postado em 19/11/2008 07:37
Quarta-feira, 12h15. O sinal toca e avisa às crianças que é hora de ir para casa. Muitos pais já esperam os filhos e uma fila de carros se forma nos arredores da escola. Mas há aqueles que vão embora a pé ou caminham até a parada de ônibus e se arriscam entre os carros para atravessar a movimentada Avenida W3 Norte. Em frente ao colégio da Quadra 702, não há faixa de pedestres pintada. No entanto, há um semáforo em cada uma das esquinas da quadra. Mesmo assim, os meninos e meninas preferem não esperar o sinal fechar para passar com segurança. Basta um intervalo pequeno entre os carros para os garotos correrem em direção ao outro lado da rua.
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Atravessando entre os veículos, as crianças ignoram um risco iminente. Acidentes de trânsito são as principais causas de morte de meninas e meninos de até 14 anos no Brasil e os atropelamentos respondem pela metade delas. Um estudo do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) aponta que 201 crianças até 12 anos morreram e pelo menos 5,3 mil ficaram feridas em acidentes nos últimos oito anos no Distrito Federal. Os registros mais recentes ; de 2007 e de janeiro a junho de 2008 ; mostram que, das 35 crianças mortas, 17 foram atropeladas (48% do total). Além disso, os atropelamentos deixaram 333 crianças feridas no ano passado.
Números do Departamento de Trânsito do DF (Detran) referendam os do Denatran. As crianças aparecem separadas nas estatísticas até os 9 anos. De 2001 a julho de 2008, 155 morreram em acidentes e 82 delas (52%) foram atropeladas. Os números estão em queda ; caíram de 15 em 2001 para sete no ano passado. Mas vidas ainda são ceifadas pela violência no trânsito. No último dia 29, por exemplo, Luciele da Conceição Carlos, 12 anos, morreu ao ser atropelada enquanto tentava atravessar a W3 Norte pela frente de um ônibus (leia Memória). Assim como os garotos flagrados pela reportagem, ela saía da escola e ia para casa.
A pesquisa do Denatran inclui 12 estados brasileiros, além do DF. O levantamento mostrou que, entre 2000 e 2008, pelo menos 180 mil crianças ficaram machucadas e 8.029 delas morreram no trânsito brasileiro. As vítimas de até 12 anos representam cerca de 4,5% do total de mortos. Mesmo assim, as autoridades estão preocupadas. No último Dia das Crianças, o Denatran lançou a campanha ;Ajude a salvar nossas crianças. Cuide delas no trânsito;, que é veiculada em jornais, rádios e emissoras de TV de todo o país.
Educação
Personagens infantis, como a Branca de Neve, o Lobo Mau e a Chapeuzinho Vermelho, protagonizam a campanha. ;As crianças são as pessoas mais frágeis no trânsito, elas não sabem se defender sozinhas. Por isso, a campanha também é para os pais. Eles têm que ensinar os meninos a atravessar na faixa, olhar para os dois lados, entender a sinalização, o que também deve ser aprendido na escola;, afirma o presidente do órgão, Alfredo Peres da Silva.
A ONG Criança Segura realizou um levantamento sobre as causas de mortes das crianças. Utilizando dados do Ministério da Saúde de 2000 a 2005, os pesquisadores concluíram que 6 mil crianças de 1 a 14 anos morrem todos os anos no Brasil vítimas de acidentes como afogamento, envenenamento e de trânsito. Um total de 40% das mortes é ocasionado por batidas e atropelamentos e cerca de 1,2 mil meninos e meninas morrem depois de serem atropelados anualmente.
De acordo com a coordenadora de políticas públicas da ONG, Luíza Batista, a criança só está pronta para enfrentar o trânsito sozinha entre 10 e 12 anos. Antes disso, segundo Luíza, o aparelho psicomotor não está totalmente desenvolvido. Assim, o garoto ou garota não tem percepção de velocidade ou distância. ;O nosso ângulo periférico, que nos faz ver em 180 graus, vai crescendo aos poucos. Por isso, a criança só enxerga o que está à frente dela. Vê o carro e acha que ele também a viu, escuta uma buzina e não sabe ao certo de onde vem. Sem contar que meninos e meninas já são impetuosos por natureza;, explica.
Os pais também devem dar bom exemplo. Enquanto o Correio circulava pela cidade para fotografar crianças se arriscando no trânsito, flagrou dois meninos atravessando a W3, uma na altura da 502 Norte e outra na 506 Sul, acompanhados do pai e da mãe. Mesmo assim, eles passavam fora da faixa ou sem esperar o semáforo fechar. Também é comum ver meninos de 8 anos, no máximo, andar com os irmãos mais novos na rua. ;Isso é completamente inadequado. Nenhum deles está pronto;, afirma Luiza Batista.
ATINGIDO POR UM ÔNIBUS
Um garoto de 14 anos atropelado por um ônibus na tarde de ontem corre risco de perder a vida, de acordo com o Hospital de Base do DF, onde o adolescente está internado. Segundo a polícia, Cleiton Rodrigues do Nascimento saía de uma lan house no Conjunto 9 da QR 315 de Samambaia quando foi atingido por um coletivo da Viplan, às 14h30.
Memória
28 de outubro de 2008
Luciele da Conceição Carlos, 12 anos, tentava atravessar a W3 Norte, na altura da Quadra 506, quando foi atingida por uma Parati placa JEV 9877-DF. A menina atravessou na frente de um ônibus que estava na parada. Não deu tempo de ver o carro que vinha na faixa do meio. O sinal estava verde para os motoristas. E Luciele estava a menos de 50m do semáforo. Ela foi levada para o Hospital de Base do DF com traumatismo craniano e morreu no local.
8 de outubro de 2008
Letícia Rodrigues, 12, estava em cima da calçada da avenida principal de Samambaia, em frente à Quadra 410, quando foi atropelada pelo Chevette GPU 6877. O jovem que causou a morte da menina, Raul Alexandre Costa, 19, confessou aos policiais que não tinha habilitação e que havia pego o carro sem autorização do dono, Fábio Batista, vizinho dele. O rapaz fugiu do local do acidente. Segundo ele, por medo de ser linchado.
20 de maio de 2008
Um atropelamento próximo à Estrutural tirou a vida de Breno Crispim Lélis, 5 anos. Ele e o irmão, Lamon Crispim, 17, foram atropelados pelo caminhão BQZ 4814- DF, usado para depositar lixo no aterro sanitário. Segundo o motorista do veículo, Reginaldo da Silva, 35, o adolescente e a criança estavam de bicicleta e desceram de um barranco invadindo a pista repentinamente.
6 de julho de 2007
Carlos Botelho, 5, morreu atropelado por um ônibus no terminal do Setor O, em Ceilândia. O menino aguardava o transporte gratuito com o irmão mais velho para voltar para casa, no Condomínio Privê. Carlos acabou atingido por um coletivo da Viação Cidade Brasília, guiado por José Carlos Pereira. O motorista deu marcha a ré para estacionar o veículo.
17 de janeiro de 2006
A menina Mercedes Elizabeth Hay, 5, foi atropelada na porta de casa, na QI 3 do Lago Norte. Ela andava de bicicleta quando um caminhão caçamba da Fercom a atingiu pelas costas. O motorista Elizeu Caetano de Faria Júnior e o auxiliar Cléber dos Santos Araújo Mendes deveriam entregar cimento na penúltima casa do Conjunto 6 da QI 3. Na manobra em marcha a ré, o veículo bateu na menina.