postado em 31/10/2008 08:49
A cadela Pretinha não teve muita sorte nos últimos tempos: foi encontrada perambulando na rua, com fome e esperando filhotes. A funcionária pública Gonçala Portela, 57 anos, integrante de um grupo de amigas protetoras de animais, a levou para um abrigo temporário. Vinte dias depois, os cinco filhotes que Pretinha esperava morreram na hora do parto.
Ao mesmo tempo em que a cadela abatia-se, com o corpo preparado para amamentar, a empresária Marcela Teixeira, 27 anos, buscava na Zoonose um grupo de seis filhotes de gatos abandonados. As amigas, amantes de cães e gatos, começaram a se comunicar e em instantes tiveram o estalo: Pretinha podia amamentar os gatinhos, que tinham menos de 30 dias de vida.
As duas, Marcela e Gonçala, procuraram a veterinária Giovana Mazzotti, que disse que se a cadela aceitasse, não teria problemas. ;Como são duas espécies carnívoras, a composição do leite é parecida, o que não interfere muito para os filhotes;, alega a especialista, que atuou durante cinco anos no Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB) e hoje coordena a área veterinária da primeira clínica só para gatos de Brasília.
Levados para um abrigo provisório, que fica em uma chácara no caminho de Luziânia, inicialmente a história de cão que não se dá com gato se confirmou: no primeiro dia Pretinha não quis saber dos filhotes e continuou deprimida. Porém, quando os gatos, que foram levados para dentro da casa, começaram a miar, a cadela não se conteve e ficou inquieta em volta do local. As amigas tentaram novamente e, desde então, Pretinha amamenta cinco gatos ; dois malhados e três pretos.
A veterinária Giovana Mazzotti explica que a atitude de Pretinha é comum, principalmente entre animais domésticos. ;Historicamente, quando vivem em grupos, uma fêmea costuma alimentar filhotes de outras raças. Isso também acontece com cães e gatos, mas não são todos. A fêmea precisa ter um temperamento calmo e aceitar os filhotes, caso contrário os mataria;, explica Giovana.
O gato é presa natural do cão, pois eles têm instinto de caçador. Assim também são os gatos com animais menores, como os roedores. Porém, a veterinária esclarece que, apesar de inimigos, cães e gatos podem viver em harmonia. ;Se o cão tiver temperamento manso ou se for acostumado desde filhote com gatos, eles podem viver no mesmo ambiente, sem brigas;, afirma.
Doação
Dentro de duas semanas, os gatos, que ainda não receberam nomes, serão colocados para doação. Assim age o grupo de amigas amantes de animais. Sempre que encontram gato ou cachorro abandonados, eles são castrados e encaminhados para algum abrigo, que conseguem com a ajuda de voluntários. Recebem alimentação e muitos precisam de medicamentos, doados por algumas casas de pet shop.
Os animais ficam no local até conseguirem um lar. As amigas, em geral,acionam seus contatos e conseguem alguém interessado em ficar com os bichos; outras vezes, elas preparam feiras de doações. Hoje, cerca de 30 animais esperam adoção nesses abrigos provisórios.
No mundo
A relação entre animais de raças diferentes se confirma em todo o mundo. Há três dias, na Austrália, um cachorro salvou a vida de quatro gatos. A casa em que moravam começou a pegar fogo. Ficou apenas o cão, de nome Léo, e os gatos filhotes, que estavam em uma caixa. Léo ficou cuidando dos gatos até a chegada dos bombeiros.
Na Alemanha, um tigre branco, chamado Bombay, de 1 ano de idade e o cão Jack, um dálmata de 4, vivem pacificamente, há quatro meses, na mesma jaula em um circo. Na Tailândia, um cão e um papagaio participam juntos de um ato pela paz. Vestidos com roupas especiais, a ave Keow Wan faz o percurso sentada sobre Yim, um pastor preto.
PARTICIPE
O grupo precisa de doações, principalmente de ração e medicamentos para animais, e locais apropriados para deixarem os bichos até a doação. Contato pelo telefone 9111-0670.