Cidades

Vídeo flagra violência de babá à criança de dois anos e cinco meses

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postado em 30/10/2008 08:20
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;Mãe, hoje ela não me bateu nem brigou comigo. Me botou pra dormir mais cedo pra judiar do João*, porque ouvi ele chorando;. A frase foi uma das últimas que a mãe de Gabriel*, 4 anos e meio, ouviu até que pudesse provar que a babá batia nele e no irmão mais novo, João*, de 2 anos e 5 meses. Desde junho, o mais velho contava à mãe que a babá lhe dava tapas, murros e chutes. Depois de meses de desconfiança, a mãe instalou uma câmera escondida acima da televisão na sala e obteve a prova de que os filhos eram maltratados em sua ausência. Na manhã de ontem, a mãe das crianças e auxiliar odontológica, Márcia Martins Teixeira de Souza, 35 anos, registrou ocorrência e entregou o vídeo com as imagens que denunciavam a mulher ao delegado. Como os agentes não encontraram a babá Marilene Ferreira do Nascimento na casa dela, em Samambaia, deixaram uma intimação para que ela comparecesse hoje à 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria). ;
O delegado adjunto, Victor Dan, afirmou que o crime de maus-tratos foi identificado por meio das imagens. O vídeo mostra a mulher deitada no sofá com o pequeno João sentado no canto. Ela incita o menino, bate e chuta na cabeça, dá murros nos braços e nas pernas e apertões na orelha. Em algumas cenas, estica as pernas sobre as da criança e faz força para baixo. João não reage. Por isso, será realizado exame específico com as crianças. Se constatado que houve intenso sofrimento mental, a babá poderá responder pela prática de tortura. ;É muito estranho o menino não fazer nada mesmo sendo agredido. As imagens mostram sofrimento mental. Isso é indício de tortura. Mas precisamos do laudo para confirmar;, disse o delegado. ;No vídeo ele está encolhido. Ele não é quieto assim. Ainda não sei se vou deixar meus filhos com as avós para trabalhar ou vou largar o emprego;, lamentou Márcia. O drama da auxiliar odontológica começou nos últimos quatro meses. Mas a babá cuida dos filhos há um ano. A mãe contou que deixou de trabalhar depois que o primeiro filho nasceu. Quando o segundo estava com pouco mais de um ano de idade, o desejo de ajudar na renda de casa e melhorar as condições de vida da família a fez retomar o serviço. Por dois meses, outra mulher cuidou das crianças. ;Mas ela pediu para sair e contratei a Marilene, que era diarista na vizinha da minha cunhada. Recebi boas referências;, contou Márcia. Nos primeiros meses, Márcia não percebeu qualquer alteração no comportamento dos filhos. Depois de cinco meses, o primeiro sinal. ;A Marilene me disse que o Gabriel não estava obedecendo e que machucava o mais novo.; Até que garoto falou com a mãe: ;A Marilene me bateu no braço;. Márcia perguntou por que razão e ele respondeu: ;Porque eu estava beijando o João e ela disse que eu não podia agarrar ele.; A mãe confessa que não deu crédito ao filho. ;Achei que ele estivesse mentindo. Em intervalos de algumas semanas, Gabriel voltou a dar mais pistas. ;Mãe, eu levantei da cama e ela me bateu por isso.; ;Hoje ela me bateu porque demorei a almoçar.; Márcia foi ficando inconformada e preocupada. Mas precisava de provas. Sem respirar Há duas semanas, Gabriel deixou a mãe em pânico. ;Ele disse que a babá o tinha obrigado a dormir com a cara no travesseiro e que ele não conseguia respirar. Ele me contou isso na frente dela e ela negou;, relatou. Na semana passada, a mãe chegou em casa mais cedo e flagrou a babá mandando um dos meninos calar a boca. Foi o irmão de Márcia quem conseguiu o aparelho para flagrar a violência. Na última terça-feira, às 12h, a câmera filmou a rotina da babá com as crianças durante toda a tarde. À noite, Márcia assistiu às cenas de violência contra os filhos sozinha, trancada no quarto, aos prantos (leia depoimento). ;A gente vê isso na televisão. Nunca pensei passar por isso. Sempre tive medo de trabalhar e deixar meus filhos com alguém.; Na manhã de ontem, antes de denunciar o caso à polícia, Márcia viu Marilene chegar em sua casa para trabalhar normalmente. ;O meu marido perguntou por que ela havia batido nas crianças. Ela negou. Então, mandamos ela assistir ao vídeo. Ela não chegou a ver, e foi logo tentando se justificar;, contou Márcia, abalada. Até o fechamento desta edição, a polícia não havia encontrado a babá. ;Se ela não comparecer à delegacia e for confirmada a prática de tortura, pediremos a prisão preventiva da mulher;, garantiu o delegado. Pelo crime de maus-tratos, Marilene pode pegar de dois meses a um ano de prisão. Se responder por tortura, a pena varia de dois a oito anos. * Nomes fictícios em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Depoimento - Márcia de Souza, mãe dos meninos agredidos ;No domingo, eu consegui instalar a câmera. Na segunda-feira, as imagens não mostraram nenhuma violência. Mas na terça aconteceu. Quando cheguei em casa no fim do dia, peguei o vídeo e levei para meu quarto. Eu me tranquei, porque não queria que meus filhos vissem. Entrei em pânico quando comecei a assistir. Eu chorava tanto que meus filhos pediam para entrar no quarto. Eu ainda revi a fita. Não para me torturar, mas para ter certeza de que não havia deixado escapar nada. Quando terminei de ver, minha intenção era dar uma surra naquela mulher e levá-la para a delegacia. Mas meu irmão chegou à minha casa e me acalmou. Depois que meu marido viu, também ficou furioso. Nunca pensamos que isso poderia acontecer conosco. Ficamos até com medo de denunciá-la e que ela mandasse alguém fazer algo contra nós. Mas, depois que refleti, fui à delegacia. Pensei: ;Se eu não fizer nada ela vai fazer isso de novo com outras crianças ou até coisa pior;.;

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