada desce rasgando a garganta. A rotina do Parque Dona Sarah Kubitschek é a mesma há quase 30 anos. No próximo sábado, a área verde de aproximadamente 400 hectares completa três décadas desde a inauguração, em 11 de outubro de 1978. Inicialmente nomeado Parque Recreativo Rogério Pithon Farias, o espaço ganhou da população o apelido de Parque da Cidade. Ele conserva atrações antigas, público fiel e o espírito de veraneio que reina no ambiente. O Distrito Federal cresceu, os hábitos mudaram, mas o parque continua sendo um dos pontos de turismo e lazer mais procurados de Brasília ; são 20 mil visitantes aos sábados e domingos, e de 5 a 8 mil nos dias de semana. Com entrada gratuita e opções de esporte e recreação, ainda é lá que muitas famílias escolhem passar o fim de semana. O aposentado Osdyr Brasileiro Matos, 67 anos, chegou a Brasília em 1960 e viu o parque surgir no meio do cerrado. Ele caminha no local diariamente e acredita que a cidade só tem a comemorar com o aniversário. ;Isso aqui realmente é uma coisa fantástica. Não sei o que pode ser melhor;, elogiou. Os corredores tomam a pista de cooper no início da manhã e ao fim do expediente de trabalho. Dividem espaço com ciclistas, patinadores e carrinhos de bebê. ;As pessoas ainda vêm contemplar o pôr-do-sol, ler um livro, encontrar os amigos. O pessoal faz capoeira, tai-chi-chuan, é um ótimo espaço em plena capital;, comentou a administradora do parque, Joseni Ferreira. As atrações da festa de aniversário são velhas conhecidas do público. O parque Ana Lídia e o Nicolândia, por exemplo, encantaram gerações e até hoje estão entre os preferidos das crianças. Quem gosta de adrenalina prefere a pista de skate ou as curvas do circuito de kart. A sombra das árvores refresca o sono de quem não gosta de suar a camisa. Na hora do almoço, é só correr para os restaurantes e lanchonetes que alimentam atletas e amadores desde a década de 1970. Um toque de gênio O projeto original do Parque da Cidade surpreende pela variedade de equipamentos planejados para promover cultura, esporte e lazer. O espaço é um dos vários exemplos de que a união entre as idéias de Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Burle Marx tem resultados fabulosos. O paisagista Burle Marx dividiu o parque em cinco zonas, integradas pelo projeto paisagístico. As áreas Administrativa, Cultural, Esportiva, Feira e Lago concentram atividades correlatas, mas não são isoladas umas das outras. A arquiteta Joana Tanure pesquisou a obra de Marx e encontrou as origens do projeto idealizado para o parque de Brasília. Na dissertação de mestrado O Projeto de Paisagismo de Burle Marx e equipe para o Parque da Cidade, defendida em 2007 na Universidade de Brasília (UnB), ela busca destacar o valor do trabalho de Marx para o brasiliense. Joana explica que o paisagista recomendou o uso de 200 espécies de plantas, que seriam dispostas em conjuntos organizados para criar marcos visuais no parque (pontos com características marcantes para orientar o visitante). ;Ele voltou de uma viagem disposto a usar a vegetação nativa nos jardins usando princípios da pintura. Ele foi um dos primeiros a usar isso em Brasília;, comentou a arquiteta. Se o projeto de Marx tivesse sido seguido à risca, o Parque da Cidade teria diversos pontos para os visitantes explorarem. A Praça das Fontes ; atualmente desativada, com calçadas quebradas e lagos vazios ; seria circundada por árvores, um restaurante e uma lanchonete. ;Quando a pessoa entrasse, ela ia ver algo fantástico, uma surpresa;, explicou Joana. A importância dos parques modernos cresce com a industrialização, porque o ambiente das cidades ficou mais poluído e pesado. ;O parque proporciona contato com a natureza. Os espaços da cidade estão cada vez menores, o parque dá amplitude e movimento ao corpo;, disse a arquiteta. A pesquisadora acredita na valorização do projeto de Burle Marx para preservar o conceito original do parque e revitalizá-lo. Joana concluiu o projeto de uma exposição sobre o parque. Ela busca patrocínio para montar os painéis com imagens que contam a história do local. Festa A semana de celebração começa neste domingo (05) com a tenda da leitura no parquinho Ana Lídia e aulas de ginástica perto da administração. No próximo fim de semana, as brincadeiras de antigamente serão resgatadas no estacionamento 4. Leia mais na edição impressa do Correio

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