postado em 31/10/2008 08:10
O comandante da Polícia Militar de Roraima, coronel Márcio Santiago de Morais, 49 anos, passou a madrugada de ontem na 5ª Delegacia de Polícia, na área central de Brasília, depois de ser protagonista de uma confusão nas proximidades do shopping Pátio Brasil, por volta das 23h de quarta-feira. O oficial estava na capital federal para participar de um encontro do Conselho Nacional de Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares (CNCG). A reunião começou na mesma noite em que o policial foi parar na DP e termina hoje, mas ele não se apresentou aos colegas.
Ontem, o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, anunciou a exoneração do coronel Santiago depois de ler reportagem no site do Correio sobre as atitudes do comandante da PMRR em Brasília. Em agosto, o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) já havia denunciado o coronel à Presidência da República, à Secretaria Especial dos Direitos Humanos e ao Ministério da Justiça por ;uso desenfreado de bebidas alcoólicas, agressões verbais e morais e humilhações a subalternos;. Uma fonte ligada ao gabinete de Anchieta confirmou que o comandante da PM de Roraima é processado pela Justiça do estado por agressão.
Pelo menos duas pessoas prestaram queixa contra o coronel Santiago. O funcionário público Ronaldo Fonseca Neves, 42 anos, morador de São Sebastião, disse que, ao tentar se desviar do tumulto, ouviu do oficial desarmado e em trajes civis um ;vai encarar; e levou um soco que lhe acertou a boca. Antes do episódio com Ronaldo, que saía da aula numa faculdade próxima, o comandante teria tentado agredir o comerciante Paulo Rogério Ferreira, 41. ;Ele quis entrar no meu carro e eu travei as portas. Então, ele começou a bater no capô e gritar comigo. Quando saí do carro, tive de correr dele para não apanhar;, contou.
Urina
Além das agressões, Ronaldo e Paulo Rogério relataram que o coronel urinava na rua, aparentando estar bêbado, e teria chutado duas mulheres que passavam pela calçada. No meio da confusão, ele tentou entrar num táxi, mas o motorista não aceitou a corrida e arrancou com o carro para evitar que ele embarcasse, o que levou o coronel Santiago ao chão.
A polícia foi chamada e mais uma vez o militar armou uma confusão. Ele tentou agredir os policiais que tiveram trabalho para contê-lo. Identificou-se como comandante da PM roraimense. O comandante do policiamento da capital, coronel Luiz Henrique Fonseca, teve de abandonar o evento dos oficiais das PMs de todo país para levar o colega à delegacia (por questão de hierarquia, um militar somente pode receber voz de prisão de alguém de mesma patente ou com patente superior). Quando a reportagem chegou à DP, Fonseca dava uma bronca de dedo em riste no comandante Santiago, que vestia uma calça jeans e uma camiseta sujas. Minutos depois, o corregedor da PMDF, coronel Francisco Maia, chegou à delegacia para prestar apoio ao colega roraimense que, se fosse detido, deveria ser encaminhado a alguma unidade da Polícia Militar do DF.
O coronel Márcio Santiago de Morais foi liberado pelo delegado de plantão da5ª DP, Celízio Espíndola, por volta das 3h e não quis conversar com os jornalistas. Segundo Espíndola, o coronel assinou um termo circunstanciado e responderá por embriaguez ; cuja pena é de 15 dias a três meses de prisão ; e lesão corporal, que pode levá-lo a cumprir mais três meses a um ano de cadeia. O delegado explicou que, mesmo sendo militar, ele responderá na Justiça Criminal. O coronel Santiago alegou em depoimento que fora roubado e, por isso, teria agredido os supostos ladrões. Um exame no Instituto de Medicina Legal (IML) constatou a embriaguez do policial.
O escândalo promovido pelo coronel Santiago gerou repulsa entre os comandantes das polícias militares reunidos em Brasília. O presidente do CNCG, coronel Edson Costa Araújo, que comanda a PM de Goiás, enviou uma correspondência ao governador roraimense, José de Anchieta Júnior, pedindo providências. O coronel Edson Araújo classificou de ;inaceitável a atitude do comandante da polícia de Roraima e lamentável o fato de ele ter vindo a um evento oficial em Brasília e para o evento e tenha agido de forma não apropriada;. O comandante da PMDF não quis comentar o episódio. Outros comandantes que preferiram não se identificar também condenaram o comportamento do coronel Santiago. ;Viemos a Brasília para uma reunião oficial, muitos acompanhados das esposas, e ele, além de não se apresentar à abertura oficial do evento, apronta uma situação dessas;, comentou um deles.