Cidades

Diretor de escola escapa de jovem supostamente armado em Ceilândia

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postado em 23/10/2008 08:34
O diretor percebe um jovem assediando as alunas do colégio no portão de entrada. Algumas meninas, de 11, 12 anos, rejeitam os abraços e beijos do garoto, de 15 anos. O diretor, então, pede a ele que vá embora. O jovem obedece, mas avisa: ;Vou voltar para te matar.; No fim da tarde, ele cumpre parte da promessa. Retorna ao local acompanhado de três alunos da escola. Um funcionário vê que o garoto simula segurar algo na cintura. Poderia ser uma arma. Corre e avisa o diretor, que se esconde em uma das salas. São 15 minutos trancados sem saber o que poderia acontecer. A ameaça não chegou a se concretizar. Nem ao menos a arma de fogo foi vista. Mas a insegurança, entre alunos e professores, se estabeleceu no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 13, no P Sul, em Ceilândia, assim como em várias unidades de ensino público do Distrito Federal nos últimos meses (veja memória). Na tarde de ontem, não houve aula no CEF 13. Professores se reuniram para tentar encontrar maneiras de combater a violência e preservar as vidas de profissionais e de estudantes. O episódio que gerou o medo ocorreu na tarde da última terça. O jovem de 15 anos não é aluno do CEF 13. Mas faz parte de um grupo de adolescentes que usam a entrada da escola como ponto de concentração. Ali, segundo contam os professores, os meninos brigam, picham os muros e tumultuam a entrada e saída dos 1,5 mil alunos dos três turnos. A Polícia Militar freqüentemente é acionada para restabelecer a ordem. Mas, até o fato de terça-feira, não havia policiamento fixo na porta da escola. Agressões verbais Por volta das 13h; quando os estudantes começavam a chegar para o turno da tarde ; o diretor, Sérgio da Silva Severino, 41 anos, contou que recepcionava os alunos no portão quando percebeu o assédio do adolescente de 15 anos. ;Eu vi que muitas meninas não queriam. Ele as puxava, beijava. Eu disse a ele que na escola não era lugar para aquilo. Falei que ele tinha de sair dali;, recorda. Em resposta, o menino agrediu verbalmente o diretor e ameaçou matá-lo. ;É comum alunos de até 10 anos falarem para professores: ;Vou te matar;. Isso só porque chamamos a atenção ou ligamos para os pais. Nesse caso, como ele não era aluno, acho que se sentiu humilhado porque chamei a atenção na frente dos estudantes;, disse Sérgio. Um professor, que preferiu não se identificar, contou que o adolescente é conhecido da comunidade. ;É como se fosse um líder por aqui;, afirmou. ;Todos já sabem que ele vive na bandidagem, que já cometeu vários crimes. Todos têm medo de um menino de 15 anos;, indignou-se outro docente. Por volta das 16h45 ; horário em que a maioria dos alunos já havia ido embora do turno da tarde ; o supervisor pedagógico, Pedro Andrade, 41, estava no portão. ;O adolescente chegou segurando o que me pareceu uma arma. Ele estava com três alunos nossos e mais três meninos da comunidade;, contou. Nesse momento, Sérgio retirava o carro do estacionamento interno e tentava escondê-lo em uma vaga mais distante. Isso porque, minutos antes, uma funcionária o avisou que dois veículos haviam sido riscados. ;Isso acontece sempre. Suspeitamos que poderia ser ele por causa da ameaça;, disse o diretor. O adolescente entrou no CEF 13 e perguntou pelo diretor. Pedro tentou acalmá-lo. ;Eu disse que o Sérgio era legal, que ele não precisava fazer nada. Mas o menino retrucou: ;Ele me tirou e vai morrer agora;;, lembra o supervisor pedagógico. Sérgio seguia em direção ao portão quando viu Pedro gesticular mandando-o retornar. ;Fui para uma das salas e me tranquei;, contou. Os meninos vasculharam a escola mas não o encontraram. ;Naqueles minutos que fiquei na sala, tive a certeza de que ele estava armado;, relatou o diretor. ;Tenho medo, sim. Mas sobrevivemos na boa vontade e não acho que fiz errado. Não tenho pretensão de sair do CEF 13 e espero por mais segurança. Mas sei que essa medida não cabe à escola;, afirmou. Sem flagrante Após o susto, Sérgio registrou ocorrência na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) II, em Ceilândia. Na manhã de ontem, o jovem foi localizado próximo a sua casa. Nenhuma arma foi encontrada. Após ser entrevistado, ele foi liberado, já que não houve flagrante. Caso seja constatado que o adolescente praticou o ato, caberá ao juiz da Vara da Infância e Juventude aplicar as medidas socioeducativas correspondentes. (veja o que diz a lei) Segundo a polícia, o garoto tem sete passagens pela DCA. A última ocorreu em 26 de agosto deste ano. ;Na noite de terça-feira, enquanto a polícia o procurava, ele ainda pichou o muro da escola. Sabemos disso pela assinatura do apelido dele;, contou uma das professoras. ;Ele negou que tivesse ameaçado o diretor. Vamos apurar e os três alunos que estavam com ele serão ouvidos;, explicou o delegado, Marcelo Cesário, adjunto da DCA II. Os dois adolescentes, de 15 e 13 anos, serão ouvidos na DCA II. O aluno de 18 anos prestará esclarecimentos na 23ª Delegacia de Polícia (P Sul).

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