Cidades

Aprendizado dos alunos da rede pública está longe do desejável

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postado em 09/11/2008 08:20
O boletim dos alunos da rede pública de ensino está cheio de notas vermelhas. Só em matemática, 46% dos 76 mil estudantes do ensino médio tiveram nota abaixo da média no primeiro semestre deste ano. Em física, o desempenho também é sofrível: 45% dos adolescentes não conseguiram alcançar a média, que é de cinco pontos. As notas baixas se repetem até em artes e educação física. Mas as piores disciplinas são as fundamentais: português e matemática. A dificuldade nessas matérias repercute em outras. Um aluno que não sabe interpretar o enunciado de uma questão por problemas de alfabetização não consegue respondê-la. E quem não sabe fazer contas pode ter dificuldade no aprendizado de ciências, por exemplo. O número de alunos com notas baixas é maior no ensino médio (veja quadro na página 34). No entanto, o cenário preocupa também no ensino fundamental, a partir da 5ª série. Vale lembrar que entre a 1ª e a 4ª séries não existe nota, apenas um relatório feito pelos professores. Os piores desempenhos, para os mais novos, também estão em matemática e português. Na primeira disciplina, são 37% de casos de notas abaixo da média no primeiro bimestre e 38% de notas abaixo da média no segundo. Português vem em segundo lugar, com 33% de menções vermelhas no boletim. Ao todo, 141.093 estudantes estudam nessas séries. Marcelo Lima, de 14 anos, é um deles. Com notas baixas em geografia, história e matemática, o estudante da 7ª série não sabe se vai passar de ano. ;Minha mãe diz que sou difícil, mas o problema é que a aula é chata. Não dá vontade de prestar atenção;, conta. Ceilândia, onde ele mora e estuda, é a cidade do DF com os piores desempenhos em geografia. Lá, 33% dos alunos ficaram com notas abaixo da média. Susto Os dados do desempenho dos estudantes foram reunidos em gráficos e apresentados aos diretores das 14 regionais de ensino do DF. Ninguém escondeu o susto. ;Não dá para negar. A situação é preocupante;, avalia o secretário de Educação, José Luiz Valente. ;Mas identificar as carências dos estudantes no meio do ano é melhor do que esperar a situação complicar. Ainda dá tempo de reverter o quadro;, completa. Após apresentação para os diretores, o material foi publicado no novo portal da Secretaria de Educação (www.se.df.gov.br). Para o professor especialista em educação da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Augusto de Medeiros, o baixo desempenho é mistura de fatores igualmente preocupantes. ;Existe uma cultura de reprovação entre os docentes. Professor bom é o que dá mais nota baixa. Mas isso não diminui a influência do aprendizado de má qualidade no desempenho dos alunos;, avalia. ;Os jovens chegam ao final do ensino médio sem saber escrever uma carta para pedir emprego.; Ciências O problema é generalizado no DF. Mas em algumas cidades é ainda mais grave. No Gama, 4.700 dos 6.800 matriculados no ensino médio tiveram nota abaixo de cinco em física no primeiro bimestre ; isso equivale a 69% dos alunos. ;Quando vi os números, quase caí para trás;, admite a diretora da regional de ensino do Gama, Maria Aparecida do Nascimento Cury. ;Isso mostra que os alunos estão com dificuldade de aprendizagem. Tenho que assumir minha responsabilidade e cada um tem que assumir a carga de culpa para mudar;, afirma. Em outros lugares, a tendência se repete. Em Brazlândia, 56% dos adolescentes tiveram nota baixa em química. De acordo com Maria Aparecida, após tomar conhecimento dos resultados, a regional começou a trabalhar em ações que envolvem desde a análise dos gráficos de desempenho dos alunos com piores resultados até a participação de professores na elaboração do currículo da educação básica do ano que vem. ;Também estamos organizando mesas-redondas, palestras e mostras que envolvam os alunos e professores;, comenta. Pedro Henrique Bezerra, de 17 anos, sabe bem a importância de identificar dificuldades de aprendizagem antes que a situação se complique. Estudante do 2º ano do ensino médio no Elefante Branco, ele não quer correr o risco de reprovar outra vez. ;Repeti a 4ª série por causa da bagunça que fazia;, comenta. Na época, ele estudava perto de casa, em Santa Maria. ;Hoje, tento levar mais a sério e não devo ficar em recuperação.; A matéria que Pedro tem mais dificuldade é inglês. ;Para quem estuda na rede pública, uma língua estrangeira dá mais trabalho. Não estamos familiarizados;, analisa. Assim como ele, outros 63 mil estudantes, entre 5ª e 8ª séries do ensino fundamental e nas três séries do ensino médio, tiverem nota baixa em inglês.

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