Cidades

Secretaria aposta na análise dos alunos para descobrir deficiências na estrutura

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postado em 09/11/2008 08:25
As baixas notas dos alunos da rede pública do DF são prova de que os professores não sabem avaliar o conhecimento absorvido pelos estudantes. É com esse foco que a Secretaria de Educação pretende enfrentar os dados. ;Nas avaliações do Ministério da Educação (MEC), nossos alunos vão bem e na sala de aula, não;, estranha a subsecretaria de Planejamento e Inspeção de Ensino (Subip), Solange Paiva Castro. Foi por isso que a secretaria apostou em consolidar as notas dos alunos em gráficos para conhecer o tamanho do problema. ;Se um professor é carrasco e outro é bonzinho na mesma disciplina e mesma matéria, quem está certo? Vamos ver as notas para saber;, enfatiza Solange. A idéia de avaliar o desempenho dos alunos tem como símbolo a história de um professor do ensino médio do Paranoá, cujo nome não foi divulgado para evitar represálias. Nos últimos dois anos, ele reprovou mais de 90% dos estudantes em física, disciplina que leciona. De acordo com a diretora da Subip, a partir da análise do desempenho dos alunos será possível avaliar exageros. ;Um professor que reprova todos os alunos está reprovando também o próprio trabalho porque deixa claro que não sabe ensinar;, afirma. A idéia, de acordo com ela, é comparar as notas dos alunos de uma turma com as outras da mesma escola e, depois, da regional de ensino. ;É claro que esses dados serão cruzados com outros das avaliações internas da própria escola e externas da secretaria e do Ministério da Educação. Se alunos de um professor vão mal e outros da mesma escola vão muito bem, tem coisa errada.; O sistema da Subip emite relatórios de todas as 616 escolas públicas do DF. O objetivo final, indica Solange, é o aprendizado. ;O acompanhamento no decorrer do ano nos permite investir numa recuperação progressiva, enquanto o período letivo está em andamento.; A partir do próximo bimestre, os boletins virão com a nota da turma ao lado da dos alunos para que os pais acompanhem o desenvolvimento dos filhos.; O especialista em educação da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Augusto de Medeiros ressalta que a responsabilidade não pode ser toda jogada no colo dos professores. ;Minha esposa é professora de matemática e tem 10 turmas, cada uma com 45 alunos. Como dar atenção diferenciada?;, pergunta. O diretor do Sindicato dos Professores Antônio Lisboa completa: ;Os professores são mais vítimas que sujeitos do fracasso educacional.; De acordo com ele, não há problema em ser avaliado, contanto que seja feita uma leitura crítica de outras questões que influenciam no ensino, como linha pedagógica, política de ensino e estrutura oferecida no sistema. Resposta José Luiz Valente, secretário de Educação, rebate: ;A transparência no tratamento dos dados nos ajudará a conquistar o objetivo maior, que é ensinar os alunos.; Com os dados em mãos, os diretores das 14 regionais de ensino correm para mudar o desempenho dos alunos. Leila Pavanelli, responsável pelo Plano Piloto e Cruzeiro, disse que a aposta está concentrada no incentivo à leitura. ;Muitos professores acham que a leitura oral só deve ser treinada até a 4ª série. Não concordo. Ela é fundamental porque quem não lê bem, não interpreta bem;, afirma. Maria Higina, do Paranoá, tem solução mais polêmica. Para ela, uma das origens do problema está no excesso de aprofundamento. ;É claro que o aluno deve aprender trigonometria na matemática ou na física, mas isso deve ser importante para o desenvolvimento do raciocínio lógico, não para reprovar todo mundo.; O professor da UnB Carlos Augusto faz ressalvas. ;Tirar matérias vai reduzir chances de passar no vestibular. O aprendizado ser significativo para a vida dos alunos é fundamental. Não é questão de superficialidade. Passar no vestibular não pode ser o fim, mas não dá para ignorar.; Dicas para recuperar o tempo perdido O ano letivo está acabando. Começou a época crítica para o estudante que não conseguiu boas notas e corre o risco de reprovar. No entanto, ainda dá tempo de salvar o boletim. De acordo com a educadora Ana Clara Lima, apagar incêndio não significa aprendizado. ;A deficiência de conteúdo segue para o ano seguinte quando o estudo é de última hora;, comenta. ;Por isso, assim que o próximo ano letivo começar, é necessário rever o conteúdo para que o susto não se repita.; De qualquer forma, agora, é hora de se organizar. Vale procurar ajuda dos mais velhos para tirar dúvidas de última hora. Caso o aluno tenha dificuldade, os pais também podem pedir ajuda às escolas. Muitas oferecem aulas de reforço sem cobrar nada ou fazem plantão de dúvidas. A estratégia pode fazer diferença porque garante atenção individualizada. Além disso, eles podem ajudar na organização do tempo de estudo. Os estudantes Paulo Henrique Caldas e Gabriel Leite Barbosa, ambos de 13 anos, torcem pela chance de superar as notas baixas. Gabriel está com dificuldade em matemática e inglês. ;Equação é difícil, mas agora estou estudando em casa para ir bem na recuperação;, afirma. Paulo está com problemas em inglês. ;Estou no curso de inglês à tarde para não correr o risco de perder o ano. Nunca reprovei e não vai ser agora.; Ana Clara explica que pequenos cuidados são suficientes para que os jovens criem hábito de estudo e possam ser beneficiados com a antecipação das férias. A educadora aconselha o aluno a criar hábitos saudáveis de estudo desde cedo. ;Isso começa já nos primeiros passos na escolinha quando os pais devem incentivar um horário de concentração e valorizar o prazer da descoberta;, explica. Os pais devem ficar atentos. ;Devem estar de olho no rendimento dos filhos e nunca se omitir;, avalia. Ela também defende que o aluno releia o conteúdo da aula e refaça questões desenvolvidas em sala. Outro bom conselho é planejar o tempo prevendo as dificuldades com as matérias. Fuja do sufoco Ainda é tempo de evitar a reprovação, segundo professores e alunos # Lembre-se que o objetivo final da escola é o aprendizado # Crie um cronograma de estudos diário e semanal, levando em conta matérias de mais conteúdo; # Privilegie as matérias que precisam de maior nota; # Evite estudar apenas na véspera das provas; # Estude o que foi dado no dia para não deixar o conteúdo acumular; # Se você não entendeu algo, questione o professor; # Seja disciplinado e não ocupe as horas de estudos com outras atividades; # Faça e refaça os exercícios passados em aula no decorrer do ano; # O ambiente de estudo deve ser confortável, mas não a ponto de dar sono; # Não atenda o telefone nem deixe a televisão ligada ou o som alto; # Dê intervalo de 15 minutos entre uma matéria e outra; # Se você não tem costume de estudar muito, não passe das três horas por dia Confira as notas dos estudantes da rede pública por séries e disciplinas http://stat.correioweb.com.br/cbonline/2008_11/ensinomedio.pdf http://stat.correioweb.com.br/cbonline/2008_11/ensinofundamental.pdf

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