Cidades

Quase metade dos condutores admitem dirigir acima da velocidade permitida

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postado em 08/11/2008 08:20
A agressividade e a impaciência são uma marca do brasiliense no trânsito. No Distrito Federal, quase metade dos motoristas, 46,4%, admitem dirigir acima da velocidade permitida pelas vias. A luz vermelha nos semáforos não impede que 30,9% atravessem o cruzamento. E, para quem pensa que a faixa de pedestre é respeitada, um alerta: na cidade nacionalmente conhecida por dar prioridade a quem caminha, 24,1% dos motoristas admitem não dar preferência a eles. Os dados integram uma sondagem realizada pelo Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) a que o Correio teve acesso com exclusividade. No primeiro semestre deste ano foram ouvidas 834 pessoas, em todas as regiões do DF. As constatações do estudo são reforçadas pelas estatísticas do Departamento de Trânsito (Detran). O excesso de velocidade lidera a lista das 10 infrações mais praticadas ao volante. De 1º de janeiro a 31 de outubro deste ano, o órgão registrou 724.551 flagrantes. Em 3,31% deles ; ou 24.005; o limite foi ultrapassado em 20%. O avanço de sinal vermelho ocupa o segundo lugar no ranking, com 114.863 casos (veja arte). O motorista Jair Mota, 41 anos, está entre os que acabaram pegos dirigindo acima da velocidade permitida. ;Recebi umas 10 multas de pardal. Na comunicação do Detran dizia que era no Cruzeiro, mas, na verdade, o equipamento fica na Octogonal. Quando descobri isso parei de ser multado;, contou. Este mês Jair recebeu uma carta para comparecer ao Detran. ;Citaram o artigo 261. Acho que atingi 20 pontos. Vão querer me prender naquela escolinha. Isso não adianta nada. Quem é motorista sabe o que é infração. Uma coisa é saber e outra é nunca cometer um deslize.; Justificativas A reportagem passou a tarde da última quinta-feira e a manhã de ontem percorrendo vários pontos da cidade para observar os 10 pecados mais cometidos pelo condutor do DF. Os flagrantes mais corriqueiros foram de avanço de sinal, de uso de celular e de falta do cinto de segurança. Algumas das infrações mais praticadas levam o motorista a cometer outras. Por exemplo, quem dirige e fala ao celular ao mesmo tempo acaba conduzindo o veículo com apenas uma das mãos, o que também é proibido. O coordenador da pesquisa que revela a conduta do brasiliense ao trânsito, Valdir Pucci, constatou que, ao infringir a lei, o brasiliense não acredita estar errado. O problema é sempre dos outros. ;Ele anda acima da velocidade e não gosta do pardal porque acha que é a indústria da multa. Ele ocupa vaga reservada para deficientes e idosos e diz que é porque não tem vaga suficiente. A culpa é sempre de terceiros. Ele não reconhece que, agindo dessa forma, contribui para o caos no trânsito;, avaliou Pucci. De acordo com o estudo, 45,4% dos entrevistados já se envolveram em acidentes. O gerente de Fiscalização do Detran, Silvaim Fonseca, condenou o avanço de sinal, considerado por ele um caso sério. ;É o estresse. A pessoa fica afoita e avança. Arrisca muito para ganhar poucos segundos;, afirmou. A falta do cinto de segurança e o uso de celular ao volante ; quarta e sexta colocações no ranking das 10 infrações mais cometidas ; também preocupam Fonseca. ;Fizemos um levantamento no Jardim Botânico e, de 10 carros, em quatro o condutor ou o passageiro estavam sem o cinto. Especialmente perto de casa a pessoa acha que está livre de riscos. E o celular é o mal da modernidade. Estudos mostram que ele tem o mesmo efeito que o álcool. Tira muito a atenção do condutor;, alertou. Reserva ignorada Na hora de estacionar o carro parece valer tudo. Na tarde de ontem, o cabo da PM Aguimar Alves de Jesus Filho teve de empurrar um veículo estacionado em local proibido para conseguir retirar o dele. ;Pelo menos o motorista teve o bom senso de deixar o carro solto. O correto seria eu mesmo multá-lo. Só não fiz isso porque estou sem meu talão de multas.; Nem mesmo as vagas reservadas a idosos ou deficientes são poupadas. De acordo com a pesquisa da UDF, apenas 3,3% dos condutores disseram nunca ocupar estas vagas. E mais da metade, 50,2% dos entrevistados, admitiram parar em fila dupla quando não encontram vaga. O resultado da pesquisa não surpreendeu Pucci. Para ele, os números são reflexo da sociedade brasiliense. ;As regras não são vistas como algo que facilitam a vida e tornam o trânsito civilizado. Ao contrário: são impeditivas, encaradas no sentido negativo;, analisou. Para inibir alguns dos abusos, o coordenador do estudo defende medidas polêmicas, como adotar o pardal móvel e retirar a sinalização de aviso do esquipamento eletrônico. ;Dos que responderam ao questionário, 43,7% disseram que trafegam em alta velocidade e reduzem apenas quando se aproximam do pardal ou da barreira.;

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