postado em 09/10/2008 21:18
Antes mesmo de o carro estacionar, o pequeno Elié Tsamõre, 5 anos, já estava em pé dentro da van olhando atentamente para as atrações que o aguardavam do lado de for a do veículo. O menininho da etnia Xavante (MT) estava no grupo de 12 crianças da Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) do Distrito Federal, responsável por abrigar índios que vêm à Brasília para receber tratamento médico, que visitaram na manhã de ontem o Jardim Zoológico de Brasília.
Os pequenos tiveram a companhia de pais e familiares durante o passeio em comemoração ao Dia das Crianças no próximo domingo. Por três horas, os quarenta moradores da casa puderam ver de perto animais que antes só conheciam pela televisão.
A turma é integrada, em sua maioria, por Xavantes ou representantes de etnias do Alto Xingu: Wauru, Kalapalo e Kamaiurá. A idéia de promover o passeio partiu da própria direção da Casai com o objetivo de integrar a comunidade indígena com a sociedade e melhorar o ânimo de quem enfrenta algum problema de saúde ; algumas das crianças estão em tratamento, outras acompanham familiares.
Segundo a direção da casa, a proposta é realizar um passeio mensal com a turma. A primeira saída turística teve como destino o desfile cívico de sete de setembro, na Esplanada dos Ministérios.
Logo na primeira parada o espanto com o tamanho do elefante. Elié e a irmã Lavínia Pedzaiho, 7, correram para tentar chegar o mais perto possível do animal. Apesar de não falarem português ; as crianças só se comunicam em seu dialeto ;, as gargalhadas denunciavam a felicidade dos irmãos com a experiência.
Na cidade há seis meses para acompanhar a mãe Fátima Peadzoriõ, 36, que trata um câncer de útero, as crianças nunca tinham ido ao zoológico. "Eles gostaram muito de tudo, principalmente do elefante. Essa foi a primeira vez que tivemos a oportunidade de vir observar os animais", contou Ênio Norotsumeiwa, 38, marido de Fátima, ainda sem previsão para retornar à aldeia no Mato Grosso.
Ajuda na recuperação
Para a diretora da Casai-DF, Elenir Coroaia, os próprios moradores mostraram interesse em sair da casa durante a estadia na cidade para conhecer e participar de alguns eventos. Ela acredita que a iniciativa pode ajudar também na luta contra o preconceito.
"Vieram todos os pacientes, acompanhantes e idosos e eles estão gostando muito. A questão indígena ainda se encontra invisível e ao fazer esse movimento a questão indígena é colocada para a sociedade, que começa a ver os índios com outros olhos porque o estereótipo ainda é forte", disse.
No entanto, para diretora o principal benefício é o de ajudar no tratamento médico. "Alguns pacientes ficam por um longo período e a preocupação é com essa pessoas também. Eu acho que assim começarmos a avaliar esses passeios com certeza vamos ver um impacto muito bom em todos eles porque ficamos preocupados com o período de ociosidade deles na casa", explicou.
E a julgar pela felicidade do pequeno Gil Kamaiura, 5, portador de síndrome de Down e ainda se recuperando de uma traqueostomia, o projeto já é um sucesso. O menino se encantou com os animais e não largava o catavento que ganhou no Zoológico.
Em frente ao recinto dos macacos, o pequeno Kautu Tahu, 2, parecia hipnotizado com os primatas e tentava imitar os movimentos dos animais se pendurando nas grades do parque. Para o pai, Matayatesi Lacu, 24 anos, o passeio foi inesquecível e importante para ajudar a passar o tempo enquanto aguardam a recuperação da esposa, internada no Hospital Universitário de Brasília (HUB). "Ele gostou de tudo, mas sentiu muito medo do elefante, é um animal muito grande e ele nunca tinha visto. Na hora que viu o tamanho do animal ele correu para o meu colo", disse.