postado em 07/10/2008 08:28
Geane Silva do Nascimento, 25 anos, mora em Brazlândia, a 45km de Brasília. Os ônibus por lá circulam a cada 50 minutos. A frota é velha e os carros vivem quebrando, afirma a usuária. ;Ninguém se preocupa com a gente. Os ônibus estão sempre lotados, eu volto exausta para casa;, reclama a jovem. A queixa de Geane é a mesma de milhares de passageiros que lotam os coletivos todos os dias no Distrito Federal. Os apelos e críticas das pessoas, no entanto, surpreendem o secretário de Transportes, Alberto Fraga: ;Se aumentamos a frota (350 microônibus), como o sistema pode ter piorado?;, pergunta. Para ele, o crescimento do número de veículos deveria ter diminuído as queixas dos usuários. Numa visita à Rodoviária do Plano Piloto é possível constatar que os passageiros estão descontentes com a quantidade de veículos em circulação, com os ônibus velhos que apresentam defeitos quase todos os dias, com os engarrafamentos, as passagens caras e o péssimo tratamento dispensado aos idosos. Os problemas no sistema de transporte não estão restritos à qualidade dos ônibus. O déficit de vagas de estacionamento, o aumento no número de acidentes de trânsito e uma frota superior a 1 milhão de veículos, com crescimento de 9,2% ao ano, são ingredientes importantes nessa receita. Diante disso, a Secretaria de Transportes corre atrás de um novo Plano Diretor do Transporte Público Urbano do DF. O último foi feito em 1980, há 28 anos. Portanto, o DF está devendo 18 anos de revisão ao brasiliense. Isso porque, de acordo com a Lei nº 10.257/01, conhecida como Estatuto das Cidades, a cada 10 anos os municípios brasileiros devem rever os planos diretores. A defasagem contribui para tornar crítica a situação do transporte público da capital, reconhece o secretário Fraga. ;Não tenho dúvidas. O plano é que norteia as atividades de trânsito e transporte. Essa é a dificuldade de não termos um caminho a seguir;, aponta. Tentativa de diagnóstico Por causa desse hiato, que atinge a maioridade, a secretaria encomendou uma pesquisa para conhecer as condições de deslocamento da população nas áreas urbanas, com o objetivo de melhorar o transporte e o trânsito no DF. ;São mais de mil ônibus transportando em torno de 100 mil passageiros todos os dias que chegam e saem de Brasília;, informa a subsecretária de Política de Transportes, Elaine Santos. Para realizar essa radiografia, a Secretaria de Transportes vai gastar R$ 3, 9 milhões. Na intenção de pôr em prática o plano serão feitas duas pesquisas ; a que coleta dados e informações dos deslocamentos da população do DF e Entorno, e que servirá para o planejamento do transporte; e a que faz a contagem da quantidade de veículos que entram em Brasília, para identificar as carências no atendimento do transporte. O secretário prevê que, se o diagnóstico estiver correto, em dois anos será possível falar de um transporte de qualidade em Brasília. Com isso, ele acredita que as pessoas que atualmente não aceitam deixar o carro em casa para andar de ônibus vão mudar de idéia. ;Já fizemos uma pesquisa que mostra que 70% da população trocaria o carro pelo ônibus se houvesse transporte coletivo de qualidade;, garante o secretário. Espaço para cidadania O urbanista e professor da Universidade de Brasília Ronald Bello (UnB) elogia as iniciativas do atual Governo do Distrito Federal ; que já lançou propostas como as ciclovias, o sistema de transporte integrado, as faixas exclusivas para ônibus ;, mas faz críticas à condução dos projetos que não garantem o que chama de ;espaço para cidadania;. Segundo Bello, a administração tem ;excelentes engenheiros de tráfego e de transporte, mas não tem urbanistas para trabalhar a qualidade das propostas;. Qualidade significa oferecer à população, no local onde ela mora, os serviços de que ela necessita, como escola, médico, farmácia, supermercado, comércio, lazer. Sua proposta é que não apenas o Plano Piloto seja urbanizado no sentido de oferecer uma boa qualidade de vida, mas as demais cidades e os lagos também.