postado em 05/11/2008 08:30
Brincadeiras e perigo são duas palavras que, para desespero dos pais, andam de mãos dadas em dezenas de parquinhos infantis do Distrito Federal. O acidente no mais tradicional deles, o Ana Lídia, no Parque da Cidade, reacende o sinal de alerta para as condições desses espaços públicos. Em três das cidades mais populosas da capital, foi possível localizar parques com brinquedos destruídos que oferecem risco de ferimentos ou lesões mais graves como ocorreu com Alais Ferreira, 8 anos, que fraturou um dedo do pé direito após uma estrutura de metal cair em cima dela no último domingo.
O acidente motivou a interdição do Ana Lídia, que recebe até 2 mil crianças por fim de semana. Os portões devem ficar fechados, pelo menos, até a semana que vem, quando a Defesa Civil fará uma vistoria em todos os brinquedos. A administradora de Brasília, Ivelise Longhi, informou que planeja uma reforma radical no espaço. ;Recebemos um levantamento mostrando a precariedade não só do Ana Lídia, mas de outros playgrounds e das 26 quadras de esportes. Isso já possibilitou o início das obras licitadas nas quadras.;

Descaso Em outros pontos do Plano Piloto a situação é até pior do que no parque Ana Lídia e não há nenhum tipo de interdição. Na 210 Sul, por exemplo, os brinquedos estão distribuídos logo na entrada da quadra, sem nenhum tipo de cercamento, alguns a poucos metros do asfalto. Uma espécie de carrossel apresenta risco iminente de tombar, já que a base de concreto está desenterrada. A ferrugem cobre os outros brinquedos, que são ignorados pelas crianças dos blocos próximos porque sabem que é perigoso brincar ali. Ao lado deles, uma placa da prefeitura dá as boas-vindas a quem chega, e pede que se conserve a quadra. Do lado oposto da Asa Sul, na 412 Norte, há situações bem parecidas. O parquinho da quadra se resume a um escorregador enferrujado e três balanços. Dois deles estão malconservados e o terceiro não existe mais. O apoio metálico foi arrancado e sobrou apenas um pedaço pontiagudo de ferro preso a uma corrente, uma verdadeira arma. Os brinquedos também não estão cercados e ficam à margem da L 2 Norte, onde carros, motos, caminhões e ônibus passam rápido. Ivelise Longhi promete se reunir com os prefeitos de todas as quadras do Plano Piloto para conhecer melhor as situações mais críticas e elaborar um cronograma de obras em pontos como os parques infantis e as calçadas. ;Semana que vem começamos com os prefeitos das 700;, garantiu a administradora. Em ruínas Na QNG 5, Taguatinga Norte, o Correio encontrou uma estrutura que está mais próxima de ser uma ruína do que um espaço de convivência infantil. Dois brinquedos metálicos destinados à escalada ; como o que caiu no parque Ana Lídia ; não apresentam mais nenhum sinal da cor original, parecem feitos de ferrugem. Entre eles há uma quadra poliesportiva igualmente abandonada. O alambrado atrás dos gols está cheio de arames soltos, colocando em perigo quem se encostar neles e a certeza de uma bola furada para quem se atrever a jogar lá. O piso também não ajuda, está tão quebrado que touceiras de capim crescem nas fendas, como símbolo do abandono. No lado sul de Taguatinga, numa praça da QSF 9, os balanços são um convite ao tétano, doença infecciosa de alta letalidade causada pela bactéria Clostridium tetani, encontrada nas fezes de animais ou humanos que se depositam na areia ou na terra. A infecção se dá por qualquer tipo de ferimento na pele contaminado com areia ou terra. Em um dos escorregadores, a placa de metal está praticamente solta. Como se não bastasse, a areia está cheia de cacos de vidro, muitos deles enterrados. ;Nenhum pai deixa os filhos brincar nesse açougue;, disse uma mulher que passava por perto do parque, mas não quis se identificar. A administração da cidade informou, via assessoria de comunicação, que trabalha na reforma dos espaços baseada nas reclamações da população. O órgão divulga ainda que há muitos parquinhos para pouca verba e que um levantamento dos mais problemáticos será feito durante uma grande reforma que começou esta semana. Guará Os moradores do Guará também convivem com a precariedade e o perigo em muitos parquinhos. A administração da cidade informa que reformou os playgrouns das 46 quadras da cidade no ano passado, mas na QI 11 do Guará I isso parece ter acontecido há décadas. Nenhum brinquedo está em boas condições ; os balanços estão soltos, a areia imunda, a gangorra quebrada, como lanças de ferro expostas, e o escorregador está tombado no chão. ;São os trombadinhas que quebram tudo;, diz a dona- de-casa Dirce Rezende, 45 anos. Na QE 30 do Guará II, a praça onde fica o playground é bonita, limpa e arborizada. Já os brinquedos estão prontos para o ferro- velho. A ferrugem toma quase toda a estrutura e os balanços estão com as correntes amarradas em vez de presas.