Cidades

Estátuas afro-brasileiras que enfeitavam praça ainda não foram restauradas

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postado em 09/10/2008 08:21
O cenário na Prainha é desolador
;A Praça dos Orixás se tornou referência para os praticantes dos ritos afro-brasileiros. Abriga 16 estátuas de divindades criadas por Tatti Moreno. Na passagem do ano, o local se transforma na verdadeira praia do cerrado, onde os adeptos pedem bênção e paz.; As palavras acima estão escritas na placa de identificação da Praça dos Orixás, que fica na Prainha às margens do Lago Paranoá. Mas não condizem com a atual realidade do local. A menos de três meses do réveillon, a Prainha está abandonada e a festa corre o risco de não ter o mesmo brilho do que a de anos anteriores. As 16 estátuas dos orixás foram retiradas no começo de 2008 para serem restauradas, mas até hoje estão guardadas no galpão do artista que as criou, o baiano Tatti Moreno, porque ele não recebeu o dinheiro prometido há mais de um ano para devolver a beleza às esculturas, que foram depredadas por vândalos em 2005. O cenário na Prainha é desolador. Além de estarem vazios, os pedestais reservados para as estátuas estão pichados. Dos 17 refletores instalados para iluminar os orixás, resta apenas um. O local está sujo e malcuidado. Na beira do lago, onde os fiéis jogam oferendas para Iemanjá na virada do ano, o mato toma conta da areia. Sem iluminação e segurança, a Prainha se tornou reduto de marginais. ;Não podemos fazer eventos lá à noite. Depois das 20h, o local serve de ponto de uso e tráfico de drogas e encontros sexuais;, contou a presidente da Federação Brasiliense e do Entorno de Umbanda e Candomblé, Marinalva Venozina dos Santos Moreira. As esculturas dos deuses da cultura afro-brasileira foram feitas em 2000. Elas têm 2,40m de altura e cada uma vale cerca de R$ 100 mil. Em setembro de 2005, ocorreu o primeiro ataque: Nan, a senhora da morte, desapareceu da praça e foi encontrada quatro dias depois, com a cabeça e os braços arrancados. Três meses depois, a imagem de Iemanjá foi carbonizada. Os ataques continuaram no ano seguinte e, ao todo, todas as esculturas foram danificadas ; sendo que oito ficaram totalmente destruídas (leia Memória). Sem documento Em junho do ano passado, Tatti Moreno recebeu o aval do Ministério da Cultura e da Fundação Palmares para restaurar as peças. Na época, o governo federal se comprometeu a elaborar um Termo de Compromisso e formalizar o convênio. Nenhum documento foi assinado até hoje, mesmo assim, o artista fez uma remodelação nas imagens, para salvar o réveillon de 2007. ;Fiz uma maquiagem nas esculturas. Desenvolvi peças de gesso para substituir aquelas que tinham sido destruídas, que eram de resina;, disse. Logo após a festa, porém, ele retirou as imagens e as levou para seu ateliê, em Salvador (BA). A idéia era devolvê-las em quatro meses, completamente refeitas. Mas o dinheiro, R$ 850 mil, nunca saiu e o artista não conseguiu levar o projeto adiante. ;É um desrespeito. Estou devendo mais de R$ 300 mil para bancos porque tive que pegar empréstimos para trazer meus funcionários para Brasília e levar as peças de volta para Salvador. Tudo que fiz até agora foi com meu dinheiro;, reclamou. Moreno diz que, se não receber o valor combinado, não fará a restauração. Além disso, ele afirma precisar de, pelo menos, 70 dias para concluir o trabalho. ;Não dá para fazer outra maquiagem;, justificou. Procurado pela reportagem, o presidente da Fundação Palmares, Zulu Araújo, garantiu que os recursos vão sair até dezembro. Segundo ele, o projeto está aprovado pelo Fundo Nacional de Cultura, mas o dinheiro ainda não foi liberado porque depende de orçamento do Ministério do Planejamento. ;Há um empenho enorme para a restauração das imagens, até pelo que elas representam para a comunidade negra;, ressaltou Zulu. Memória Depredação 24 de setembro de 2005 # Um visitante nota a ausência de Nan, a senhora da morte. Ela é encontrada quatro dias depois, com a cabeça e os braços arrancados. 13 de dezembro de 2005 # A imagem de Iemanjá é carbonizada e tem a cabeça arrancada e o leque e a espada tirados de suas mãos. Iemanjá é a deusa das águas. 15 de abril de 2006 # Oxóssi, o deus da caça e da fartura, protege a natureza, especialmente as florestas. É a terceira vítima do vandalismo da Prainha. 20 de abril de 2006 # A estátua de Xangô é derrubada junto com a de Oxalá. Xangô é considerado deus do trovão e da Justiça. Oxalá é responsável pela criação do mundo. 2 de agosto de 2006 # Os 11 orixás que restam na Prainha têm alguma avaria.

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