postado em 15/11/2008 08:20
Dietas corporativas têm feito funcionários acima do peso entrar na linha em pleno ambiente de trabalho. Duas organizações de Brasília promovem campanhas internas de emagrecimento e incentivam os servidores a cuidar melhor da saúde. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a Polícia Militar já somam centenas de quilos perdidos e garantem que o regime coletivo tem feito sucesso.
Na liderança da corrida pela boa forma no STJ está o servidor Paulo César Gomes de Sousa, 39 anos. Em pouco mais de três semanas, ela perdeu 9,3kg. Pulou dos 129,6kg para 120,3kg com mudanças na dieta e na rotina. Sedentário e obeso, ele começava a apresentar problemas relacionados ao excesso de gordura no organismo: hérnia de disco e dificuldades para dormir. Há dois anos, ele até parou de jogar futebol porque ficou difícil correr.
Assim que entrou da disputa pelo prêmio do STJ, ele trocou as caminhadas esporádicas por musculação e natação. ;Tive motivação para fazer exercício e já consegui me reeducar. Me alimento de porções pequenas ao longo do dia e anoto tudo o que como;, afirmou Paulo. O servidor costumava eliminar o café-da-manhã e descontar toda a fome no almoço e no jantar. Agora, divide as calorias diárias em sete refeições balanceadas. ;De três em três horas, como alguma coisa. Dou mais valor às frutas e aos sucos e comecei a comer geléia ou azeite no lugar da manteiga no pão;, detalhou.
Saladas e frango
A reeducação alimentar exige de Paulo esforço para resistir às tentações. Os três bifes na hora do almoço viraram um pedaço de peixe ou frango. No restaurante self-service do trabalho, onde faz de três a quatro refeições por semana, ele investe no balcão de saladas. ;Quero sair da casa dos 100kg!”, revelou o servidor, que pretende manter a alimentação correta após o fim do concurso, em 15 de dezembro. Paulo concorre com cerca de 1,5 mil funcionários, estagiários e terceirizados do STJ que se inscreveram no programa (5 mil pessoas trabalham no órgão).
Na competição em que perder é sinônimo de ganhar, sai no lucro quem mandar mais gramas para o espaço. Os participantes estão divididos em duas categorias: um grupo com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 24,9 (mais gordos), e outro grupo abaixo dos 24,9 (mais magros). O primeiro lugar de cada grupo leva R$ 700 e o segundo, R$ 300, além de tratamentos em uma clínica de estética. No concurso de 2006, os funcionários do STJ perderam, juntos, cerca de 500kg.
Os concorrentes se pesam uma vez por semana, em uma balança no restaurante do tribunal. O refeitório, aliás, é um fator determinante no emagrecimento dos servidores. Desde o início do ano, a comida servida teve redução de 90% de gordura. As frituras em óleo foram extintas ; o forno combinado mistura calor seco e úmido, produzindo milanesas iguais às tradicionais. ;A mesma comida pode ter uma diferença calórica de 100%, dependendo do modo de preparo, do tanto de gordura usada;, explicou o nutricionista Aldemir Mangabeira, responsável pelo programa. Os peixes entram no cardápio três vezes por semana e um bufê de frutas com granola e aveia faz sucesso entre as sobremesas.
Empresas e órgãos públicos têm motivos para se preocupar com o peso dos funcionários. A prevenção pode evitar futuros danos à saúde, com influência direta na produtividade. ;Uma população jovem já com problema de sobrepeso pode chegar aos 50 anos com a saúde prejudicada, se sentindo mal. Você tem uma série de desdobramentos que vão comprometer a longevidade e mesmo a produção do funcionário;, comentou Mangabeira.
A servidora Fernanda Teotônia Vale Carvalho, 32 anos, perdeu 4kg em duas semanas e conquistou um dos melhores resultados entre as mulheres. Ela vive de dieta para recuperar o corpo pré-gravidez. Fernanda engordou 32kg na gestação do quarto filho, nascido há um ano. Até agora, se livrou de 25kg. ;Sempre tive resistência à dieta com muitas refeições, achava que ia engordar. Mas essa está sendo menos penosa e mais duradoura;, declarou. A servidora restringiu o consumo de proteínas a duas refeições por dia e voltou a usar roupas que estavam aposentadas.
Militares em forma
Há um mês, a Polícia Militar intensificou o combate contra um dos maiores inimigos dos funcionários. Policiais tiram de letra salvamentos, prisões de criminosos e perseguições, mas não impedem que pneuzinhos se alojem na cintura. Exames anuais dos PMs mostraram que muitos sofrem com o excesso de peso, então a equipe de nutrição lançou uma campanha de incentivo à boa forma. O Certamente Obesos Emagrecendo (COE) tem 100 pessoas inscritas. A meta do grupo é perder no mínimo 200kg até abril de 2009.
Os voluntários do programa passaram por exames e receberam uma dieta personalizada. As dicas nutricionais levam em conta altura, peso, Índice de Massa Corporal, percentual de gordura e circunferência abdominal. Os policiais também são orientados a fazer atividade física para ter mais resultados. ;Alguns se alimentavam mal, comiam besteira. Muitos até tentavam comer bem, mas não sabiam como. Agora eles estão se adaptando bem e perdendo bastante peso;, disse a nutricionista da PM Márcia Leal. Ela lembra que a obesidade pode aumentar os riscos de problemas cardíacos, diabetes, pressão alta e cansaço.
Policiais que não tinham o hábito de colocar folhas no prato tiveram que se habituar às saladas. Comidas industrializadas, refrigerante e carne vermelha perderam espaço nas refeições e deram espaço a alimentos com fibras e pouca gordura. ;Nosso interesse é que eles aprendam a se alimentar e levem isso para a vida;, comentou Márcia.
O cabo Walace do Nascimento Lopes, 39 anos, entrou no COE decidido a eliminar 8kg conquistados à custa de muito biscoito recheado depois do almoço. Com a adoção de legumes, frutas, gelatinas e sucos naturais, ele perdeu 3kg em um mês. ;A dieta está dentro do que eu gosto, mas tem mais vegetais. Eu comia arroz, feijão e bife e achava que estava me alimentando bem;, disse Walace, que aboliu as sobremesas.
O policial lembra que tentou todo tipo de dieta antes da campanha da corporação, mas os resultados eram temporários. Era o efeito sanfona: ele emagrecia, depois engordava novamente. Entre as loucuras para emagrecer, Walace passou três dias só comendo abacaxi ; a meta eram sete dias, mas o organismo não suportou tamanha restrição. Há seis meses, o cabo parou de fazer exercícios por orientação médica. Estava com a pressão alta, culpa do sobrepeso. Na próxima semana, quer voltar a treinar capoeira e recuperar a qualidade de vida dos tempos de magro. ;É uma questão de perseverança;, concluiu.