Cidades

Duro aprendizado para a mãe e o filho trocado

;

postado em 29/10/2008 08:20
A frentista Fernanda Moreira dos Santos, 24, passou a noite de ontem praticamente em claro. Não por conta de Rafael, o filho recém-nascido, que a fez levantar cinco vezes para dar de mamar. Mas pelas lembranças dolorosas da criança que amamentou por cinco dias e para quem deu amor mas que, na verdade, pertencia à dona-de-casa Dirléia Kellen Souza, 26 anos. As duas tiveram os bebês trocados no Hospital Regional de Sobradinho. Só após confirmação do teste de DNA as crianças puderam ficar nos braços das verdadeiras mães, que ainda lutam para acreditar que estão com os filhos certos. A mãe de Rafael, Fernanda Moreira dos Santos, comenta a troca de bebês no Hospital Regional de Sobradinho e como ela tem lidado com a situação Primeira amamentação foi no escuro para evitar comparação
Durante a noite, Fernanda preferiu amamentar Rafael no escuro. Com o bebê oculto nas trevas, a mãe podia pensar nele como o menino que pensou ser seu filho antes de perceber a troca. Mas não pôde deixar de notar as pequenas diferenças. ;O outro chorava menos e mamava direito. Esse não mama o suficiente e acorda toda hora querendo mais leite. Não sei se ele é assim ou se está estranhando a situação;, afirmou. Nem o incentivo de amigos que visitaram a família animou a mãe. ;Acharam o bebê a minha cara, mas ainda não vejo a semelhança;, explicou. Ela confia que o tempo será capaz de curar a dor que sente e de fazer com que ame a criança tanto quanto amou aquela que lhe foi entregue no hospital. Para Fernanda, o momento da troca ocorreu logo após o parto. Ela não chegou nem a ver o menino depois de dar à luz. ;Levaram meu filho e se passaram uns 10 minutos antes de que eu o visse pela primeira vez. Gravei o rosto dele. Era o rosto da mesma criança que me entregaram depois dos exames e do banho. Não era Rafael;, afirmou. ;Pretendo entrar na Justiça pelo que me fizeram passar;, acrescentou. Ciúmes Rafael é o segundo filho de Fernanda. O primeiro, Gustavo, está com três anos e meio e tem dado trabalho para a mãe. O garoto está com ciúmes de toda a atenção dedicada ao novo irmãozinho. ;Antes, ele não chorava por nada. Depois que o irmão chegou, faz de tudo para chamar nossa atenção;, relatou Fernanda. A mãe precisou arrumar um quarto separado para o novo filho. Lá, está quase tudo pronto. Falta apenas colocar o papel de parede e uma cortina para dar ao ambiente um ar mais infantil. Mas Rafael já conta com o próprio berço e móveis dedicados só para ele. O menino dormiu tranqüilamente boa parte do dia ontem. Alheio à confusão provocada pela troca no hospital. A dona-de-casa Dirléia preferiu não dar entrevistas ao Correio ontem. Segundo a mãe dela, Rosana Ferreira, a filha estava um pouco melhor e acordou três vezes durante a noite para dar de mamar a João Pedro, o outro bebê. Também passou a se alimentar melhor. Tomou café pela manhã e foi a uma consulta com o psicólogo no hospital. Dirléia mora na zona rural de Sobradinho e está na casa de parentes para garantir maior infra-estrutura ao recém-nascido. Investigação O Hospital Regional de Sobradinho iniciou ontem uma sindicância para apurar em que momento ocorreu a troca dos bebês. Todos os funcionários que atendiam a ala da maternidade no dia do fato serão ouvidos por uma equipe externa chamada para fazer a investigação. Caso a pessoa que realizou a troca seja identificada, ela poderá receber desde uma advertência verbal ou escrita até ser exonerada do cargo. A diretora da Regional de Saúde de Sobradinho, Cláudia Porto, espera que a sindicância seja concluída em até 30 dias. ;O caso é extremamente grave e deve ser apurado com seriedade. Realizamos em média 300 partos por mês e nunca tivemos um problema dessa natureza. Queremos transparência no processo para que a comunidade continue confiando no nosso trabalho;, ressaltou Cláudia. Ela garantiu que as duas mães prejudicadas contarão com acompanhamento psicológico pelo tempo que julgarem necessário. Elas podem ser atendidas tanto no hospital como nos centros de saúde. Omissão O caso também é investigado pela 13ª DP (Sobradinho). Segundo o delegado adjunto Ivan Francisco Dantas, um termo circunstanciado foi instaurado. Pelo artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a conduta omissiva de médicos, enfermeiros ou dirigentes de casas de saúde na identificação correta dos bebês e de suas respectivas mães pode ser punida com detenção. Se for constatado que houve intenção por trás da troca, o responsável pode pegar de seis meses a dois anos de prisão. No caso da troca ter sido acidental, a pena para o responsável é de dois a seis meses de detenção. ;Constatamos que não houve falha na colocação da pulseira. Precisamos ver agora se não houve identificação correta na hora de entregar os filhos às mães;, detalhou o delegado.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação