Cidades

Ministério Público acusa gerente de cassino no Lago Sul de envolvimento com Barão do Ecstasy

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postado em 07/10/2008 08:18
Apontado pela polícia como o gerente do cassino que funcionava na Península dos Ministros, Wladimir Billota Duarte, 37 anos, é acusado pelo Ministério Público Federal de envolvimento com a quadrilha de Michele Tocci, conhecido como o Barão do Ecstasy do Distrito Federal. O nome dele consta em dois processos que tramitam no Tribunal Regional Federal: um por crime de tráfico e uso de drogas, e outro por ;lavagem; ou ocultação de bens, direitos ou valores. Em 2005, quando a quadrilha de Tocci foi desmontada, Wladimir Billota Duarte chegou a ficar preso 100 dias. A polícia informou que interceptações telefônicas teriam mostrado que, naquele ano, Wladimir embarcou no dia 27 de janeiro para Paris com cocaína pertencente ao grupo. Antes, ele teria se hospedado em São Paulo financiado pela quadrilha. Na época, Wladimir declarou ao Correio que houvera uma infeliz coincidência, porque ele conhecia dois dos apontados pela polícia como integrantes do grupo criminoso (Ricardo Paranaguá e Augusto César de Almeida Lawall). Mas negou qualquer envolvimento com o crime. Wladimir Billota aparece no site do DF Pôquer como membro efetivo. No ranking de 2008 de jogadores, aparece na posição 106 de um total de 184. Responsável pela operação que fechou o cassino do Lago Sul, o delegado-chefe da 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul), Antônio Cavalheiro, confirmou à reportagem que Billota é um dos quatro integrantes da associação que gerenciava os jogos, e é o mesmo homem que, em 2005, acabou preso com o bando de Tocci. ;Sobre isso (a ligação de Billota e Tocci ) não tenho o que falar;, resumiu Cavalheiro. Desde que o escândalo veio à tona, o Correio tenta contato com Billota. No fim da tarde de ontem, ele atendeu a reportagem. Por telefone, disse que não daria entrevista. Em seguida, criticou a cobertura da imprensa que, na opinião dele, tem divulgado matérias contrárias ao pôquer. Indagado sobre a cobrança de 10% sobre as apostas ; conforme revelou a investigação policial e que, pelo artigo 50 da Lei de Contravenções Penais, caracteriza a exploração de jogos ; Billota assegurou que ;tudo é revertido em prol dos associados;. Perguntado sobre quais benefícios os associados recebem, ele citou ;viagens e melhoria do ambiente;. Sobre os processos que responde, Wladimir disse que não ia falar e desligou o telefone. No fim de semana a reportagem localizou outro endereço, na QI 23 Chácara 9, também no Lago Sul, onde, segundo o site DF Pôquer haveria um torneio a partir das 14h de sábado. De acordo com o site, trata-se da sede da Capital Poker. Na hora marcada não havia movimentação. A propriedade é cercada por muro alto e vigiada por três câmaras de vigilância. Um jogador da Capital Poker aceitou conversar com a reportagem desde que seu nome fosse mantido em sigilo. Segundo ele, o local é freqüentado por um público seleto. O homem confirmou que 10% das apostas ficam com a casa. (leia depoimento). Estevão Na manhã de ontem, o ex-senador Luiz Estevão entrou em contato com Cavalheiro para informar que encaminhará, ainda esta semana, a cópia do contrato de locação do imóvel onde funcionava a jogatina na Península dos Ministros. A casa é do Grupo OK, de propriedade do empresário. ;Se a cópia do contrato bater com os suspeitos, a investigação está fechada;, afirmou o delegado. Ele pretende concluir a investigação na próxima semana. O delegado não quis revelar o nome dos outros três integrantes da associação ; um deles é Wladimir Billota Duarte. Segundo Cavalheiro, a associação ;quer dar uma aparência de legalidade; ao que ocorria no local. ;Uma coisa é jogar com os amigos esporadicamente, mesmo que se faça aposta em dinheiro. Outra, é viver do jogo. Isso é contravenção penal;, diferenciou. Os telefones da Polícia Civil para denúncia são 197 ou, da 10ª DP, 3248-9600. Uma coisa é jogar com os amigos esporadicamente, mesmo que se façam apostas. outra é viver do jogo. isso é contravenção penal Antônio Cavalheiro, delegado-chefe da 10ª DP Memória Conexões com o tráfico Entre 15 e 18 de fevereiro de 2005, a Polícia Civil do DF prendeu sete pessoas supostamente envolvidas num esquema internacional de tráfico de drogas: Marco Antônio Gorayeb, 42 anos na época; Augusto César de Almeida Lawall, 32; Marcelo Maghenzani, 29; Leandro Caetano Pompeo; Wladimir Bilotta Duarte, 33; Ricardo de Paranaguá Piquet