postado em 07/11/2008 08:09
O ato de colecionar pode ser mais que uma brincadeira e exige sensibilidade para descobrir a beleza dos objetos, muitas vezes verdadeiras relíquias. Para o advogado aposentado Luiz Gonzaga Borba, 72 anos, a fascinação está em encontrar cédulas de dinheiro brasileiro com defeito de impressão. Já o economista aposentado Hamilton Leite Cruz, 62 anos, descobriu uma paixão inusitada por dedais, mesmo sem nunca ter costurado. O comerciante Gilberto Bailão, 66 anos, sente prazer em reunir o maior número possível de cartões-postais com imagens de Brasília.
Os três têm em comum a participação na Associação Filatélica e Numismática de Brasília. O grupo é um dos responsáveis pela organização do 3º Encontro Nacional de Colecionadores, que vai até domingo, das 8h às 18h, no Mercure Hotel (SHN Quadra 5, Bloco G), com entrada franca. A expectativa é receber 40 expositores de todo o Brasil, em três dias, para mostrar as mais variadas coleções do país. Embora a filatelia seja composta de coleções de selos e a numismática de moedas (Leia Para Saber Mais), são aceitos todos os tipos de objetos nessa ocasião. Por volta de 1 mil visitantes devem participar do evento até o fim da semana.
O Encontro Nacional de Colecionadores ocorre há 25 anos. O presidente da Associação Filatélica e Numismática de Brasília, Gonzaga Borba, leva a sério o cargo que ocupa por amor àquilo que ele chama de arte. ;Quando era criança, eu guardava lápis e bolinha de gude. Adulto, passei a adquirir notas antigas de dinheiro. Mas todo mundo tinha cédulas iguais às minhas. Então decidi: vou juntar as defeituosas;, explica.
Sabendo do gosto de algumas pessoas em guardar o dinheiro que não deu certo, tesoureiros de bancos passaram a distribuir as notas que não teriam serventia em circulação para os colecionadores. ;Eles recebem um bolo de 500 notas do Banco Central. Quando tem alguma estragada, trocam por uma que está boa e repassam as rejeitadas. Enxergo a beleza daquilo que para alguns é só um erro de impressão;, comenta Borba.
Uma nota defeituosa chega a valer três vezes o valor original no mercado de colecionadores. As meninas dos olhos de Borba são as notas de R$ 100 e R$ 1, recortadas acidentalmente em um formato tortuoso. O cearense Hamilton Leite Cruz, morador de Brasília há 38 anos, é amigo de Borba. Aos sábados, das 14h às 18h, a dupla e outros 40 colegas se reúnem na sede da associação, no edifício Rádio Center, na Asa Norte.
O mundo dos dedais
Cruz nunca exerceu a profissão de alfaiate, sempre foi economista, mas a paixão pelos dedais, segundo ele, não tem explicação. ;Na década de 1980, uma revista espanhola especializada em dedais foi distribuída no Brasil. Quando eu vi as peças, fiquei seduzido. Algum antepassado meu deve ter sido alfaiate;, brinca. O economista uniu dois hobbies, o de viajar e o de colecionar dedais. Ele traz, no mínimo, um souvenir de cada país por onde passa.
O aposentado acredita que em cada item de sua coleção está um pouco da história dos locais visitados por ele. ;O dedal da Argentina carrega temas folclóricos. Os brasileiros buscam inspiração nas paisagens. Dos Estados Unidos eu trouxe um que tem a Estátua da Liberdade na ponta. Tenho dedal de madeira, prata, ouro, cristal, porcelana e até de osso;, gaba-se Cruz, dono de mais de 1,3 mil dedais, atualmente.
A Monalisa, de Leonardo da Vinci, a família real espanhola e o escudo do time do coração, o Flamengo, estampam alguns itens da coleção. Os dedais podem custar até R$ 500, dependendo da raridade e da matéria-prima. Da Turquia, onde o dedal foi inventado, ele trouxe por volta de 180 utensílios na última viagem. ;No exterior é mais fácil encontrá-los, aqui no Brasil eles andam meio esquecidos;, reclama.
A sete chaves
O goiano Gilberto Bailão fez do colecionismo muito mais que um passatempo. Quando resolveu se desfazer das moedas e cédulas que colecionava, o empresário abriu um negócio, a Loja do Colecionador, na Asa Norte. Na loja de Bailão, as moedas mais valiosas permanecem guardadas em um local secreto.
Entre as mais cobiçadas pelos numismatas, estão moedas comemorativas do Banco Central em homenagem ao piloto Ayrton Senna (R$ 900), ao tetra campeonato da Seleção Brasileira de Futebol (R$ 1 mil) e ao centenário de Juscelino Kubitschek (R$ 700).
O maior destaque vai para dois patacões, moedas hispano-americanas da época do Brasil colônia. No começo do século 19, Dom João VI mandava carimbar em cima de moedas de menor valor o símbolo de 960 réis, para nacionalizar o dinheiro. Hoje, os exemplares custam até R$ 1 mil.
Na coleção de cédulas em exposição há uma nota de 200 réis, de 1920, que equivale hoje de R$ 5 mil a R$ 6 mil e pode custar até R$ 3 mil para o colecionador. Alguns clientes de Bailão chegam a gastar R$ 5 mil em compras para aumentar a coleção. Além de uma atividade lúdica, a numismática é importante para relembrar e guardar o passado.
Para saber mais
Elas são caras e muito cobiçadas
A simbologia das moedas está ligada ao signo de libra e remete ao equilíbrio e à Justiça. Na moeda, a face que representa a cara significa o lado espiritual, e a coroa o material.
A numismática, ato de estudar moedas, foi considerada uma ciência auxiliar da história pelo Congresso Internacional de Filatelia de Barcelona, na Espanha, em 1960. Na mesma década, foi criado o Dia do Numismata, celebrado em 1º de dezembro.
Os numismáticos sonham com a moeda mais rara do mundo, a única Double eagle, vendida a um colecionador por U$ 7,9 milhões. Feito em ouro, esse dinheiro circulou nos Estados Unidos entre 1850 e 1932. Outra raridade é a portuguesa Real Angra, de 1582, arrematada pela Secretaria de Cultura de Açores (arquipélago independente de Portugal), pelo valor de 26,904 de euros.
Selos
Filatelia ; arte gêmea da numismática ; é o nome dado aos atos de colecionar e de estudar selos de correios e artigos postais em todas as especialidades. Coleções de selos são as mais tradicionais.Em Brasília, o Clube Filatélico do Distrito Federal funciona na mesma sede da Associação Filatélica e Numismática de Brasília.
A Filatelia tem valor reconhecido no Brasil pelo Ministério da Cultura e foi incluída na Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet.