postado em 16/11/2008 08:18
A menina de 11 anos adora maquiagem e o grupo mexicano RBD. Mas paixão mesmo ela tem pelo Orkut. Freqüenta o site de relacionamentos mais popular do mundo desde os 9, quando se juntou a uma prima da mesma idade para montar o perfil de cada uma. As duas esconderam dos pais a então novidade. Até que, há alguns meses, uma delas se assustou. Um homem de 54 anos mandou mensagens convidando-a para um encontro. ;Não gostei, fiquei com medo e acabei contando para o meu pai. Ele brigou feio comigo;, lamentou a estudante de uma escola pública do Plano Piloto.
A bronca do pai tem uma razão, além da falta de confiança da filha: os perigos do Orkut. Sem noção da vastidão do território virtual, crianças e adolescentes acabam expostos a pedófilos, racistas e preconceituosos dos mais variados tipos e idades. São os mesmos bandidos digitais que usam o site, pertencente à empresa Google, para arriscar encontros e incentivar comportamentos anti-sociais. A Safernet Brasil, especializada em combate a crimes na internet, recebeu 76.675 denúncias contra o Orkut entre janeiro e outubro. É um caso a cada 5 minutos e 45 segundos.
Na capital do país, a ameaça cibernética começa na infância. Existem hoje brasilienses de 7 anos com perfis detalhados em uma ferramenta virtual que deveria admitir apenas pessoas com mais de 18 anos. O Correio ouviu, durante a semana, histórias contadas por meninos e meninas internautas de 7 a 12 anos. Estudantes de escolas públicas ou particulares, de classes baixa, média ou alta, revelaram um problema para pais e educadores: o uso sem controle de programas de mensagens instantâneas (MSN) e de sites de relacionamento.
A reportagem esteve, na última quarta-feira (12/11), diante de uma turma do 3º ano do ensino fundamental de uma escola pública do Plano Piloto ; a mesma da menina de 11 anos assediada por mensagem. Dos 33 alunos entre 8 e 12 anos, mais de um terço admitiu manter perfis no Orkut. Alguns com o consentimento dos pais. Outros em segredo, por pressão dos coleguinhas. Um dos garotos mais comportados da sala, por exemplo, contou como faz para acessá-lo. ;Minha mãe não deixa. Por isso, quando ela pede para comprar pão, pego mais dinheiro e vou numa lan house;, explicou.
Alguns colegas o copiam. Se não entram no site em lojas de jogos em rede, navegam nas casas de amigos que têm permissão dos pais para visitar qualquer endereço eletrônico. Até criam mais de um perfil para despistar os pais. As turmas do colégio acabam interligadas pelo Orkut, entre fóruns de discussão, trocas de fotos e enquetes virtuais. ;A turma da 3ª série autoriza no Orkut os coleguinhas da 4ª e da 5ª e não pára mais. Em pouco tempo, o site domina as conversas na escola;, contou uma professora de 46 anos, há 23 como educadora.
A exposição dos alunos aos perigos na internet ; um deles foi chamado para um encontro na Rodoviária ; fez com que ela criasse um perfil para acompanhar a garotada. Descobriu que, no Orkut, usam apelidos, trocam os nomes e mentem a idade. O susto a obrigou a conversar com três pais. Alguns ignoravam que os filhos entravam no site. Ou insistiram que a criança nem mesmo sabia mexer na internet.
Leia a matéria completa na edição impressa deste domingo do Correio Braziliense.