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Em 137 dias de aplicação da lei seca, 1.050 condutores foram flagrados alcoolizados

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postado em 04/11/2008 08:14
Depois de quase cinco meses em vigor, a lei seca já puniu o milésimo motorista que ignorou a proibição de dirigir depois de beber. Em 137 dias, a fiscalização flagrou 1.050 condutores alcoolizados, uma média de 7,6 casos por dia. Do começo do ano até agora, o número supera a soma de todas as autuações dos últimos três anos. De 1º de janeiro até ontem, 1.939 pessoas foram reprovadas no teste do bafômetro. De 2005 a 2007, 1.630 motoristas haviam sido flagrados com o teor alcoólico superior ao permitido. E a Polícia Militar ampliou os dias em que vai fiscalizar o cumprimento da lei. A partir de agora, a operação Álcool Zero estará nas ruas também às quintas-feiras. Antes, a ação prioritária dos fiscais era de sexta a domingo. Diretor-geral do Detran, Jair Tedeschi, fala sobre a lei seca Diretor da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Fernando Cabral, fala sobre o impacto da lei seca no comércio Especialista em trânsito e ex-diretor do Detran Luís Miúra fala sobre a lei seca Com a intensificação das operações, as mortes nas ruas do Distrito Federal estão em queda. Outubro registrou o sexto mês consecutivo de redução ; na comparação com o mesmo período de 2007;, com 26 casos. É também o intervalo com menor número de vítimas desde janeiro. A quantidade de acidentes fatais caiu de 34 em outubro do ano passado para 26 no mesmo mês deste ano. ;Com certeza a lei pegou. A gente sente a mudança de cultura. No Plano Piloto, por exemplo, o movimento dos bares caiu porque está acabando a cultura de sair do trabalho, beber e ir para casa ao volante;, defendeu Jair Tedeschi, diretor-geral do Departamento de Trânsito (Detran). A justificativa de Tedeschi para o aumento dos flagrantes de condutores alcoolizados e queda na quantidade de mortes e de acidentes com morte é a fiscalização mais rígida e investimento na compra de bafômetros. Eram oito no início do ano. Agora, são 20, sendo 16 com o Detran e quatro cedidos para a PM. ;Mudamos a estratégia de atuação. Em vez de mobilizar os agentes em um único ponto, aumentamos as abordagens em diferentes pontos;, explicou. Penalidade O especialista em segurança de trânsito e professor da Universidade de Brasília David Duarte defende que a rigidez no cumprimento da lei seca deve continuar. ;A desobediência à lei tem que gerar uma penalidade. Se não houver punição, a lei pode se tornar inócua;, explica o especialista. ;A lei seca pegou, mas não se pode baixar a guarda agora. Se a fiscalização afrouxar, o número de mortes e de acidentes volta a subir;, acrescenta David Duarte. Se a fiscalização recrudesceu depois da lei seca, vai ficar ainda mais rígida a partir de agora. A Polícia Militar, que só fazia operações específicas para fiscalizar o cumprimento dessa legislação de sexta a domingo, incluiu as quintas-feiras no calendário de fiscalização. No dia 30 de outubro, os policiais militares já foram para as ruas. ;Até o fim deste mês vamos começar a fazer nas quartas-feiras. E em dezembro as ações serão realizadas de terça a domingo;, explica o subcomandante do Batalhão de Trânsito da PM, major Alessandro Venturim. Mesmo com a greve do Detran, que já dura 16 dias, o trabalho de fiscalização continua. No último fim de semana, a Polícia Militar flagrou 18 motoristas dirigindo com teor alcoólico acima do permitido por lei. Três deles foram presos. O subcomandante do Batalhão de Trânsito acredita que a ampliação dos dias de operação vai reduzir ainda mais o número de mortes nas ruas do DF. ;A chamada lei seca veio para ajudar os agentes e policiais militares, conferindo poder maior. O grande impacto psicológico dessa lei é a questão da tolerância zero. Antigamente, as pessoas ficavam calculando o quanto podiam beber. Hoje, a maioria não ingere nada antes de dirigir;, explica o major. Flagrante O artista plástico Carlos*, 29 anos, mora na Asa Norte e foi flagrado em uma blitz no Eixo Monumental em junho, nos primeiros dias da lei seca. Ele fez o teste do bafômetro depois de tomar quatro latas de cerveja em uma festa junina. O exame apontou 0,2 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. Hoje, Carlos se arrepende de ter se submetido ao teste. ;Deveria ter me recusado a fazer. Acabei produzindo provas contra mim;, lembra o artista plástico. ;Essa lei é muito rigorosa. Eu não estava embriagado quando os agentes me pararam. Depois disso, me sinto coagido a ficar em casa. Vivo praticamente em uma prisão domiciliar;, reclama. O especialista em trânsito e ex-diretor do Detran Luís Miúra elogia a rigidez na fiscalização do DF e a aceitação da sociedade. Mas ele lembra que o cerco aos motoristas que bebem e dirigem tem que continuar firme. ;Brasília tem uma realidade muito diferente: aqui a lei pegou. Mas em municípios menores, ainda há dificuldade em implantar as ações, especialmente em ano eleitoral como 2008;, destaca Miúra. ;Em muitos lugares, não há nem recursos para comprar equipamentos de bafômetros.; Para o especialista em engenharia de transportes e professor universitário em Florianópolis José Leles, se o governo tem a intenção de manter os efeitos da lei seca, deve equipar os órgãos de trânsito com bafômetros e determinar fiscalização intensa. ;Caso contrário, em quatro ou cinco meses corremos o risco de perguntar sobre lei seca nas ruas e as pessoas não se lembrarem dela;, acredita. ;Acho que a lei seca não pegou. Virou moda no primeiro momento, todo mundo falava. Teve um pico de obediência, mas o que se percebe agora é que as pessoas estão bebendo e dirigindo;, acredita José Leles de Souza. O setor de bares e restaurantes, que demitiu parte dos funcionários depois da lei seca, agora vê uma estabilização no movimento. ;Houve uma queda forte de faturamento logo no princípio da fiscalização, mas agora o fluxo de clientes estabilizou;, garante o diretor da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Fernando Cabral. A queda média de faturamento, principalmente nos estabelecimentos que dependem da venda de bebida alcoólica, foi de 20% de junho até aqui. * Nome fictício a pedido do entrevistado

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