Jornal Correio Braziliense

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Donos do terreno onde meteorito foi encontrado pretendem vendê-lo por R$ 1 milhão

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O segundo maior meteorito encontrado em solo brasileiro está enterrado em uma fazenda do interior goiano. Após tomarem conhecimento do que se tratava e do valor no mercado internacional, os donos da propriedade rural decidiram esconder a pedra com cerca de 2,5 toneladas. Acreditam ter um tesouro. Por isso, mantêm segredo. Tanto que os quase 10 mil moradores de Campinorte, cidade distante 300km de Brasília onde está o material vindo do espaço, ainda não sabem da descoberta. Astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto fala sobre o meteorito encontrado em Goiás Pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro, no entanto, receberam uma amostra de 50 gramas da pedra. Após análise, reconheceram a rocha como o 58º meteorito encontrado no Brasil e o classificaram com o nome do município goiano onde foi localizado, como manda a norma internacional. Agora, querem um pedaço maior para as pesquisas científicas e exposições. Mas os fazendeiros pretendem vendê-lo como está. Acreditam que podem faturar até R$ 1 milhão. Referência nos estudos sobre meteoritos no Brasil, o Museu Nacional não tem dinheiro para comprar esse tipo de material. As pesquisas são feitas em amostras enviadas pelos descobridores casuais e caçadores profissionais de meteoritos. Às vezes, a instituição ganha a pedra completa, como o Meteorito Bendegó, o maior do Brasil, com 5,36 toneladas. ;Mas não há lei que proíba o comércio de meteorito no país. Nem a exportação dele;, ressalta a astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto. Responsável pelo setor de meteoritos do Museu Nacional, ela recebeu as fotos e a amostra do Meteorito Campinorte. ;Sem dúvida, é um meteorito. Mas não tem o valor econômico tão alto porque não é raro. A estrutura é parecida com a de outros localizados no Brasil. Os donos podem ganhar dinheiro com a quantidade, mas não tanto quanto pensam;, explica Zucolotto. Ela estima que a pedra tenha caído em Goiás há mais de mil anos. ;Não há relatos que alguém tenha visto ele cair nos últimos 200 anos. Portanto, deve ter atingido a terra e, com o tempo, coberta. Depois, em função da agricultura, o solo foi sendo remexido;, observa a astrônoma. Negociantes O Meteorito Campinorte tem dois negociantes brasileiros falando em nome dos fazendeiros goianos. Um deles é Rogério Vieira Diniz, 47 anos. Morador de Curvelo (MG), ele vive da mineração. Viaja pelo país à procura de áreas inexploradas. Quando encontra sinais de uma grande reserva de minério, oferece a grupos de investidores. E foi em uma viagem por Goiás, procurando cobre, que chegou a Campinorte, há dois meses, e se deparou com uma rocha que diziam ser ;pedra-ferro;. Rogério conta que logo suspeitou tratar-se de meteorito, pois conhecia o elemento de um. ;Não existe pedra-ferro. Ferro é comum em meteorito;, observa. Ele alugou um detector de metais e levou para a fazenda onde a tal pedra estava enterrada. ;Tinha tanto ferro embaixo da terra que o detector quase explodiu;, lembra. Em seguida, os donos da propriedade alugaram uma escavadeira para retirar a pedra. Com ela descoberta, fotografaram, mediram e tiraram uma lasca do material para enviar ao Museu Nacional. Agora, Diniz e os donos da fazenda (e do meteorito) aguardam o resultado de uma análise da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, para onde o Museu Nacional enviou a amostra da pedra, após constatar que se trata de um meteorito. A instituição norte-americana é uma das poucas com tecnologia para apontar todos os elementos químicos de um meteorito ; alguns chegam a ter dezenas. O aval da universidade norte-americana é tratado pelos negociantes como uma espécie de certificado de garantia. Ele agrega valor à pedra cósmica. Marcianos Por causa da raridade, os meteoritos são vendidos em gramas. A escassez, a disponibilidade e o tamanho das amostras, assim como a importância e qualidade de sua apresentação podem afetar o preço. Não é incomum que um material verdadeiramente escasso exceda a US$ 1 mil (cerca de R$ 2 mil) o grama. Comparado com os gramas de ouro e de diamante, os meteoritos são muito caros. A produção de ouro é muito superior e, no entanto, o preço do grama estava cotado a R$ 54 ontem. A busca por meteoritos mundo afora aumentou há dois meses, com a notícia de que micróbios marcianos estariam hospedados em um meteorito caído na Antártida. O achado foi desmentido. Mas, desde então, criou uma mania de consumo e um bom negócio nos Estados Unidos: o comércio de meteoritos. Há mais de 40 empresas no mundo que exploram o comércio de meteoritos. A mais famosa é dirigida por Robert A. Haag, conhecido como o homem meteorito. Dono da maior e mais diversificada coleção particular de rochas extraterrestres do mundo, vendeu mais de US$ 1 milhão, excedendo todos os outros vendedores de meteoritos. Ele tem mais de 3,5 mil clientes. Só um empresário japonês adquiriu uma pequena seleção de meteoritos no valor de US$ 700 mil em 1989 e 1990.