Cidades

Motoristas inseguros enfrentam o medo de dirigir

Cotidiano de muitos motoristas é cheio de obstáculos. O principal deles é a insegurança, o receio de bater o carro ou provocar acidentes mais graves. Terapia e auto-escolas ajudam a vencer o medo

postado em 26/10/2008 10:43
Você tem medo de dirigir? Então console-se. Milhares de pessoas em Brasília também suam frio na hora de virar a chave da ignição. Algumas, apesar do temor, saem às ruas munidas de bastante ansiedade e pouca prática. O resultado é que elas se tornam motoristas inseguros e, pior, correm o risco de provocar acidentes. Outras tiram a carteira e, para não enfrentar o medo, encontram as mais diferentes desculpas ao deixar o documento guardado na gaveta. O tempo passa, viram alvo de piadas dos familiares que criticam sua insegurança. A confiança fica cada vez menor e os motoristas acabam se culpando por não conseguirem vencer o que consideram uma ;bobagem;. Para se ter uma idéia do tamanho do problema, só no curso de iniciação à superação do medo de dirigir, do Departamento de Trânsito (Detran-DF), a fila de espera, atualmente, é de 400 pessoas. Gratuito, com apenas três dias de aula, nos três turnos, o curso é teórico e tem como professoras três psicólogas. O diretor de Educação para o Trânsito do Detran, Miguel Ramirez, afirma que o importante é ;trabalhar, em grupo, a fobia, o medo, para tirar o bloqueio da pessoa;. Podem se inscrever pessoas que não passaram nas provas escritas para a carteira de habilitação, no exame psicotécnico ou na prova de direção. O curso também serve para os que já tiraram a habilitação mas não conseguem dirigir. ;Quem tem habilitação conquista a liberdade;, afirma Ramirez. Despreparo Instrutor e examinador de trânsito, Sérgio Campos atende uma média de 20 a 30 alunos por mês, com aulas duplas de 1h40 de duração. As mulheres são a maioria. De acordo com Sérgio, isso não quer dizer que são elas as mais medrosas. ;Os homens também têm medo, mas não aceitam pedir ajuda. Já as mulheres são mais responsáveis, detalhistas para dirigir e quando resolvem assumir a direção do carro querem estar preparadas;, afirma o instrutor. Na auto-escola onde Sérgio trabalha já passaram os mais diversos casos. A psicopedagoga Kátia Aguiar, 40 anos, é um exemplo. Aos 18, tirou a habilitação. Como não precisava dirigir, a carteira ficou guardada. Há 15 anos, envolveu-se num acidente de trânsito. O carro onde estava era dirigido por sua irmã, que, por sorte, não sofreu nada. Kátia machucou o joelho, mas o trauma foi tão grande que ela nem pensou mais em ser motorista. Quando a família começou a cobrar que voltasse a dirigir, Kátia teve que iniciar uma terapia e retornar à auto-escola. Passou por várias, mas de nada adiantou. Há três meses tem aulas de direção e afirma estar se sentindo melhor. ;O professor trabalha muito a auto-estima do aluno, mas a minha família me cobra demais e eu também. Tenho carro na garagem, sei dirigir, mas meu problema é o trânsito;, afirma Kátia. ; Mas vou continuar tentando;. O instrutor explica que existem vários fatores relacionados ao medo de dirigir. Envolvimento em acidentes é um deles. Mas, as críticas de familiares são, sem dúvida, um dos que mais afetam pessoas inseguras quanto ao seu desempenho no trânsito. ;Os sintomas mais comuns de quem tem medo são o suor excessivo, a aceleração cardíaca, a respiração alterada;, observa Sérgio. Quando começa a desenvolver esses sintomas, o motorista tem medo de tirar o carro da garagem, subir ladeiras, estacionar, atropelar alguém, trocar de pista, do comportamento imprevisto de outros motoristas e até que o veículo possa desligar no meio da pista. ;Temos alunos que entram no carro e nem deixam fechar a porta, tal o medo que sentem;, afirma. ;Depois, quando relaxam e dirigem, vêem o tempo que perderam, porque readquirem a auto-estima, a confiança em si mesmos;, completa. O desafio da engenheira Cristina Akami Shimoda, 27 anos, não foi vencer o medo, mas reaprender a guiar. Ela só se deu conta de que não sabia dirigir, apesar de ter tirado a carteira de motorista em 2000, quando veio morar em Brasília, este ano. Em São Paulo, a jovem optou pelo ônibus e o metrô, porque morava sozinha e passava o dia na rua. Mas quando veio trabalhar em Brasília, a vida ficou mais tranqüila e um carro faria falta. ;Percebi que tinha que reaprender tudo;, admite Cristina, ao lado da instrutora da auto-escola Defensiva, Ivonete Reis de Oliveira. O mais complicado para a moça é a hora do pique. ;Tem que prestar atenção nas marchas, sem olhar, frear e apertar a embreagem e ainda ficar de olho no trânsito e no espelho retrovisor, tudo ao mesmo tempo;, explica Cristina com um sorriso, enquanto garante que se sente mais confiante. Nos próximos 10 dias, Cristina pretende fazer em seu carro o trajeto casa/trabalho. A instrutora está otimista com a jovem aluna. Afirma que um caso é diferente do outro. Mas, na média, com 20 aulas o aluno está apto a dirigir. ;Nós fazemos 5% do trabalho, 95% ficam com eles;, afirma Ivonete. Leia mais na edição deste domingo do Correio Braziliense

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