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No dia em que se comemora a doação de medula óssea, Brasília apresenta quadro preocupante

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postado em 06/10/2008 08:07
No Dia Mundial da Doação de Medula Óssea, celebrado hoje, não há muito o que comemorar na capital do país. Brasília, cidade referência pela qualidade de vida nos quatro cantos do Brasil, não tem um hospital sequer ; público ou particular ; que realize o transplante entre pessoas que não sejam da mesma família, o que corresponde à exclusão de 75% dos pacientes. Além disso, faltam reagentes para fazer o exame que identifica a compatibilidade entre doadores e receptores no Laboratório Central do Hospital de Base do Distrito Federal. O sangue coletado na cidade para compor o banco de doadores nacional tem que ser enviado para centros médicos de Goiânia (GO). Apesar da situação, pacientes como Bruno Bukvic, 23 anos, não perdem a esperança de conseguir o transplante (leia texto abaixo). A medula é o tecido encontrado no interior dos ossos e tem a função de produzir as células do sangue: glóbulos vermelhos e brancos e plaquetas. São essas células que transportam o oxigênio do pulmão para os demais tecidos do corpo e protegem o organismo contra agentes infecciosos, como vírus e bactérias. Por isso, o transplante de medula trata casos de doenças hematológicas, como a leucemia ; tipo de câncer que afeta os componentes sangüíneos. ;É a última esperança de cura, quando o tratamento quimioterápico não resolve;, explica a coordenadora da Central de Captação de Órgãos do DF, Daniela Salomão. A possibilidade de achar um doador compatível no Brasil é de uma em 100 mil. Não bastasse a sorte, os pacientes lutam contra a precariedade da rede de saúde pública. Além da falta de reagentes para realizar o exame conhecido como HLA, a única máquina capaz de fazer o teste está com defeito. ;Vamos resolver tudo até segunda-feira (hoje);, prometeu o secretário adjunto de Saúde, Florêncio Figueiredo. Ele ressaltou que há hospitais na cidade aptos a fazer o transplante entre parentes ; que conta com um pós-operatório mais seguro pela compatibilidade genética ;, mas não há previsão para o tratamento com doadores desconhecidos, maioria dos casos. Nos próximos dias, diversos pontos de coleta oferecerão estrutura para o cadastro de voluntários. Na semana passada, durante campanha na Escola Canarinho e no Parque da Cidade, 700 pessoas se inscreveram no banco de doadores. ;Aproveitei para praticar a solidariedade. Achar alguém compatível é muito difícil, mas, se cada um ajudar fica mais fácil;, disse o sargento da Polícia Militar Alberto Lopes. Fila da agonia No Brasil, há cerca de 800 mil pessoas cadastradas no Registro Nacional dos Doadores de Medula Óssea e 3 mil pacientes à espera de um transplante. O DF representa 6% do total de inscritos, aproximadamente 48 mil voluntários. Segundo Daniela Salomão, a falta de informação faz com que muitas pessoas não participem das campanhas (veja quadro). ;São retirados 4 ml de sangue para fazer o cadastro. Caso haja compatibilidade com algum paciente, o voluntário será comunicado posteriormente;, explica a médica. Antes do transplante, o doador passa por novos exames, e não é necessário internação. ;Não há cortes cirúrgicos. Usamos anestesia local para retirar parte da medula do osso ilíaco e em duas semanas a medula do doador está regenerada;, acrescentou. PARTICIPE DA CAMPANHA Confira os locais da coleta de sangue. Podem doar pessoas com idade entre 18 e 55 anos. É preciso apresentar documento de identidade. # Terça e quarta-feira Prédio dos Correios (Setor Comercial Sul) # Quinta-feira Escola Canarinho (408 Norte) # Sábado e domingo Hipermercado da Terra, em Luziânia (GO) O Hemocentro de Brasília, que fica na SMHN Quadra 3, Conjunto A, realiza a coleta de sangue de segunda a sábado, das 7h às 18h. Mais informações: 3327-4424. Um golpe do destino O envelope com o resultado de um exame sangüíneo corriqueiro, aberto na tarde de 19 de março, revelou a doença que ele conhecia como ;de alto risco;. Testes mais detalhados confirmaram: o brasiliense Bruno Bukvic, 23 anos, estava com leucemia. Desde então, o jovem, que estava no último semestre do curso de engenharia mecânica na Universidade de Brasília, praticava esportes, dedica-se exclusivamente à quimioterapia. Para enfrentar a espera pelo transplante de medula óssea, o valente Bruno conta com o amor e a dedicação incondicional da família e da noiva, Daniela. Na tarde de sábado, o morador do Lago Sul compartilhou sua experiência com o Correio. Disse que a parte mais difícil foi superar a quebra da rotina. ;Estava me preparando para a vida profissional. Agora preciso focar a vida na minha cura;. E afirma que o seu maior desejo é ver as pessoas e o governo se conscientizarem da importância das campanhas para cadastro de doadores voluntários. ;Se as pessoas soubessem como é fácil ajudar e a grandeza do alívio de quem espera, seria tudo mais tranqüilo;, observou. O jovem de sorriso largo se sente triste ao perceber que não pode contar com o apoio necessário da rede de saúde pública da capital do país ; ;É tudo muito precário;. (JC)

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