Cidades

Gestão de ex-diretora do Cespe foi marcada por contratação de 23 parentes

;

postado em 12/10/2008 08:50
A ex-diretora do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) Romilda Guimarãoes Macarini manteve 23 parentes contratados como prestadores de serviço durante o período em que esteve à frente da instituição. De 1997 a 2005, ela autorizou o pagamento de mais de R$ 2 milhões aos familiares. Além disso, a ex-diretora se autoconcedeu R$ 1,2 milhões por trabalhos feitos para o Cespe. Isso sem contar a remuneração de R$ 3.080,50 que recebia todo mês por ocupar o cargo de direção. O relatório dos auditores da Controladoria-Geral da União (CGU), que vem sendo divulgado desde a última sexta-feira pelo Correio, aponta uma série de irregularidades na entidade ligada à Universidade de Brasília (UnB), ocorridas entre 1996 e 2005. Elas vão do favorecimento de funcionários em concursos públicos a sonegação de impostos. A farra na contabilidade soma R$ 570 milhões, segundo os técnicos do governo federal. Os auditores dedicam a primeira parte do relatório, que tem 186 páginas, ao detalhamento dos pagamentos feitos por Romilda a familiares e a ela mesma. No fim do capítulo, eles concluem que Romilda ;valeu-se da facilidade que proporcionava a qualidade de diretora do Cespe para lograr proveito pessoal e de seus famíliares;. Os técnicos ressaltam que ;a conduta é incompatível com os princípios de legalidade, impessoabilidade e moralidade que regem a administração pública.; Em causa própria Romilda recebeu 301 pagamentos autorizados por ela mesma, até as vésperas de deixar o cargo. O último deles foi feito em 11 de novembro de 2005, três dias antes da exoneração. Por mês, ela recebia uma média de R$ 9.953,27 por serviços prestados à instituição que dirigia. Mais do que o triplo do valor do salário dela. Somente em outubro de 2005, ela se concedeu R$ 13.242, 92. Na lista de parentes beneficiados estão o marido de Romilda, André Vieira Macarini, a filha e o filho dela, o genro, um cunhado, seis irmãos, seis sobrinhos, quatro filhos de sobrinhos, a esposa de um sobrinho e o marido de uma sobrinha (veja arte). O marido recebeu quatro pagamentos, que somam R$ 22.683,91. O genro lucrou R$ 187.923,94. Quem mais recebeu dinheiro público, depois de Romilda, foi um irmão dela, que, com 208 pagamentos, faturou R$ 255.679,83. Dez familiares dela mantiveram vínculos com o Cespe por mais de 30 dias consecutivos. O relatório da CGU também mostra que os serviços prestados pelos parentes da ex-diretora foram os mais diversos. Alguns dos documentos firmados com os funcionários, porém, sequer dizem o trabalho que eles deveriam fazer. Os auditores destacaram 11 contratos assinados com o genro de Romilda. Nove deles não têm data especificada. Outros três, de R$ 2.612, R$ 5.289 e R$ 8.073,64, não especificam o objeto da contratação. Nos demais casos, o homem foi pago para fazer diferentes trabalhos de designer gráfico, como criar identidade visual para concursos e eventos e reformar logomarcas. Ele também recebeu para ser assistente de coordenação de uma seleção em Sergipe e para dar ;consultoria pedagógica; em concurso não especificado. Só na Justiça Romilda Macarini é procurada pela reportagem desde quarta-feira. Na última ligação feita para a casa da família, que fica na Asa Norte, quem atendeu foi o marido dela, André. Apesar dos insistentes recados deixados para a ex-diretora, André disse que ela não quer dar entrevistas. Ao ser informado sobre o teor desta reportagem, e que ele estava na lista de parentes beneficiados ilegalmente, André contou que Romilda tem conhecimento da acusação. ;Já sabemos disso (a contratação indiscriminada de familiares), mas só falaremos na Justiça;, afirmou. O Cespe, por meio da assessoria de imprensa, afirmou que os prestadores de serviço contratados por Romilda já não atuam no órgão. Os atuais responsáveis pela entidade ressaltaram que os procedimentos no Cespe foram mudados desde que a gestão temporária assumiu, em maio deste ano. O reitor pro tempore da UnB, Roberto Aguiar, destacou ontem que as pessoas denunciadas pelo relatório da CGU já não fazem mais parte dos quadros do centro de seleção. ;O Cespe como instituição não foi atacado. O que o documento aponta é péssima gestão de pessoas que desviaram recursos e cometeram irregularidades. O Cespe de hoje tem uma atuação totalmente transparente já que abrimos a universidade para todos os órgãos de controle;, afirma Aguiar. ;Houve uma reintrodução da ética na UnB e o Cespe agora é controlado por um conselho formado por decanos e diretores da universidade;, acrescenta o reitor pro tempore. Até novembro, o Cespe vai realizar 43 concursos públicos em todo o país. Colaborou Helena Mader Leia mais na edição impressa do Correio Braziliense desde domingo (12/10)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação