Cidades

Palácio da Alvorada: mãe do invasor diz que teme por futuro do filho

;

postado em 07/10/2008 08:13
Quando despertou no leito do Hospital de Base de Brasília (HBB), depois de seis horas de cirurgia, o jovem que levou um tiro na perna direita ao tentar invadir o Palácio do Alvorada na manhã do último domingo pensou que se recuperava de um coma alcoólico. O técnico em informática Denysberg Carvalho Alves de Resende, 22 anos, contou aos policiais federais, deitado em uma das salas do centro cirúrgico, ter bebido, no mínimo, 20 latas de cerveja antes de resolver caminhar em direção à residência oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Denysberg foi submetido a um exame toxicológico no hospital, onde ainda permanece em observação. A mãe do jovem, que não quis se identificar, revelou ao Correio que o filho, de fato, fica desorientado quando ingere bebida alcoólica. ;Ele me disse que não sabe como foi parar lá (no Palácio do Alvorada). Por isso não sei direito como aconteceu;, disse a mulher, preocupada com as conseqüências do episódio para a vida profissional do rapaz. Na saída da enfermaria do hospital, no início da noite de ontem, a mãe afirmou que Denysberg, conhecido como Denis, recupera-se bem da cirurgia, está consciente e não sabe quanto tempo terá de permanecer em observação. Delegado dá caso de invasão ao Palácio por encerado O jovem curtiu a noite de sábado com amigos em um show de reggae realizado às margens do Lago Paranoá, de acordo com o depoimento colhido pela polícia. O espaço, onde antigamente funcionava uma tradicional churrascaria da cidade, fica a 1km do palácio. Na festa, cada lata de cerveja era vendida a R$ 0,99, conforme ainda anunciava ontem um cartaz jogado no chão, no local do show. ;A turma saiu doidona. Não tinha ninguém sóbrio;, afirmou o porteiro de um hotel que fica na mesma rua. Já tinha amanhecido no momento em que Denysberg, sozinho, de calça jeans e blusa preta, caminhou até o palácio e pulou no espelho d;água repleto de lodo e moedas jogadas por visitantes. Após atravessar os cerca de 2,5m do espelho, o rapaz desobedeceu a placa de ;proibido pisar na grama; e a ordem de um soldado do Exército que estava de plantão. Denysberg pisou no gramado que separa o espelho d;água da casa do presidente, e correu em direção ao soldado. Antes de atirar, por volta das 7h, o militar apitou várias vezes, advertiu-o verbalmente e disparou para o alto. Como o rapaz não parou, levou um tiro de calibre .12 pouco acima do joelho direito. O delegado regional executivo da Polícia Federal em Brasília, Marcelo Mosele, convocou ontem a imprensa para dizer que a tentativa de invasão está esclarecida. ;Não houve motivação política. Foi uma alucinação;, resumiu. ;Ele não se lembra de nada;, contou. Denysberg assinou, ainda no domingo, um termo circunstanciado e, quando receber alta, responderá em liberdade pelo crime de desobediência ; previsto no artigo 330 do Código Penal. A legislação prevê pena de 15 dias a seis meses de prisão. O juiz pode, no entanto, optar por penas alternativas, como a distribuição de cestas básicas. Os médicos não têm previsão de quando o rapaz, nascido em Teresina (PI), poderá voltar para casa, no Guará, onde dá aulas em uma escola de informática. A cirurgia foi delicada. Um ortopedista e um cirurgião vascular tiveram que restaurar duas artérias do joelho do jovem. Pelo menos 10 pedaços do projétil foram removidos. Em setembro deste ano, o invasor foi parar na Delegacia de Repressão a Pequenas Infrações por tentar invadir uma festa no Setor de Clubes Sul. Antes disso, em 2005, acabou detido com pouco mais de 3g de maconha. Na época, ele estagiava em um banco. No ano passado, teve de cumprir quatro meses de prisão em regime aberto ; apenas dormia na cadeia ; por ;porte ilegal de substância entorpecente para uso próprio;. Um exame psiquiátrico feito à época da prisão apontou que o jovem era dependente da maconha ;com grau leve e moderado;. Colaborou Raphael Veleda Coronel Zanotta: o guarda agiu bem ao impedir a invasão Em defesa do soldado O Exército abriu ontem um inquérito policial militar para investigar a ação do soldado que disparou contra Denysberg. O resultado deve sair em 40 dias. Em nota enviada ao Correio, a corporação disse que, na manhã de domingo, houve um ;disparo de neutralização;. O coronel Homero Zanotta, assessor de imprensa do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, voltou a afirmar que a decisão de atirar contra o invasor foi acertada. ;O soldado cumpriu sua missão. E ainda teve o bom senso de não fazer um disparo fatal;, avaliou. O coronel não quis divulgar a quantidade de policiais que protegem a residência do presidente Lula nem quantos estavam de plantão na manhã de domingo. Alegou motivos de segurança. Segundo ele, a orientação aos militares é barrar o acesso de pessoas não autorizadas ao palácio. Primeiro, o invasor deve ser advertido verbalmente. Depois, o soldado deve disparar um tiro de alerta, para cima. E, em último caso, apela-se para o disparo contra a pessoa. O coronel Zanotta também não quis comentar sobre outras tentativas de invasão do Alvorada. As mais conhecidas ocorreram no Palácio do Planalto. Três militares e quatro seguranças particulares estavam de prontidão na entrada do palácio no início da tarde de ontem. Visitantes do ponto turístico comentavam a tentativa de invasão ocorrida no domingo. ;Ele (o jovem invasor) queria ver o presidente Lula e nem marcou uma audiência antes;, comentou, em tom de brincadeira, o comerciante Nemias Silva, 35 anos, que levou o irmão do Maranhão para ver de perto a casa do presidente.(DA)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação