postado em 16/10/2008 08:49
No dia em que a Polícia Civil abriu inquérito para investigar o padre Wilson José Santos Pereira, acusado de pedofilia, um grupo de advogados procurou a 15ª Delegacia de Polícia, de Ceilândia, em nome da Cúria Metropolitana. Segundo o delegado-chefe Adval Cardoso de Matos, eles se colocaram à disposição da polícia. ;Estão dispostos a colaborar e disseram que a Cúria tem todo interesse na apuração completa e transparente dos fatos;, contou.
Na sede da Cúria, novamente, os assessores de dom João Braz de Aviz disseram que ele e todos os bispos e padres da capital estão incomunicáveis em um retiro espiritual que só deve terminar amanhã. Uma fonte ligada à Igreja disse ao Correio que a reportagem publicada ontem pegou de surpresa todo o clero. ;O padre Wilson sempre foi um ótimo sacerdote;, disse, na condição de não ser indentificada. Segundo a mesma pessoa, o assunto passou a dominar os debates do evento.
Nesta quarta-feira, o Correio publicou trechos de um CD em que o jovem, hoje com 18 anos, conversa com o padre Wilson. O sacerdote lhe pede perdão por episódios do passado de ambos. Numa outra gravação, o rapaz apresenta a denúncia de que foi várias vezes seduzido pelo padre Wilson ao vigário-geral de Brasília, padre João Ignácio Périus. Entre os questionamentos, o vigário pergunta se o rapaz não estaria a serviço de grupos de pressão que pretenderiam tirar o padre Wilson da paróquia Nossa Senhora da Glória, onde está desde 1990. O jovem reitera que está denunciando o homem com quem se envolveu quando era adolescente porque o sacerdote teria tentado aliciar pelo menos mais um rapaz depois que a relação entre os dois terminou. Ao fim, padre João pede que o jovem reflita e perdoe o padre Wilson. O rapaz, que diz não ter raiva, mas sentir mágoa da Igreja, contou à reportagem que procurou a polícia porque não sentiu acolhimento à sua denúncia entre os clérigos.
Os fiéis da paróquia Nossa Senhora da Glória adotaram o descrédito como padrão de comportamento. Uma jovem que trabalha numa loja próxima ao templo disse não acreditar que o padre fosse capaz de fazer o que relatou o rapaz. ;Esse menino não é flor que se cheire;, afirmou, mas encerrou a conversa ao ser questionada se haveria fatos que o desabonassem. Uma cliente do estabelecimento disse: ;Isso é coisa de quem quer aparecer;. Segundo ela, ;padre Wilson é uma pessoa muito rígida;. Ela contou que a filha nem gosta de se confessar com ele porque o padre seria muito ríspido na penitência. Em outra loja, um jovem, que disse não freqüentar a igreja, também não acredita que o padre Wilson tivesse seduzido rapazes da paróquia. ;Meu irmão freqüenta um grupo de jovens e nunca disse nada contra ele;, afirmou.
Decadência
O delegado Adval Cardoso de Matos pretende aprofundar o inquérito o máximo possível durante os 30 dias de prazo que tem para enviar o processo ao Judiciário. Os advogados apresentaram uma lista de pessoas dispostas a testemunhar. ;Sei que todas vão defender o padre e vou ouvi-las para que a apuração aconteça de forma transparente;, disse. Ele acredita que o sacerdote possa ficar livre de uma condenação pelo tempo decorrido entre os fatos narrados pelo jovem e o registro da ocorrência na delegacia. ;Ele teria até seis meses depois de completar a maioridade para apresentar a denúncia. Depois disso ela entra em decadência;, explicou. Mesmo assim, Matos não vai abandonar o caso. ;A denúncia é grave e os indícios, fortes. Temos que apurar e trazer a público até para alertar os pais para terem mais cuidado ao entregar os filhos para quem quer que seja;, disse.
O Correio tentou por várias vezes falar com o padre Wilson José Santos Pereira ontem. A caixa de recados do celular dele chegou a ficar cheia depois da insistência da reportagem. Por volta das 18h30, ele atendeu o telefone, confirmou que era ele mesmo quem estava na linha e desligou após o repórter se identificar. Padre Wilson teria viajado para o Maranhão no último sábado pela manhã, depois de saber que as denúncias contra ele chegariam à polícia.