Carneiro, 33; e Sandra Gorayeb, 36. A maioria é de classe média alta e mora em endereços nobres de Brasília, como os lagos Sul e Norte. Desde 2002, o grupo levava cocaína para a Europa e trazia drogas sintéticas, como o ecstasy e LSD, para vender em raves e casas noturnas. Em maio de 2005,o procurador Valtán Furtado apresentou denúncia do Ministério Público Federal contra 12 pessoas por tráfico internacional de drogas, entre elas os citados acima. A denúncia revelava que o publicitário Michelle Tocci, 33, conhecido com o Barão do Ecstasy, financiava as viagens para a Europa. Tocci se apresentou à polícia em maio de 2005 e negou envolvimento nos crimes. Por se tratar de tráfico internacional, o caso foi para a Justiça Federal. Em junho de 2005, o juiz substituto da 12ª Vara Federal, Ronaldo Desterro, aceitou denúncia contra sete dos oito brasilienses acusados pelo Ministério Público Federal. O publicitário apontado como líder do grupo, Michele Tocci, 31 anos, além de Marcelo Maghenzani, 29, Ricardo de Paranaguá Piquet, 33; Augusto César de Almeida Lawall, 32; e os irmãos Sandra, 36, e Marco Antônio Gorayeb, 43, responderão pelos crimes de associação para o tráfico de drogas e tráfico. Wladimir Billota, 34, apenas por associação. Todos respondem ao processo criminal em liberdade. Os oito acusados estão sendo novamente interrogados pela Justiça Federal. O próximo passo dos processos que tramitam na 12ª Vara do DF serão as oitivas de testemunhas. Na tarde de 2 de setembro passado, agentes da Coordenação de Repressão às Drogas prenderam o Barão do Ecstasy sob a alegação de que ele continuava a agir na distribuição de LSD, ecstasy e maconha para jovens de Brasília e outras capitais do país. entenda o caso Jogatina de poderosos Na madrugada de 2 de outubro, agentes da 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul) puseram fim à jogatina que ocorria no Conjunto 9 da na QL 12, uma casa na Península dos Ministros. No cassino, que funcionava havia cerca de dois meses no local, 40 pessoas foram presas ; entre funcionários e apostadores ; e o material de jogo, como fichas e baralhos, apreendido. Livros-caixas e recibos que comprovam a movimentação financeira no lugar também foram recolhidos, assim como papéis de inscrição da Associação de Poker Competitivo do DF, considerada irregular pela polícia. A casa está no nome do Grupo OK, de propriedade do empresário Luiz Estevão. No domingo, a reportagem do Correio flagrou o anúncio de um torneio na Chácara 9 da QI 23 do Lago Sul, mas o local passou os últimos dias fechado. Em 12 de setembro, a Polícia Civil estourou dois cassinos na Asa Sul, um na 514 e outro na 714. Durante a operação, 25 pessoas foram presas, entre elas um policial militar e servidores do Congresso e do Banco Central. A Lei das Contravenções Penais (Decreto nº 3.688/41) proíbe a exploração de jogos de azar no Brasil e prevê detenção de até um ano para quem se beneficia. depoimento - praticante de pôquer ;Lá só tem Ferraris e Porshes ; Não se pode entrar lá (sede da Capital Poker, na QI 23 chácara 9 no Lago Sul) sem convite. Mas não é um convite formal, vem do boca a boca, de quem conhece. O valor da entrada fica em torno de R$ 50. Geralmente tem duas modalidades, que funcionam em ambientes diferentes. No Cash Game (jogo do dinheiro), os jogadores apostam dinheiro diretamente, de R$ 50 a R$ 2 mil, dependendo da mesa. A cada mão (rodada), 10% do total fica para a casa. Não acho que seja errado, pois eles colocam a estrutura de alimentação e mesas ao nosso dispor. O outro é chamado de ;torneio; e é menos prejudicial, pois se paga um valor de inscrição para ganhar uma quantidade de fichas. No estacionamento da casa só tem Ferrari, Porshe. Os mais baratos são Audi. Lá jogam juízes, desembargadores, delegados da Polícia Federal. Para fechar o local, a Polícia Civil seria pouco. Mas ninguém tem freqüentado. As pessoas estão com medo de serem presas. Eu jogo há seis anos para me divertir. Sou casado, tenho filhos e nunca prejudiquei a renda familiar por causa disso. Apesar de saber de pessoas que não conseguem ficar sem jogar e chegam a dever R$ 80 mil para a casa. Conheço o gerente, mas ninguém sabe quem é o dono. Acho que é preciso diferenciar extorsão da modalidade esportiva. O pôquer exige experiência e tática, como o xadrez. É preciso que as autoridades revejam essa repressão às casas de jogos que não estão envolvidas com o tráfico. O autor deste depoimento pediu que sua identidade fosse preservada

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