Cidades

Meteorito encontrado a cerca de 300km de Brasília continua inacessível

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postado em 13/11/2008 08:14
Campinorte (GO) ; A localização exata onde está escondido o segundo maior meteorito encontrado no Brasil é mantida em sigilo. Ele permanece enterrado em uma propriedade de Campinorte, a cerca de 300km de Brasília. Os fazendeiros, dois irmãos goianos que também não querem ver os nomes e imagens divulgados, temem ter a terra invadida por garimpeiros. As riquezas minerais da região atraem caçadores de pedras preciosas. Com quase 2,5 toneladas, a rocha extraterrestre é negociada por R$ 1 milhão. Há estrangeiros interessados na compra.Para vender o meteorito, os fazendeiros acionaram um negociante de minérios e um advogado. ;Eles estão cautelosos porque ainda não sabem direito como tratar a pedra, tirá-la da fazenda;, ponderou o advogado Joaquim Luís da Silveira, que mora e trabalha em Goiânia. Ele contou que os donos da propriedade localizaram a pedra há 12 anos. ;Na época, cheguei a mandar um pedaço para análise em um laboratório de Goiânia, mas eles não conseguiram identificar o material;, contou. Pouco mais de três meses atrás, o explorador de minérios Rogério Vieira Diniz, 47 anos, deixou Curvelo (MG), onde mora, para procurar pedras preciosas em Goiás. Em Campinorte, soube da ;pedra-ferro; em uma fazenda. Alugou um detector de metais e foi à propriedade. ;Quando o detector começou a apitar forte, percebi que poderia ser um meteorito, pois já tinha visto outros;, lembrou. Cinqüenta gramas da pedra foram enviados ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, que, após análise, o reconheceu como o 58º meteorito encontrado no Brasil e o classificou com o nome do município goiano onde foi localizado. Assunto preferido Enquanto o Museu Nacional tenta convencer os fazendeiros goianos a doar uma parte maior do meteorito e eles procuram manter o local do esconderijo em sigilo, a presença da pedra domina as conversas em Campinorte. O município de pouco mais de 9 mil moradores acordou ontem com a notícia do segredo desvendado pelo Correio Braziliense. No fim do dia, era só o que se falava na cidade com apenas duas ruas comerciais, ocupadas por motos e bicicletas. Alguns trataram de providenciar a edição impressa do jornal com a reportagem sobre a pedra escondida em uma propriedade da zona rural. Até então, poucos sabiam da existência do meteorito. E esses vinham guardando o segredo confidenciado pelos donos da terra e da pedra vinda do espaço. Agora, o que os demais habitantes de Campinorte mais querem saber é onde está o meteorito e quem são os donos. ;Uma hora ele vai aparecer porque vai ter de contratar máquinas para tirar a pedra e transportá-la;, aposta Ironides Martins da Costa, 60 anos, investigador da Polícia Civil de Goiás. Muitos sonham com o dinheiro que os proprietários da fazenda podem faturar com o meteorito. ;Com um dinheirão desses (R$ 1 milhão), eu ia descansar;, afirmou Sebastião Marcelo Teixeira, que aos 72 anos faz fretes com sua carroça e o cavalo. ;Se achasse um negócio desses nunca mais vendia pamonha. E comprava uma fazenda;, comentou Mário Soares da Silva, 50 anos, que há 15 vende pamonhas fritas e cozidas em uma das duas avenidas da cidade. Com o produto a R$ 1,50, ele fatura, no máximo, R$ 600 por mês. Para aumentar a renda, ainda dirige uma kombi escolar todas as manhãs. Segredo entre amigos Os poucos moradores que sabem quem são os donos da fazenda onde está o meteorito tentam manter o segredo. ;Um deles me contou no dia em que decidiram desenterrar a pedra e mudar ela de lugar para o povo não roubar. Isso foi há uns quatro meses;, comentou o barbeiro Paulo da Cunha Matozinhos, 36 anos. Ele acrescentou que as terras onde a pedra está escondida são pisoteadas diariamente por bois e vacas criados para corte. Parte dos moradores de Campinorte, no entanto, entende a preocupação dos fazendeiros em manter o anonimato. O pacato município ainda se recupera do fim trágico de outro sortudo repentino. Há pouco mais de um ano, um morador de rua conhecido do município ganhou R$ 210 mil na Loto Fácil. O bilhete premiado havia lhe custado apenas R$ 1. Ele chegou a comprar casa e moto. Mas acabou envolvido no mundo das drogas por viciados locais. Os supostos amigos acabaram matando o ex-mendigo a facadas. Queimaram o corpo dele e jogaram em um matagal. A polícia desvendou o crime e a Justiça condenou três rapazes pelo assassinato. Em seguida, um advogado apareceu com uma mulher que seria a única herdeira da vítima. Ambos conseguiram sacar os R$ 100 mil que restavam na conta do morto. Mas, após o advogado sumir da cidade, a polícia descobriu que os documentos dela eram falsos. Apenas a mulher terminou presa. O advogado está foragido. Fortuna que vem do céu Um grama de pedra extrarrestre vale de R$ 20 a R$ 20 mil. O valor varia de acordo com a raridade e condição do material. ;Os negociantes só acreditam em meteoritos reconhecidos com chancela do Meteoritical Bulletin (entidade norte-americana). Mas no Brasil, o Museu Nacional ; mesmo sem recursos ; é o centro de referência nesta área;, ressalta a astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto, responsável pelo setor de meteoritos do museu. Meteoritos caem sobre a Terra e distribuem-se eqüitativamente. Mas o Brasil, com quase metade da área da América do Sul, tem amostragem inferior à do Chile ou da Argentina.;Essa amostragem reduzida de meteoritos deve-se à insensibilidade da população para a percepção do valor de registros e comunicação de eventos capazes de contribuir para o aumento deste patrimônio;, comenta Elizabeth. Com a pedra de Campinorte, o Brasil tem 58 meteoritos reconhecidos pela ciência, apesar de as estatísticas sugerirem a existência de milhares espalhados por seu território. O maior e mais famoso dos meteoritos brasileiros, o Bendengó, foi descoberto na Bahia, em 1784, quando ainda se discutia a natureza desses corpos. Um século mais tarde, a pedido de D.Pedro II, ele foi transportado para o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Durante muito tempo o Bendengó, de 5,3 toneladas, foi o maior meteorito em exposição em todo o mundo. PESQUISA Para análise de um exemplar basta ao interessado enviar uma amostra de pelo menos 20 gramas para o DGP/ Museu Nacional ; Quinta da Boa Vista ; São Cristóvão ; Rio de Janeiro. CEP 20940-040 aos cuidados de Maria Elizabeth Zucolotto. (RA)

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