postado em 13/11/2008 08:04
Ele tem 12 anos. Mas à primeira vista, parece ter menos de 10. Quando é chamado para ouvir bronca na diretoria do Centro de Ensino Fundamental 308 de Santa Maria, onde está matriculado para cursar a 5ª série, chora como uma criança. Não se engane. O menino em questão é temido pela população, professores e, até mesmo, pelos próprios amigos do crime. É conhecido na cidade como o ;Perigoso;. No Condomínio Porto Rico, é o ;Coração Gelado;. São cinco passagens pelo Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), onde está hoje. Cumpre medida socioeducativa na ala para os adolescentes mais violentos. Está lá há um mês, desde que matou e deixou uma faca enterrada no pescoço de sua última vítima, depois de um assalto. As outras quatro apreensões foram por assalto à mão armada. ;Ele já nasceu com um beque (cigarro de maconha) em uma mão e uma arma na outra;, conta um colega que participou do crime.
Coração Gelado faz parte de uma espécie de quadrilha mirim que aterroriza as quadras 302, 304, 308 e 309 de Santa Maria. O mais velho do grupo de cindo adolescentes tem apenas 15 anos. Dois deles estão no Centro de Atendimento Juvenil Especializado II (Cesami), mas devem sair nos próximos dias, depois de um mês e meio detidos por assalto à mão armada. ;Tenho muito medo. A violência é demais;, denuncia a dona-de-casa que mora na Quadra 309 de Santa Maria. Assustada, pede para não ter o nome divulgado.
Há pouco mais de um mês, o grupo assaltou sete microônibus e quatro ônibus que fazem a rota de Santa Maria para o Plano Piloto. Em um deles, Lucas*, de 14 anos, encontrou um conhecido da mãe. Colocou o capuz para esconder o rosto. Não foi suficiente. E a mãe recebeu um telefonema. ;Vi seu filho com uma arma na mão dentro da lotação;, disse o trabalhador. A mãe denunciou o caso para a polícia, que desmontou o esconderijo dos cinco em um sobrado na Quadra 304. De lá para cá, a mãe dele tenta tirá-lo das drogas e do mundo do roubo. ;Minha mãe é guerreira. Não quero que ela sofra mais;, afirmou o menino em conversa com o Correio, na última terça-feira. Ele contou em detalhes o modus operandi do grupo.
Eles furtam, roubam, agridem, traficam e matam. Até o ano passado, a escola era palco de boa parte da violência. Hoje, agem nas ruas. Só a lan house da Quadra 302 da cidade já foi assaltada pelo grupo cinco vezes em dois meses. Este ano, com a mudança da direção do colégio, criaram uma espécie de milícia que age para proteger o lugar. ;A gente não deixa os moleques fazerem nada com a escola. É sagrado;, afirma Lucas. A mudança de comportamento é reflexo da nova política da instituição de ensino. A proposta é tentar resgatar os garotos para o ambiente escolar como um dos caminhos para a recuperação. Para o promotor Renato Varão Baraldo, do Ministério Público do DF, a escola deve agir nesse sentido. ;A instituição de ensino não pode expulsar os meninos e meninas que dão trabalho.;